Etanol competitivo - Por Mário Campos

O consumidor mineiro poderá contar neste ano com o preço do etanol hidratado (o álcool combustível) mais em conta para o seu bolso, se comparado com o da gasolina,  frente as atuais medidas do governo federal de recomposição dos  tributos do combustível fóssil, e também pela redução do ICMS do etanol, de 19% para 14% no estado,  a partir de 18 de março.
 
Quando entrar em vigor, a redução do ICMS no etanol hidratado poderá deixar esse combustível cerca de R$ 0,12 mais barato na bomba, conferindo grande competitividade ao produto. Com isso, a expectativa é de dobrar o consumo do combustível limpo e renovável no estado, dos atuais 750 mil litros por ano para 1,5 bilhão de litros já em 2015. Mesmo assim, ainda longe do maior consumidor que é São Paulo, que comercializa 6 bilhões de litros por ano, devido à política de incentivo ao etanol hidratado, há mais de uma década.
 
Com um parque industrial de 38 empresas e terceiro na produção de etanol hidratado no país, com 1,6 bilhão de litros, os produtores mineiros não suportavam mais a política de congelamento de preços da gasolina, o que levou à perda de competitividade do etanol nas bombas. Isso provocou uma das piores crises vividas pelo setor sucroenergético, com o fechamento de 80 usinas no país e a entrada de 67 em recuperação judicial. Em Minas Gerais, a crise provocou o fechamento de oito usinas, com a perda de cerca de 8 mil empregos diretos.
 
Sem mercado para o etanol, os produtores mineiros tiveram que trabalhar no vermelho para escoar a produção, além de comercializar o produto para São Paulo com grande deságio, o que gerou grandes prejuízos. Mesmo sendo extremamente eficientes, com forte trabalho de aumento de produtividade agrícola e de rendimento industrial, não conseguiam competir em um ambiente de intervenção.
 
O preço do combustível é um fator determinante para o consumidor na hora de encher o tanque. Por isso, quando o governo decidiu manter artificialmente o valor da gasolina, com a posterior eliminação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), em junho de 2012, sem a imediata contrapartida de desoneração também para o etanol hidratado, o combustível fóssil ganhou terreno e avançou sobre os motores flex, provocando a depressão da indústria sucroenergética nacional.
 
Porém, com a segunda maior frota de veículos leves do país, a perspectiva agora dos produtores é de que os motoristas mineiros retomem o consumo de etanol e não deixem de fazer as contas, pois, quando a relação de preços (dividindo o preço do etanol pelo da gasolina) estiver abaixo de 70%, vale a pena colocar etanol. Mas é importante que cada motorista conheça a real relação de seu veículo, fazendo as próprias contas do consumo de combustível, pois ele pode ser diferente em cada carro.
 
Outro fator importante que o consumidor deve levar em conta é que, ao colocar etanol no motor, está contribuindo para um meio ambiente mais limpo e saudável, pois pesquisas realizadas já indicaram que esse combustível emite menos 90% de gás carbônico na atmosfera do que a gasolina. Além de colaborar para manutenção em Minas Gerais de 80 mil empregos diretos no interior, no país, somam cerca de 1 milhão, e de toda uma cadeia produtiva que contribui com o crescimento das cidades e o desenvolvimento econômico regional.
 
As medidas implantadas e a retomada do consumo de etanol poderão dar fôlego ao setor sucroenergético, em curto e médio prazos, e, posteriormente, provocar a retomada dos investimentos, com mais geração de empregos e renda para o país. Mas, acima de tudo, irá responder com o aumento da produção do combustível limpo e renovável, responsável, em grande parte, pela matriz energética brasileira ter o status de uma das mais limpas do mundo!
 
*Mário Campos é presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG (Siamig)