Crédito rural no Brasil: uma breve história de amadurecimento - Por Bernardo Fabiani

Crédito rural no Brasil: uma breve história de amadurecimento - Por Bernardo Fabiani

Embora diversas atividades econômicas sejam intensivas em capital, poucas têm uma cadeia de valor tão extensa, complexa e opaca como a agricultura, iniciando-se no exterior com a produção da maior parcela de defensivos e fertilizantes - hoje, mais de 70% desses insumos são importados - e acabando no consumo interno ou, em grande parte, com a exportação da produção.

Se hoje esse motor da economia funciona bem-afinado e representa um salvo-conduto econômico para o País em cenários adversos devido à sua competitividade internacional e baixa correlação com setores como indústria e consumo internos, pode-se acabar negligenciando o milagre - ou, mais apropriadamente, o projeto e execução incríveis de um projeto de Estado - que permitiu a criação e sustentação dessa cadeia produtiva. Esse motor, hoje bem-afinado, teve de um dia ser projetado e ter sua primeira rotação.

A saída da inércia é mais custosa do que a manutenção do movimento. Embora pesquisa e extensão públicas - por meio da Embrapa e da Embrater - tenham permitido que lavouras em solos tropicais fossem viáveis economicamente em regime estacionário, o investimento necessário para que essas primeiras rotações do motor fossem feitas seria proibitivo para iniciativa privada.

Não coincidentemente, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) foi criado em 1965 para sustentar a expansão - tanto em área quanto em produtividade - da agricultura brasileira. Com subsídios reduzindo o custo do crédito de forma compatível com o risco da atividade e a tecnologia desenvolvida para agricultura tropical, nossos pioneiros puderam constituir suas lavouras - nossas primeiras rotações do motor, a partir da inércia - e aumentar sua produtividade ao longo do tempo - o motor gira mais rápido, com um eixo melhor alinhado.

* Bernardo Fabiani, CEO da startup TerraMagna

 

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