Enquanto o Congresso norte-americano discute os valores suntuosos do pacote de estímulos para a recuperação da economia no pós-pandemia, os analistas perguntam: e eu com isso? Em um mundo altamente globalizado, um espirro na Casa Branca pode provocar uma bela gripe em qualquer canto do planeta.
Se o Brasil adotar uma postura pragmática nas relações diplomáticas e mostrar apreço pela preservação ambiental, não teremos sequer um resfriado. Ao contrário, a perspectiva é de muitos ganhos por aqui com a nova administração de Joe Biden. A começar pelo mercado de capitais.
Com uma política externa americana mais previsível, menos explosiva e menos baseada em tuítes a la Trump, o investidor caminha num ambiente de maior previsibilidade, o que traz segurança jurídica. Para o mercado, a injeção de algo em torno de US$ 900 bilhões levará apetite pelos ativos de risco em todo mundo, incluindo a bolsa brasileira. O aquecimento da maior economia do mundo fará com que muitos agentes elevem suas projeções para o crescimento da economia global.
É certo que haverá pressão pela mudança de rumos na nossa política ambiental, mas nada que inviabilize acordos comerciais, nem tire do Brasil grandes oportunidades de ganhos nas áreas de infraestrutura, energia e agronegócio. Sobretudo neste momento em que o nosso país se prepara para ampliar seu leque de privatizações, diante da aprovação de importantes marcos regulatórios como o do saneamento básico e o do gás natural.
O plano de governo de Joe Biden traz uma agenda focada na reforma do setor energético americano e no desenvolvimento de fontes de energia livres de carbono em até 15 anos.
Para Fernando Rizzo, CEO da Tupy, multinacional do ramo de metalurgia, o governo Biden vem com uma forte política de pesquisa e desenvolvimento para o uso de biocombustíveis e eletrocombustíveis. E este aspecto do pacote americano é superimportante para o desenvolvimento sustentável do Brasil, uma vez que temos uma matriz energética muito eficiente e uma longa tradição no desenvolvimento de tecnologias relacionadas às energias renováveis e combustíveis alternativos.
"Os biocombustíveis estão assumindo cada vez mais um papel importante na mobilidade, com destaque para o etanol. Há também a oportunidade de desenvolver o hidrogênio verde, que pode ser produzido a partir da energia hidráulica, solar e eólica", afirma e continua: "O hidrogênio verde também fará a diferença no uso industrial, já que os Estados Unidos ainda usam muito carvão".
De acordo com ela, se o Brasil tiver excedente de energia advinda da disponibilidade de energia eólica e solar, esta sobra pode ser usada para produzir hidrogênio, que poderá ser exportado em um horizonte de 10, 15 anos. "Outro exemplo é o biogás, cujo potencial no Brasil é duas vezes maior do que o volume que atualmente passa pelo gasoduto da Bolívia, e reduz as emissões de carbono em 90%. Portanto, o Brasil sai ganhando porque tem muita tecnologia a entregar e muitos produtos a exportar", diz Rizzo.
Andre Guillaumon, CEO da BrasilAgro, também acredita no enorme potencial brasileiro de desenvolvimento das energias renováveis. Para ele os biocombustíveis brasileiros -- etanol à base de cana-de-açúcar e de milho, biogás e biodiesel -- podem ganhar espaços importantes na agenda internacional com o retorno dos EUA ao Acordo de Paris e pela pressão à substituição de energias fósseis por energias renováveis.
Mas ele alerta para a necessidade do país fazer mais programas, seja de descarbonização, seja de venda de créditos de carbono, a exemplo do que é o RenovaBio. Só assim, segundo ele, o Brasil vai conseguir atrair investimentos. Outra questão crucial é dar uma resposta rápida e eficiente em relação desmatamento e ao atendimento do Acordo de Paris, já que 73% das emissões de gases de efeito estufa, principais responsáveis pelas mudanças climáticas, vêm do setor de energia e transportes e 7% do desmatamento e das mudanças no uso da terra.
"Temos uma legislação forte, um Código Florestal com muitas restrições a quem quer desmatar e políticas de controle", afirma Guillaumon, que segue: "Estamos produzindo bem, mas estamos sofrendo um grave dano de imagem lá fora. Temos que encarar o problema da ilegalidade na Amazônia com pragmatismo e sem viés ideológico. É hora de melhorar nossa reputação frente às instituições globais se quisermos aproveitar a janela de oportunidade que se abriu na Casa Branca".
*Rosana Rocha Cavalcante Jatobá é uma advogada e jornalista brasileira. Formou-se em Direito pela Universidade Católica do Salvador e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia. Rosana possui mestrado em Gestão e Tecnologias Ambientais pela Universidade de São Paulo. Trabalhou na Procuradoria do Trabalho por 5 anos.