Duros golpes – Editorial Folha de S.Paulo
Dilma sofre forte desgaste ao longo da semana, e situação do PT se complica ainda mais com desdobramentos do escândalo da Petrobras.
Os papeis da Petrobras se valorizaram mais de 20% na Bolsa desde a sexta-feira da semana passada, quando haviam atingido seu menor preço em 11 anos. Ainda assim, o governo federal, principal acionista da empresa, não teve nenhum motivo para comemorar.
Na terça-feira (3), a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu as cartas de renúncia de diretores da estatal. Precisando de tempo para encontrar substitutos, combinou com Graça Foster, chefe da Petrobras, que o grupo sairia no final deste mês, após a publicação do montante desviado por corrupção.
Menos de 24 horas depois do acerto, contudo, cinco dos sete diretores rejeitaram o cronograma, e a troca no comando da empresa será confirmada nesta sexta-feira (6).
Se se tratasse de uma estatal qualquer, já seria uma situação indigesta para Dilma; estando em jogo o futuro da maior companhia do país, a abdicação coletiva representou um duríssimo golpe contra a petista. E era só o primeiro.
Na própria quarta-feira (4), 182 deputados federais preencheram requerimento para a abertura de nova Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o escândalo da Petrobras. Prostrado, o Planalto viu o número mínimo de assinaturas (171) ser ultrapassado com a ajuda de 52 parlamentares governistas.
Por dever de ofício e provável satisfação pessoal, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criou a CPI no dia seguinte. Sua instalação, porém, deve ficar para depois do Carnaval, quando serão indicados seus integrantes.
Com alguma razão, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) lembrou que as CPIs perderam o protagonismo que tiveram no passado --mas talvez tenha se esquecido de que a base de Dilma no Congresso mostra-se a cada dia mais alheia aos interesses do PT.
Seja como for, Vargas também observou que, atualmente, ganharam destaque os órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público. De fato.
Soube-se nesta quinta-feira (5), por exemplo, que Pedro José Barusco Filho, ex-gerente da Petrobras, estima que o PT tenha recebido até US$ 200 milhões, de 2003 a 2013, a título de propina em contratos da estatal. O cálculo consta de depoimento prestado em novembro, fruto de acordo de delação premiada feito com procuradores.
Em seu testemunho, Barusco dá detalhes precisos sobre o esquema, incluindo a participação de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT já citado por outros delatores.
Não é pouco sendo esta somente a primeira semana de trabalho do Judiciário e do Legislativo em 2015. Prestes a completar 35 anos, o Partido dos Trabalhadores tem poucos motivos para comemorar