A produção do etanol de segunda geração, a partir dos resíduos da cana, possibilitaria aumentar a fabricação total do biocombustível no Brasil em até 50%, sem ampliar a área semeada com a cultura.
O Brasil, a partir da cana-de-açúcar e os Estados Unidos (EUA) utilizando o milho como matéria-prima, foram os protagonistas globais na produção em larga escala do etanol de primeira geração, utilizado singularmente ou adicionado na gasolina em diferentes porcentuais, ao longo do tempo. No Brasil, primeiramente, estudou-se a viabilidade do uso de mandioca, batata-doce e madeira como matérias-primas, porém nada se mostrou competitivo com a cana-de-açúcar.Recentemente, em decorrência do excedente de produção e do alto custo do transporte do milho da Região Centro-Oeste até os portos e centros de consumo do Sul e Sudeste, esse cereal passou a ser considerado uma opção para a produção de etanol, como ocorre nos EUA.
A tecnologia de produção e uso do etanol de primeira geração já estão consolidados e agora o mundo já sonha com o etanol de segunda geração, também denominado etanol 2G, biocombustível produzido a partir dos resíduos do processo produtivo do etanol de primeira geração (palha e bagaço da cana-de-açúcar, por exemplo). A hidrólise da celulose, hemicelulose e lignina contidas nesses resíduos fornece os carboidratos que, posteriormente, são convertidos em etanol pela ação de microrganismos fermentadores, resultando numa alternativa de energia menos poluente que os combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás).
A produção do etanol de segunda geração, a partir dos resíduos da cana, possibilitaria aumentar a fabricação total do biocombustível no Brasil em até 50%, sem ampliar a área semeada com a cultura. Ressalta-se, por outro lado, que o etanol 2G ainda não é viável economicamente e que nem todos os ambientes brasileiros são aptos para a produção de cana-de-açúcar.
No ciclo agrícola de 2020, o Rio Grande do Sul (RS) estabeleceu como meta buscar menor dependência externa, criando o Programa Estadual de Produção de Etanol Amiláceo (Pró-Etanol), pois 99% do consumo, estimado em 1,5 bilhões de litros/ano, vêm de fora do RS. Para melhorar esse cenário, além do cultivo de cana-de-açúcar, o Pró-Etanol incentivará matérias-primas de amido, como grãos e tubérculos.
Com a criação do programa, terras sem uso comercial no inverno, estimadas em quase 4 milhões de hectares, poderão ser aproveitadas para o cultivo de cereais produtores de grãos amiláceos (triticale, aveia, cevada, centeio e também, a utilização do trigo de baixa qualidade) para atender a demanda de etanol. Sorgo, milho, arroz e batata-doce no período primavera-verão, também são opções. Além de propiciar acréscimo de renda ao produtor e gerar divisas para o estado, o Pró-Etanol está alinhado às crescentes preocupações com os gases de efeito estufa e o previsível esgotamento dos combustíveis fósseis, hoje a principal fonte de energia e de poluição atmosférica, que induzem a humanidade a buscar novas fontes de energia, mais amigáveis ao ambiente, como o etanol 2G.
Etanol 2G, uma promessa de biocombustível para o futuro.
*Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja