CTC eleva lucro e testa semente sintética de cana com usinas em 2023

CTC eleva lucro e testa com usinas "sementes" de cana em 2023

O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) aumentou seu lucro trimestral em mais de 50%, com uma melhora do preço das variedades que oferecem uma lavoura mais produtiva, em um ano em que dará passos importantes para colocar no mercado sua tecnologia de “sementes” de cana.

O CTC realiza em 2023 uma experimentação em campo com algumas usinas para checar a performance da semente criada em laboratório, cujo resultado deverá definir o cronograma para lançamento comercial do sistema que promete substituir o plantio por colmos (caules da cana), aumentando a produtividade e reduzindo custos.

Ao mesmo tempo, a empresa de biotecnologia e genética aplicada da cana avalia opções para fortalecer o financiamento do “revolucionário” projeto, o que poderia incluir uma eventual oferta subsequente de ações no futuro.

“Os resultados que a gente vai obter ao longo dessa safra (com as sementes de cana) vão ser muito relevantes para que possamos pensar em um plano comercial. Nossa visão é que em dois a três anos possamos começar comercialmente”, disse a CFO da companhia, Denise Francisco.

Em entrevista à Reuters, a executiva destacou que a nova tecnologia é guardada a “sete chaves”, pois o empreendimento tende a mudar até mesmo o próprio CTC, considerando que a cana naturalmente não tem uma semente como outros produtos agrícolas, sendo plantada com a utilização dos colmos.

“Será um novo CTC; é um novo negócio. É um projeto que traz ganhos não só com o sistema de plantio – isso já traz benefícios –, mas a gente renovará a lavoura mais rápido, então você vai ter mais produtividade”, disse ela.

Um canavial mais jovem geralmente é muito mais produtivo do que aqueles com cana com vários cortes, que produzem por diversas safras a partir da raiz que resta após uma colheita, sem um efetivo replantio.

O CTC tem presença confirmada na Conferência NovaCana 2023. O diretor de pesquisa e desenvolvimento Suileiman Hassuani será um dos palestrantes do painel "Revolução tecnológica no campo". O evento, que acontece em São Paulo (SP) nos dias 4 e 5 de setembro, já está com as inscrições abertas. Para ver a programação completa, clique aqui.

A executiva disse que o novo manejo de plantio ainda poderá ser feito com máquinas mais leves, que consumirão menos diesel. Além disso, a fitossanidade das lavouras será maior, já que as “sementes” do CTC não carregarão doenças que hoje estão presentes nos colmos utilizados para o replantio.

“Muda completamente. A gente enquadra isso como um novo manejo para o setor poder encurtar o ciclo de produção, ter um canavial mais jovem, plantar variedades com uma genética melhor e ganhar eficiência”, disse a executiva.

O projeto prevê que as sementes sintéticas estarão disponíveis para todas as variedades de cana do portfólio do CTC, incluindo as transgênicas.

O CTC, que conta com variedades resistentes à broca, já com aprovações de mercados como a China, projeta paralelamente novos lançamentos de transgênicos nos próximos anos.

A área da cultura geneticamente modificada no Brasil é estimada em cerca de 80 mil hectares na temporada 2023/24, segundo dados do CTC, ainda relativamente pequena perto dos canaviais convencionais, que somam mais de 8 milhões de hectares no país. Mas a lavoura geneticamente alterada deve saltar 14% na safra atual, para até 80 mil hectares, disse Denise Francisco.

Esse crescimento provavelmente ganhará maior tração nos próximos anos também porque o CTC projeta entre quatro a cinco lançamentos de transgênicos nos próximos cinco anos.

Levando em conta as variedades convencionais, a executiva afirmou que serão cerca de 14 lançamentos nos próximos três anos, lembrando que os novos produtos têm pelo menos 10% a mais de produtividade de açúcar por hectare do que o visto no mercado.

Finanças

Considerando que a ideia é de que a semente de cana atinja todo o Brasil, a CFO não descarta que a empresa vá a mercado para financiar o crescimento. “Qualquer rota que traga acesso pra gente financiar o nosso crescimento com recursos adequados é uma possibilidade, sim”, disse. Ela explicou que o projeto das sementes “será bastante relevante”.

A companhia, que tem entre seus principais acionistas grandes grupos como Copersucar, Raízen e São Martinho, além do BNDESPar, aguarda o melhor momento para avaliar tais iniciativas, a despeito dos recentes “follow on” bem-sucedidos, com maior presença de investidores estrangeiros, acrescentou.

A executiva não estimou a demanda de investimentos do projeto de sementes, comentando somente que nos últimos dez anos o CTC investiu ao todo R$ 1,3 bilhão e projeta R$ 180 milhões para 2023.

A companhia encerrou o primeiro trimestre da safra 2023/24 com “posição financeira robusta”, com caixa de R$ 312 milhões, além de um aumento na receita líquida de 11,8% em relação ao mesmo período do ciclo anterior, para R$ 87,26 milhões. O lucro líquido somou R$ 33 milhões (+53%) e o Ebitda, R$ 44 milhões (+42,2%).

 

Reuters