Desafios e oportunidades na transição energética - Por Werner Roger

Desafios e oportunidades na transição energética - Por Werner Roger

A preocupação crescente com as mudanças climáticas impulsiona a busca por soluções mais sustentáveis em diversos setores da economia, e o de transportes vem ganhando a atenção de grandes setores da sociedade. Nos últimos anos, veículos movidos a combustão foram retratados como os grandes vilões do meio ambiente.

Esse movimento levou políticos a adotarem diversas medidas e incluírem metas ousadas para a redução da emissão de CO2 na atmosfera. Em agosto de 2021, o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que metade dos veículos vendidos nos Estados Unidos deveriam ser elétricos até 2030.

O objetivo deste artigo não é o de sugerir que os carros elétricos deixarão de ganhar representatividade nas próximas décadas. Carros elétricos são – e serão - muito úteis em determinadas situações e regiões, mas, em nossa opinião, coexistirão com veículos movidos a combustão, especialmente os pesados, comerciais e off road, que enfrentam desafios ainda mais complexos que os veículos leves.

E aqui entra um ponto importante. Há alternativas menos poluentes aos motores a combustão, além dos veículos elétricos?

A vocação do Brasil para o uso de biocombustíveis vem se provando concreta. Essa alternativa traz mais eficiência do ponto de vista ambiental e tornará os veículos economicamente mais viáveis que os elétricos, especialmente na descarbonização, mas também em preços, manutenção, vida útil, mercado secundário e produção local. E não apenas em montagem local, com todos os componentes de maior valor agregado sendo importados, como ocorre atualmente com os elétricos.

A mudança para um futuro dominado por veículos elétricos parecia ser uma escolha acertada. Foi só olhar mais de perto, claro, que as coisas começaram a não parecer tão perfeitas assim. A começar pelas dificuldades de cunho ambiental e social. Temos a questão dos subsídios, por exemplo, que vão beneficiar uma pequena faixa da população. Mesmo com subsídio, o carro elétrico ainda está longe de ser acessível, ao custo de fazer a sociedade como um todo pagar. A fatia sem condições econômicas para comprar um Tesla (NASDAQ:TSLA) terá que contribuir com seu próprio bolso para a produção destes veículos.

Ao avaliarmos a sustentabilidade dos carros elétricos, é crucial adotar uma perspectiva mais ampla, na metodologia “do berço ao túmulo”. O veículo tem um “ciclo de vida” com variados estágios: envolve, por exemplo, extração de matérias-primas (isso bem lá no princípio), passa por produção, uso e, no estágio final, o descarte.

A produção em massa de baterias de íon de lítio impõe desafios ambientais próprios. Uma bateria típica de veículos elétricos pesa cerca de 450 kg. Contém cerca de 11 kg de lítio; 27 kg de níquel; 44 kg de manganês; 20 kg de cobalto; 90 kg de cobre; e 180 kg de alumínio, aço e plástico.

Outro ponto relevante se refere a matriz energética. De onde vem a energia para recarregar as baterias dos veículos? Em muitos países, a eletricidade ainda é gerada principalmente com fontes não renováveis como carvão e gás natural.

A transição bem-sucedida para veículos elétricos exige investimentos em fontes de energia limpas e sustentáveis. Isso inclui a expansão em energias renováveis e a implementação de tecnologias de armazenamento. A grande questão é que isso significa, em geral, volumes de capital que excedem as capacidades dos cofres públicos.

Existem ainda outros pontos relevantes como a infraestrutura de recarga, autonomia e o já mencionado obstáculo para veículos pesados e off road.

Onde está o Brasil nessa transição energética? Aqui, a preferência por veículos híbridos a combustão ou até mesmo por biocombustíveis puros parece ainda mais óbvia. Com sua vasta extensão territorial e condições climáticas favoráveis, o país se destaca como líder na produção de biocombustíveis, oferecendo cenário propício para uma transição bem-sucedida rumo a uma menor emissão de partículas na atmosfera.

O etanol é um excelente exemplo. Frequentemente derivado do cultivo de cana-de-açúcar ou milho, é produzido em grande escala. O processo de fabricação é altamente eficiente e resulta em uma notável redução das emissões de gases de efeito estufa ante os combustíveis fósseis (uma vez que absorve carbono da atmosfera). Outro ótimo exemplo é o biodiesel: principalmente derivado do óleo de soja, tem papel significativo na matriz energética brasileira.

Mas o biometano merece um comentário à parte. Já uma realidade no Brasil, o biometano é produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos e, além de ser uma fonte renovável, contribui para a gestão eficiente de resíduos. Como subproduto, gera fertilizantes orgânicos ou biominerais que podem substituir fertilizantes químicos e derivados do petróleo.

A eletrificação de veículos, embora seja solução promissora para reduzir emissões de gases de efeito estufa e diminuir a dependência de combustíveis fósseis, impõe uma série de desafios significativos. Adotá-la em massa será muito mais complexo do que se possa ter esperado. É provável que a evolução tecnológica venha a permitir avanços nos carros elétricos, especialmente nas baterias.

Até aqui, no entanto, a transição tem sido atabalhoada, mais preocupada com a mensagem de que o carro elétrico poderia substituir o veículo convencional do que em fazer um carro elétrico realmente atrativo. Em alguns casos os veículos elétricos serão, de fato, uma boa solução ou alternativa, não há como negar, ainda mais falando de logística dentro das cidades para os comerciais e de veículos leves para curtas distâncias. Mas, mesmo nesses casos, biocombustíveis sempre poderão ser uma alternativa mais econômica e ambientalmente amigável.

*Werner Roger - É formado em Engenharia Agrônoma pela Unesp. Chefe de investimentos (CIO) e sócio-fundador da Trígono Capital, Werner Roger iniciou sua carreira no Chase Manhattan, em 1982. Atuou no segmento de crédito, M&A, proprietary equity e transações estruturadas.

 

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