Deu a louca nos analistas de mercado? - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Deu a louca nos analistas de mercado? - Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY teve um surpreendente desempenho nesta sexta-feira, encerrando a semana a 14.63 centavos de dólar por libra-peso, a cotação mais alta dos últimos 60 pregões (quase três meses). O que será que motivou essa alta? Será que vai sobrar menos açúcar do que os analistas estavam esperando (sim, estou sendo irônico aqui)? Ou será o cenário macro que fez com que as commodities dessem um salto nesta final de semana (café, açúcar e petróleo subiram bem)? Será que o mercado absorveu boa parte das rolagens de outubro para março feita pelas usinas e agora pode subir no vazio caso os fundos queiram tomar lucro? Muitas perguntas.

Um experiente profissional me manda uma mensagem acerca do mercado de açúcar dizendo que “depois de mais de 35 anos de carreira confesso que tudo que sei é que nada sei”. Sócrates certamente concordaria com ele.

O mercado de açúcar parece uma representação da antiga lenda grega em que a deusa Hera enviou a Esfinge (uma besta com cabeça de mulher, asas de um pássaro grande e corpo de leão) para atormentar os moradores da cidade de Tebas. Quem se aproximasse da cidade e cruzasse o caminho da Esfinge recebia um enigma para ser decifrado. Quem errasse era devorado pelo monstro. Um dia, Édipo cruzou com a besta, que lhe propôs o seguinte enigma: “O que durante a manhã tem quatro pernas, ao meio-dia tem duas e à noite tem três?” Édipo respondeu corretamente e a Esfinge ficou tão furiosa que se lançou num precipício e morreu.

Entre os enigmas que hoje poderiam ser propostos pela Esfinge estão, por exemplo: qual o verdadeiro superávit mundial? Quanto o Centro-Sul vai produzir de cana em 2018/2019? Como sabemos a produção da Índia com três casas decimais depois da virgula? Qual vai ser o mix no Brasil da 2018/2019? A Petrobras vai manter a política de transparência na formação de preços dos combustíveis? O que vai acontecer com o petróleo em 2018? Acima de 60 dólares por barril? Abaixo de 45 dólares por barril? Quem será o Presidente do Brasil em 2019? (Dependendo de quem for é preferível ser devorado pela besta, não o candidato, no caso, a Esfinge).

Nestas duas últimas semanas houve uma profusão de análises sobre o mercado vindas de todas as direções. Algumas altistas, outras baixistas, que por um momento, você leitor, que teve acesso a algumas delas se pergunta se deu a louca nos analistas. Previsões de moagem de cana que vão de 560 a 630 milhões de toneladas de cana. Superávit de 3 a 8 milhões de tonelada de açúcar. Previsão de preço para 10 ou 16 centavos de dólar por libra-peso.

Numa dessas análises, que devo confessar não tive acesso, mas que um cliente mandou apenas uma frase dizia “para as usinas em condição ruim é melhor vender açúcar do que etanol porque a Petrobras não paga mais etanol à vista”. De onde será que veio essa informação? Da boca da Esfinge, talvez? Bem, o problema é o que a usina pode fazer com essa informação se acredita nela....

Todos nós precisamos de informações para a tomada de decisão. Dentro das empresas elas são o carvão bruto que queremos transformar em diamante. Precisamos de informação de qualidade. Vou dar um exemplo. Esta semana um analista que respeito muito, Phil Passen, disse em seu comentário diário “uma razão pela qual achamos que o açúcar está prestes a romper para uma alta é que a posição vendida dos comerciais (leia-se tradings) é a mais baixa vista nos últimos 5 anos.” E continua: “quanto menos vendidos estão os comerciais, maior a tentativa de uma subida vigorosa nos preços (rally)”. Bingo! Uma frase simples pinçada no meio do relatório que pode ter valido a semana para muitos traders e muitas usinas. E tenho certeza que valeu.

Bem, e agora? E a semana que vem? E o mês que vem? O açúcar deu uma melhorada, mas nada definitivo. O preço médio dos fechamentos diários de outubro está em 14.18 centavos de dólar por libra-peso, 25 pontos melhor do que a média de setembro, mas ainda bem abaixo do que previa nosso modelo (alta de 10%). Novembro vai mostrar, usando a frase de um dos dinossauros desse mercado, “quem está pelado depois que a água da piscina baixar”. Vamos ter uma melhor ideia de quanto vai chegar a produção (muitas usinas terminam a moagem em novembro). O preço do anidro e hidratado ainda é remunerador. O petróleo está subindo e o real está se desvalorizando (na sexta-feira bateu 3,3000). Isso vai subir o preço da gasolina e melhorar a arbitragem do etanol com o açúcar.

As usinas devem ficar muito atentas aos espasmos que o dólar está sofrendo e aproveitar e fazer NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) melhorando a fixação da safra 2018/2019. Também o maçarico teleguiado vai perseguir os fundos (vendidos em 110,000 lotes) que podem recomprar suas posições vendidas e embolsar os lucros. Pode ser que esse último bimestre seja mais interessante do que se supunha.

Ou deciframos a charada ou seremos devorado pelo monstro.

Em tempo: a resposta correta que Édipo deu à Esfinge é: “o ser humano”