Crise energética na Europa pode impulsionar etanol

Crise energética na Europa pode impulsionar etanol

A invasão russa à Ucrânia e as consequentes sanções impostas pelo ocidente a Moscou levaram a Europa a uma crise energética sem precedentes nas últimas décadas, obrigando muitos países a retomar o uso do carvão para a geração de energia de forma emergencial.

Se por um lado o cenário atual causou um retrocesso ambiental, por outro mostra-se uma oportunidade única para a difusão dos biocombustíveis, em especial o etanol, em todo o mundo.

O assunto foi tratado a fundo no seminário “Etanol: solução para o emprego, energia e meio ambiente”, encontro virtual realizado pela Editora Globo com patrocínio do Movimento Mobilidade Sustentável e da Volkswagen, que contou com alguns dos maiores especialistas da área no Brasil — o evento está disponível na íntegra no canal do YouTube do jornal Valor Econômico.

“A guerra na Ucrânia causou uma grande desarticulação do mercado de energia e mostrou a vulnerabilidade de alguns países, com impacto em todo o mundo. Hoje existe uma grande preocupação com a segurança energética, não apenas com os preços, mas também com o acesso aos combustíveis”, afirmou Alex Giacomelli, diretor do Departamento Energia do Ministério das Relações Exteriores, destacando que é natural que, neste primeiro momento, os países estejam mais preocupados com a segurança energética do que coma sustentabilidade.

De acordo com o especialista, porém, a situação atual forçará a adoção de novas tecnologias que permitam a redução da dependência dos combustíveis fósseis em um futuro não muito distante. “Essa crise nos dá uma lição. Essa lição é que será preciso diversificar, ampliando as matrizes renováveis. Nesse contexto, o etanol poderá ter um papel significativo, não apenas para o Brasil, mas para o mundo.”

Também presente ao evento, Luiz Horta, professor da Universidade Federal de Itajubá e pesquisador do núcleo interdisciplinar de planejamento energético da Unicamp, lembrou das dificuldades de se substituir todo um sistema energético baseado no gás natural e no carvão, mas acredita que a diversificação energética deve se tornar uma prioridade nos países europeus no médio prazo.

“Esse médio prazo pode ser até mais curto do que a gente imagina e isso abre uma grande oportunidade, para o Brasil, de oferecer um combustível limpo, renovável e competitivo em termos de preço”, disse o especialista, ressaltando que a expansão dos biocombustíveis pode se mostrar uma oportunidade também para outros países em desenvolvimento.

De acordo com o deputado federal Arnaldo Jardim, presidente da Frente Parlamentar Mista pela Valorização do Setor Sucroenergético na Câmara, cerca de 70 países já possuem algum tipo de norma para a adição de etanol à gasolina. Segundo ele, a crise na Ucrânia pode acelerar a adoção em larga escala do etanol e de outras tecnologias derivadas, como a célula-combustível, pelos países desenvolvidos.

“Muitos defendem a revisão das cadeias de suprimentos, que poderia levar a uma ‘desglobalização’. Eu não chego a tanto, mas não há dúvida de que os países buscarão uma maior autonomia energética. E o etanol tem essa característica, de ser mais descentralizado, de poder ser produzido também a partir do milho”, afirmou Jardim.

SAÚDE EM FOCO

Outro ponto importante levantado no evento foi a questão dos impactos dos combustíveis fósseis na saúde humana e no futuro das cidades. Professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Paulo Saldiva usou o exemplo do cigarro para pedir um olhar mais amplo sobre a avaliação dos custos da transição energética.

“A discussão sobre o etanol sempre foi muito ligada ao custo na bomba. Seria como dizer que os impactos do cigarro terminassem no ponto de venda. E o que acontece depois?”, questionou. “Os impactos dos gases de efeito estufa na saúde humana, tanto em termos de custos diretos, como pagar os tratamentos, quanto em produtividade, por mortes prematuras, não são computados na política de combustíveis.”

Na opinião de Saldiva, a avaliação dos custos da redução das emissões nos transportes por meio da mudança da matriz energética deveria incorporar os gastos públicos com a saúde decorrentes da poluição, que consomem bilhões de dólares em todo o mundo todos os anos.

 

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