COP21: Do compromisso à Ação - Por Pedro Mizutani
Serão necessários investimentos da ordem de USD$ 40 bilhões em todo o setor sucroenergético
Por Pedro Mizutani, vice-presidente de Relações Externas e Estratégia da Raízen.
Agora que o compromisso apresentado pelo governo brasileiro na COP21, em novembro do ano passado, foi ratificado na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, é hora de colocar em prática as estratégias para a diminuição das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) no país e bater as metas acordadas.
O Brasil é um dos países-chave no atingimento do compromisso principal do chamado Acordo de Paris, de limitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais. Por ser uma das economias em desenvolvimento que mais emitem GEE e por ter ampla matriz industrial, é também um dos participantes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que adotaram metas voluntárias mais agressivas.
As metas individuais para cada país (INDCs) assumidas pelo Brasil são agressivas: tendo sempre o ano de 2005 como base, as metas são de reduzir as emissões de GEE em 37% até 2025 e em 43% até 2030. Tais valores significam não apenas uma restrição a que cada setor econômico, e mesmo os cidadãos, devem se submeter, mas sobretudo uma mudança constante e duradoura para uma economia de baixo carbono.
A economia global hoje é calcada em energia advinda da queima de combustíveis fósseis, entre eles petróleo e seus derivados (gasolina, diesel, nafta, etc), carvão mineral e gás natural. Todos poluidores. Os esforços internacionais vão no sentido de substituir gradativamente essa matriz energética poluente, que além de danos de médio e longo prazos ao meio ambiente provoca impactos imediatos na população, como doenças respiratórias, por uma matriz mais limpa. Hoje, somente 13% da matriz energética mundial é de energia renovável. Parcela que cai a 9% quando considerados os 34 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os mais industrializados.
E o Brasil? Nesse sentido o Brasil já está em vantagem, uma vez que tem 41,2% de energia renovável em sua matriz, de acordo com dados recentes do Ministério de Minas e Energia. Estão nessa conta hidroeletricidade (11,3%), energias solar e eólica (4,7%) e derivados da cana-de-açúcar (16,9% do total e 40% entre as renováveis), que compreendem etanol e energia elétrica gerada a partir da biomassa da cana. Ou seja, a cana é a principal fonte de energia renovável no Brasil.
Assim, fica claro o papel preponderante que a cana-de-açúcar tem no alcance das metas assumidas. E é por isso que um dos pontos mais importantes do plano brasileiro prevê que a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional deverá atingir 18%, o que, para o caso do etanol, significará saltar de uma produção de 28 bilhões de litros por ano para 50 bilhões de litros anuais nos próximos anos.
Não é tarefa fácil. Cálculos da União da Indústria da Cana-de-açúcar (UNICA) indicam que para isso serão necessários investimentos da ordem de USD$ 40 bilhões em todo o setor sucroenergético. Para que se possa atrair tamanho volume de investimentos, são fundamentais políticas públicas de longo prazo e um ambiente regulatório saudável. Lembrando que não basta aumentar somente a produção de etanol, é necessário também impulsionar o consumo de etanol, combustível que, entre outras vantagens, é mais limpo do que a gasolina.
Ademais, o Brasil é pioneiro no etanol de segunda geração, exemplo de inovação e eficiência no uso de recursos naturais. Ele permite o aumento de 40% a 50% da produção de etanol com a mesma área plantada, quebrando assim um paradigma da produção de açúcar e etanol. O produto possui exatamente a mesma composição química que o etanol de primeira geração, mas é gerado a partir do bagaço, folhas, cascas e outros resíduos da produção de cana-de-açúcar.
Temos uma oportunidade única, que requer um trabalho de planejamento conjunto dos setores público e privado, que demandará comprometimento e investimento, e que trará benefícios à economia, ao clima e também à sociedade. Além de influenciar os países a uma adoção mais rápida dos biocombustíveis, e por meio do E2G, acelerar a transformação do etanol em uma commodity ambiental internacional. O setor sucroenergético pode, sim, impulsionar o Brasil para se tornar referência internacional em sustentabilidade e energias renováveis.