Energia da biomassa pode contribuir para melhorar as condições de oferta de energia no curto prazo – Por Zilmar José de Souza

Energia da biomassa pode contribuir para melhorar as condições de oferta de energia no curto prazo – Por Zilmar José de Souza

Há possibilidade de geração adicional pela biomassa no curto prazo, tanto na safra quanto entressafra
O Leilão de Reserva (LER) que pretendia contratar energia de empreendimentos térmicos novos a gás natural, para suprimento a partir de janeiro de 2016, não apresentou propostas de venda de energia pelos investidores, mostrando a dificuldade natural de providenciar oferta nova para o Sistema Interligado Nacional (SIN) em prazo tão curto.
É louvável o esforço do Governo em tentar criar novos arranjos de contratação como foi o LER supracitado que seria o primeiro leilão regional desde que a Lei 10.848 foi editada em 2004. Isto porque a conexão das usinas vencedoras do referido Leilão deveria ocorrer no submercado Sudeste/Centro-Oeste, principal do país, responsável por 60% do consumo total de energia no SIN.
O Brasil é muito grande para basear a expansão da geração de energia em apenas uma ou duas fontes. Nesta linha, estamos observando uma evolução interessante no mundo da geração de energia a biomassa que talvez o setor elétrico não esteja acompanhando plenamente, a ponto de conseguir observar seu real potencial em prover novos projetos e energia no curto prazo.
Ao longo do ano de 2014, a bioeletricidade ofertada para o SIN apresentou um total de 20.801 GWh, representando um crescimento de quase 4 mil GWh (21%) em relação a 2013. Durante os meses de entressafra na Região Centro-Sul, de novembro de 2013 a março de 2014, em comparação com igual período na safra passada, o crescimento da oferta de bioeletricidade para o SIN foi ainda mais relevante, da ordem de 32%.
Parte representativa desse crescimento na geração se deveu ao cenário de preços elevados no mercado de curto prazo (inclusive do Preço de Liquidação de Diferenças - PLD), o que permitiu viabilizar oportunidades de geração adicional mais onerosa, como por exemplo, por meio da compra de biomassa de terceiros, além do aproveitamento da palha (“novo” combustível disponível com o fim das queimadas nos canaviais e ainda longe do pleno aproveitamento).
Ocorre que, ao final de 2014, com a redução em mais da metade do PLD máximo e a consequente redução do preço da energia no mercado de curto prazo, grande maioria das oportunidades de aquisição de biomassa complementar se tornou inviável. Biomassas como cavaco de madeira e palha da cana já vêm sendo utilizadas com resultados técnicos animadores, no entanto, muitas oportunidades vêm deixando de ser aproveitadas devido ao elevado custo dessas biomassas que, em grande parte, está associado ao transporte da biomassa complementar até as usinas, cujas distâncias podem ultrapassar 300 km.
O fato é que muitas usinas possuem potencial de geração adicional de energia, principalmente por meio de turbinas de condensação que permitem ofertar energia no período da entressafra sucroenergética. Recente pesquisa promovida pela UNICA com 105 usinas, que representam 43% da moagem de cana da Região Centro-Sul, identificou que 57 dessas usinas (54% da amostra) possuem turbinas de condensação, num total de 61 turbinas que somam 1.740 MW, equivalente a 12,4% da potência instalada na UHE Itaipu.
No atual momento do setor elétrico, o incentivo à geração por meio de biomassas complementares não somente auxiliaria a segurança energética do país, como também contribuiria para o desenvolvimento da cadeia de produção florestal, do setor de transportes, do comércio de máquinas e equipamentos, indústria de base e serviços. Acrescenta-se ainda o aumento na arrecadação de impostos estaduais e federais e, sobretudo, um incremento no fluxo de caixa para as usinas sucroenergéticas atualmente em operação, que precisam criar formas de mitigar o cenário adverso por que passam.
Em ano de COP-21 em Paris e acordo climático Brasil-EUA, contratar energia renovável que possa contribuir para esse momento delicado do lado da segurança energética que teremos nos próximos anos parece ser uma diretriz perfeita a ser posta em prática pelos responsáveis para garantir o suprimento energético nesse país continental que é o Brasil.
O Governo já mostrou disposição em inovar nas formas de contratação com o Leilão de Reserva para o gás natural, com a Portaria nº 44 que pretende estimular a geração própria de unidades consumidoras. Criar mecanismos de contratação de energia adicional junto ao setor sucroenergético, com preços remuneradores, ainda nesta safra e na seguinte seria uma próxima ação muito bem-vinda para o setor elétrico e à cadeia produtiva da biomassa no Brasil.
Desde que adotadas diretrizes de forma tempestiva, há a possibilidade de geração adicional pelo setor da biomassa no curto prazo, p.ex., tanto no período de safra quanto de entressafra, contribuindo ainda mais do que este setor tem contribuído para a segurança energética, modicidade tarifária e sustentabilidade da matriz elétrica brasileira.