Empresas aéreas pedem subsídios para combustível sustentável de aviação

Empresas aéreas pedem subsídios para combustível sustentável de aviação

Um dos principais atores nas discussões em torno do projeto de lei do “Combustível do Futuro”, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) pediu ao governo federal incentivos financeiros diretos e tributários para que o setor adote o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e, assim, zere as emissões líquidas de carbono até 2050. A entidade também defendeu que o programa “Combustível do Futuro” traga segurança jurídica para garantir a produção de SAF em larga escala a “um preço competitivo e sem aumento de custos para as empresas”.

A proposta do projeto de lei do “Combustível do Futuro” é um dos focos legislativos do governo federal neste segundo semestre e integra o Plano de Transformação Ecológica (PTE). Além de regras para captura e estocagem de carbono, o texto estabelecerá metas para a mistura do etanol na gasolina - que tende a crescer até 30% - e regularizará o mercado de SAF. Todas as medidas devem reduzir a emissão de carbono no país.

De acordo com a Abear, que representa a Gol e a Latam, entre outras companhias envolvidas na indústria da aviação, os incentivos financeiros seriam destinados à pesquisa, à produção e ao consumo do SAF.

A Abear também sugeriu que a carga tributária do SAF seja zerada na etapa inicial da transição entre o combustível fóssil e o sustentável. As propostas da entidade se tornaram públicas nesta quinta-feira, 31, em um evento sobre transição energética no setor aéreo.

Os Estados Unidos já adotaram medidas semelhantes às sugeridas pela Abear. Lá, o governo estabeleceu um subsídio de US$ 1,25 por galão de SAF se o combustível reduzir a emissão de gases de efeito estufa em pelo menos 50%.

O SAF é um biocombustível que pode ser produzido a partir de óleos vegetais (de cana-de-açúcar, milho ou palma, por exemplo), gorduras animais (como sebo bovino) e até óleo de cozinha usado. Ele pode emitir de 60% a 80% menos carbono do que o querosene de aviação (QAV) usado hoje.

O Brasil é considerado um dos países que podem se beneficiar com o aumento da adoção de biocombustíveis em todo o mundo decorrente da necessidade de descarbonizar a economia e, assim, limitar o aquecimento global. Isso porque o Brasil desenvolveu expertise na área quando criou o etanol e tem grande oferta de matéria-prima, como resíduos de cana de açúcar. O país, porém, não produz hoje o combustível. Empresas que atuam na área afirmam que o marco regulatório é chave para destravar os investimentos em SAF.

“Hoje, o mercado não tem instrumentos que tragam regulação, classificação do novo combustível, garantias e incentivos. Esses instrumentos são necessários para estimular investimentos para a produção de SAF”, diz a presidente da Abear, Jurema Monteiro.

Apesar de apoiar a adoção do SAF, o setor aéreo teme um aumento de custos. Como é produzido sem escala, o combustível é caro. Segundo cálculos da consultoria Agroicone, o preço de produção do SAF pode ser o dobro ou o triplo do combustível tradicional. A diferença exata entre os valores varia de acordo com a cotação do petróleo.

Jurema Monteiro destaca que hoje o querosene de aviação já representa 40% dos custos totais do setor. “O Brasil é muito sensível a preço. Não temos produção de combustível sustentável no país. Não temos ideia de quanto vai custar. É importante que, na regulamentação da política, sejam criados incentivos para que o preço não imponha aumento de custos para o setor”, diz.

A executiva afirma que as companhias aéreas têm arcado com parte do custo da descarbonização do setor ao trocar aviões antigos por novos, menos poluentes e que também economizam combustível. “O setor absorve custos, mas o usuário também sente o impacto. Por isso é importante que haja regulamentação, para evitar o aumento excessivo de custos (ao consumidor)”, completa.

A Abear também se posicionou contra os mandatos de mistura, isto é, contra a obrigatoriedade de mescla de SAF ao combustível tradicional. Segundo Monteiro, os mandatos poderiam acabar pressionando o preço do produto.

“A gente já assumiu um compromisso público (para zerar as emissões de carbono). As empresas têm assumido compromissos individuais para a descarbonização. Entendemos que, se assumimos o compromisso, não há motivo para ter mandato”, afirma.

 

Estadão Conteúdo