Escolinha da corrupção - Por Claudio Belodi

Escolinha da corrupção - Por Claudio Belodi

O aprendizado da corrupção começa muito cedo na mente das pessoas. A formação inicia-se com experimentações e, o que é pior, as pessoas aprendem primeiro a serem corruptoras.

É próprio do intelecto humano, por isso que o meio é essencial para a formação de cidadãos, para a cidadania disciplinada.
É no seio familiar que se molda a moralidade, da honra, do justo, do digno.

Eis, a seguir, algumas experimentações que moldam os indivíduos, ou que servem para o desvirtuamento da moral, esta desejável para o bem social.

  • Quando, ainda na tenra idade, a criança começa a teimar de não gostar de tal comida, a birra é um teste para que seja atendido naquilo que quer.
Se for atendido, ganha a parada e da próxima vez é só fazer outra birra que alcança o intento. 

  • Quando, na escola, há desleixo com o material de estudo e ninguém toma alguma decisão de correição, ganha mais uma parada. Não sujeito às regras, então pode se aventurar noutras mais arrojadas. E aí, para faltar às aulas, xingar o(a) professor(a) é um pulinho. 

  • Quando, em casa, ainda adolescente bater o pé para sair na noitada e, embora nessa idade requeira cuidados especiais, vence mais uma amarra do controle patriarcal; saída feliz, não pela noitada, mas pela conquista de mais uma experimentação. 

  • Quando, já mais adulto, ao sair do WC não dá descarga, em desrespeito ao próximo usuário, demonstra ser bastante independente para fazer o que bem quiser, inclusive sujar e depredar. 

  • Quando, numa fila qualquer, sutilmente escapulir ou malandramente fingir com uma bengala para ter a preferência na fila especial, estará corrompendo a si mesmo, porque um dia será a vez de necessitar. Importa que a garra e força seja mostrada pelo insulto. 

  • Quando, no trânsito, ultrapassar pela direita ou vazar o farol vermelho, por desculpa da pressa, e tenta convencer o guarda oferecendo um suborno para escapar da multa, já adentrou na experiência prática da corrupção financeira, mesmo que sejam alguns míseros trocados. 

  • Quando, na moradia, sorrateiramente constrói um pequeno avanço sem licença, demonstra ser corruptível da legalidade. 

  • Quando, se tem alguma condição, mas se usa do subterfúgio de conseguir um medicamento gratuito na Farmácia Popular, em detrimento de outros cidadãos necessitados, ai já configura a prática do experimento do roubo público. 

  • Quando, com ou sem necessidade, vai ao médico e pede um atestado de saúde para justificar a ausência do trabalho e roga para acrescentar mais um pouquinho de dias, também é roubo de alguém. 

  • Quando, na Declaração de Renda, a sogra é declarada dependente para pagar menos imposto de renda, ai já se perpetra o atentado à sonegação de imposto do qual é importante para a infraestrutura que desfruta como membro da sociedade, corrompendo-se a si próprio. 

  • Quando, bem adulto, já em franca atividade e com sucesso nos negócios próprios, ou profissionalmente, tenta burlar algum agente público para obter um licenciamento ou uma facilidade, mesmo que haja ignorância quanto às exigências, já é altamente experiente na corrupção. 

  • Quando, na condição de plena cidadania, entra na vida pública, sabedor de que nada que lá está pertence a alguém, pratica a pleno a liberdade dos experimentos da vida democrática, porque as regras são parte da formação.

O corruptor torna-se facilmente corrupto. Corrupção ativa e passiva são binômios, porque a função negativa precisa de um polo positivo para agrupar- se. Então tudo é corrupção. 


É dessa matéria prima, ironicamente democrática e protegida por direitos, formada ao longo de anos, que saem os líderes do povo, que vão estudar e propor os avanços e o consequente regramento social. A regência do país estará nas mãos desses cidadãos, principalmente daqueles com perfil mais espertos. 


Os cidadãos que nos representam são a similaridade desse composto de experimento social. É da massa desse molde que alguns eleitos vão exercer a liderança do povo. 


Nossos valores são formados através das experimentações e exemplos. Se a prática for boa haverão cidadãos honrados, de caráter e honestos. Se pactuarmos e formos indiferentes com tais atitudes não podemos ser exigentes em honestidade, quando algum atingir o poder, se a massa do molde é deteriorada.