Empresas pedem que Trump respeite Acordo de Paris - Maria Gama
Como vai se portar o segundo maior emissor de CO2 do mundo durante o governo Trump? A pergunta rondou a CoP 22, conferência da ONU para o Clima, realizada em Marrakesch, no Marrocos, que reuniu representantes de 200 países para discutir como colocar em prática o Acordo de Paris.
O Acordo de Paris foi assinado em 2015 por 193 países que se comprometeram a limitar o aquecimento global abaixo dos 2 graus C até o final do século. Para atingir esse objetivo, precisam cortar a emissão de CO2 em todas as frentes, o que inclui indústrias, agricultura, transportes e geração de energia. O texto também prevê um fundo anual de auxilío para que países em desenvolvimento invistam em energias limpas.
Há quatro anos, em novembro de 2012, Donald Trump tuitou que "o conceito de aquecimento global foi criado por e para os chineses para tornar a produção dos EUA não competitiva". Como presidente eleito dos Estados Unidos, ele nomeou para a Agência de Proteção Ambiental Myron Ebell, que em 2015 havia pedido que o Senado americano rejeitasse o Acordo de Paris.
Ebell já defendeu a ampliação de extração de madeira nas terras federais americanas e se opôs ao Plano de Energia Limpa assinado por Barack Obama, que taxou de plano de racionamento. Atuando num instituto conservador financiado, entre outras empresas, pela ExxonMobil, Ebell defende que Estados Unidos devem liberar a exploração do carvão, do petróleo e do gás para estimular o crescimento econômico e a criação de novos empregos.
O medo que os EUA abandonem o Acordo de Paris está mobilizando não só os ambientalistas. Uma carta aberta assinada por mais de 300 empresas, entre elas Hewlett Packard, DuPont, Nike, Unilever e Levi Strauss pede que Trump respeite os compromissos assumidos pelos EUA para combater as mudanças climáticas.
O argumento é que, diferentemente do que apregoa o discurso de Ebell, a economia de baixo carbono é promissora para os negócios e é o caminho para a prosperidade americana, podendo aumentar a competitividade dos EUA. A implementação do Acordo de Paris permitiria que empresas e investidores multiplicassem os investimentos de baixo carbono que o mundo precisa para "trazer energia limpa e prosperidade para todos", diz a carta.
Em artigo para o "Observatório do Clima", o secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Alfredo Sirkis, observa que os negócios da cadeia de energia limpa, como as usinas eólicas e as solares constituem grande força econômica geradora de emprego e negócios também em Estados governados pelos republicanos, como o Texas.
Segundo escreve Sirkis, a estratégia climática global precisará se impor como uma tendência da economia moderna. "A transição para a descarbonização será pela via econômica ou não será".
Maria Gama é jornalista.