Escassez e encarecimento de óleo diesel causam preocupação em MT

Escassez e encarecimento de óleo diesel causam preocupação em MT

A escassez e o encarecimento do óleo diesel em Mato Grosso já causam transtornos na colheita de algodão. Com a proximidade do início do plantio da soja, os agricultores temem que o problema também prejudique o manejo e eleve o custo do transporte do grão. Algumas fazendas, inclusive, têm estocado o combustível para tentar garantir que não falte o produto durante a semeadura da oleaginosa.

A colheita do algodão em Mato Grosso caminha para a sua reta final. Até 1º de setembro 89,68% dos 1,2 milhão de hectares destinados para a cultura na safra 2022/23 estavam colhidos.

Na fazenda Santo Expedito, em Jaciara, os trabalhos com o algodão estão quase concluídos. A pluma dará lugar a soja, que deve ocupar uma área de 4,5 mil hectares na safra 2023/24. A chuva, entretanto, não tem dado trégua. Além de prejudicar a qualidade do produto no campo, também atrapalha o planejamento do novo ano safra na propriedade.

Na propriedade, conforme o gerente técnico Luís Antônio Huber, cerca de 20% do algodão resta para ser colhido ainda. Ele pontua que em decorrência ao atraso da colheita da soja, o plantio da fibra acabou sendo atrasado.

“Atrasou a colheita [soja], clima, fez frio, atrasou a abertura das maçãs e quando o algodão abriu a chuva começou a atrapalhar a nossa colheita. Nos últimos dez dias vem chovendo regularmente. Já temos um acumulado de em torno de 60 milímetros. Estamos calculando cerca de 3% a 4% de perdas entre qualidade e o que caiu. E, tem o período do vazio sanitário do algodão. Atrasando a colheita você acaba adiando a destruição de soqueira e, consequente, o plantio da soja”, comenta Luís Antônio Huber.

Falta de óleo diesel preocupa

Entretanto, conforme o gerente técnico, essas não são as únicas preocupações na fazenda. A falta de óleo diesel é outra. A escassez do insumo, que é usado em todas as operações mecanizadas no campo e que também abastece a algodoeira, tornou-se mais um desafio.

Luís Antônio Huber comenta que para a cultura do algodão são cerca de 100 litros de óleo diesel por hectare consumidos, na soja aproximadamente 40 litros, além do combustível utilizado na algodoeira para movimentar os maquinários e o transporte.

“Nós hoje temos um estoque de óleo diesel para finalizar a colheita, mas não temos para plantar. É preciso óleo diesel para movimentar a fazenda inteira. Além da preocupação dessa escassez, ainda tem o custo que aumentou muito. As margens vão ficar muito mais apertadas”.

O problema com o óleo diesel não é uma exclusividade da região sudeste de Mato Grosso. Agricultores de outras regiões do estado também estão apreensivos com a falta do combustível.

“Na venda direta é que está o problema. Não estamos conseguindo adquirir o diesel na necessidade que precisa, principalmente o S-500. O S-10 ainda tem alguma coisa, porque a gente compra em quantidades maiores e por ser início de plantio há uma demanda muito grande”, diz o vice-presidente do Sindicato Rural de Querência, Osmar Frizzo.

Preço do combustível sobe

Segundo Osmar Frizzo, além da dificuldade em conseguir o combustível, o preço subiu nos últimos tempos. “O nosso custo que girava em torno de duas sacas [por hectare] o óleo diesel o ano todo, hoje está indo para três sacas”.

O plantio da soja em Mato Grosso estará liberado a partir do dia 16 de setembro, após o fim do vazio sanitário. O presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Geraldo Antônio Delai, salienta que a preocupação é geral.

Na avaliação dele “esse é o grande entrave que estamos passando este ano. Até muitos produtores estão tentando deixar um pouco de diesel reservado dentro dos depósitos por conta disso. Hoje na nossa região em Água Boa os TRRs [Transportador Revendedor Retalhista] estão vendendo mais caro que os próprios postos de combustíveis”.

Em Canarana, outro município da região do Vale do Araguaia, a distribuição do combustível segue sem restrições. Contudo, de acordo com o sindicato rural, o litro do combustível ficou R$ 2 mais caro nos últimos 30 dias.

“Isso a gente pode contar um custo de pelo menos, no nosso caso, R$ 100 a mais por hectare só para fazer o plantio e aplicação. Isso resulta em R$ 50 mil, R$ 60 mil por ano a mais de óleo diesel, ou seja, um salário de um funcionário um ano inteiro só em diesel. Já aumentou o preço do calcário, dos fretes nos insumos e pode ter certeza que a classe menos favorecida é a que mais vai sofrer, pois vai aumentar o preço dos alimentos nas prateleiras isso não tem dúvida”, diz o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wisch.

Escassez preocupa empresas

A escassez do produto também preocupa algumas empresas que compram grandes quantidades de combustível e revendem a granel para outras empresas e consumidores. O coordenador comercial TRR da Andreis, Rodrigo Bressane, comenta que a empresa atende aproximadamente 200 agricultores e afirma estar com dificuldade para atender a demanda.

“Hoje o cenário é bem crítico. A nossa demanda é de 600 mil, 700 mil litros por dia, mas estamos conseguindo carregar em torno de 50 mil a 100 mil por dia para atender os nossos clientes. Nós temos muitos clientes que plantam algodão na região e pedem volumes de 45 mil, 60 mil litros e a gente não consegue atender com esse volume. Tem que fracionar com cinco mil litros em um dia e cinco mil no outro. Isso gera um custo para a gente que tem que mandar o caminhão várias vezes na fazenda”.

A perspectiva, conforme Rodrigo Bressane, é que o fornecimento de óleo diesel se normalize em outubro ou novembro. Além disso, o coordenador comercial alerta que a demanda aquecida pelo combustível pode encarecer ainda mais o produto.

“Nunca aconteceu esse cenário de um TRR ser mais caro que um posto. Eu creio que como a demanda do TRR é maior e no posto bem menor, a prioridade deles vais ser os postos do que o TRR. E, não vai ser só nós. Nos outros concorrentes também não vai ter. Então, a falta do produto provavelmente fará os preços subirem mais”.

 

Canal Rural