Embrapa vai desenvolver trigo e triticale para usina de etanol

Embrapa vai desenvolver trigo e triticale para usina de etanol

Acordo assinado no Fórum do Trigo visa futura parceria com a BSBIOS, que vai instalar unidade processadora de cereais em 2024

A BSBIOS, empresa gaúcha de bioenergia, e a Embrapa Trigo firmaram nesta terça-feira (28/6), em Brasília (DF) um acordo de intenções de um compromisso técnico, visando o desenvolvimento de cultivares de trigo e triticale para a produção de etanol na fábrica da empresa, que deve começar a operar no segundo semestre de 2024 em Passo Fundo (RS).

O acordo ainda não significa uma parceria, como a que foi assinada neste mês entre a BSBIOS e a Biotrigo, que já desenvolveu duas cultivares para a produção do combustível. As variedades aguardam registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O documento firmado agora possibilita o desenvolvimento de ações entre Embrapa e BSBIOS para auxiliar diretamente na ampliação das áreas de cultivo com trigo e triticale.

O acordo foi assinado pelo presidente da empresa de bioenergia, Erasmo Carlos Battistella, e pelo chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, durante o Fórum Nacional do Trigo que vai até quinta (30/6), na capital federal. O próximo passo no acordo, que ainda não tem data prevista, será a assinatura de um termo de cooperação técnica, segundo a BSBIOS.

Em nota, Lemainski disse que o produtor precisa obter renda com o trigo para produzi-lo em maior quantidade. “Novos mercados para os cereais de inverno, destinados à produção de etanol amiláceo, proporcionam a ele maior segurança para investir na triticultura com garantia de liquidez para os grãos.”

Para Battistella, a usina de etanol com base em cereais representa um novo mercado para os produtores de trigo e triticale. “Por isso, é fundamental o apoio da pesquisa para apoiar e guiar os produtores,” ressaltou, acrescentando que a iniciativa também vai representar um incremento na oferta de farelo ou DDG para as cadeias produtivas de proteínas animais.

A novidade no acordo com a Embrapa é o triticale. Segundo informou à Globo Rural Ricardo Lima, pesquisador da unidade que também fica em Passo Fundo, a empresa ajudou a escrever a política Pró-Etanol do Rio Grande do Sul em 2018, mas o uso do trigo, triticale e outros cereais para a fabricação do combustível entrou no radar com o anúncio da parceria entre a BSBIOS e a Biotrigo.

“Mais que o trigo, a aposta da Embrapa para a produção de etanol é o triticale, planta que exige menos investimento do que o trigo e se adapta melhor a solos pobres, com maior suscetibilidade à giberela”, diz Lima, se referindo à doença frequente em anos chuvosos na região sul, que reduz a produtividade da planta.

Ele destaca que não é necessária uma cultivar específica para fazer etanol, mas a pesquisa busca sempre melhorar a qualidade tecnológica para determinados usos. “A BSBios vai comprar o que estiver disponível no mercado de grãos. Obviamente, o maior teor de amido vai ser importante, mas isso está mais vinculado à espécie do que a cultivar.”

A Embrapa também pretende avaliar em suas cultivares já desenvolvidas a contaminação por micotoxinas resultantes da giberela. Se for comprovado um teor menor de contaminação no farelo DDG (Dried Distillers Grains ou Grãos Secos de Destilaria), subproduto da fabricação do etanol usado na ração de bovinos, os grãos em safras frustradas pela chuva poderão ser aproveitados para a produção do combustível, deixando o cereal de mais qualidade para a alimentação humana direta.

 

GLOBO RURAL