No quadro econômico mundial vivemos grande complexidade. Crise da pandemia, crise econômica e problemas políticos entre China e EUA, envolvendo Hong Kong, além de graves problemas internos nos EUA devido à questão racial e protestos. São tempos muito complexos, trazendo grandes incertezas. Crises e crises, mas algum alento já com o retorno gradual das atividades na China, na Europa e nos EUA, grandes mercados consumidores.
A China, inclusive, recomendou que algumas empresas estatais e tradings deixassem de comprar produtos agro dos EUA com o arrefecimento da temperatura entre os dois países, o que pode trazer impactos para nós. Além disso, forte recomendação para construírem estoques reguladores por entenderem que a produção no Brasil e em outros países corre riscos de interrupção devido a infecções por coronavírus. Tudo isso tem puxado as exportações do agro a valores recordes.
São impressionantes as mudanças trazidas pela pandemia. Nos EUA, as vendas de alimentos nos supermercados no formato on-linecresceram 24% em maio. Varejistas se adaptaram para expandir a capacidade de entregas, contrataram muito pessoal para essas atividades. Robôs, também, vêm sendo testados para selecionar as mercadorias encomendadas pelas pessoas nos depósitos. E as grandes empresas de alimentos estão queimando os cérebros para entender como o consumo se alterará após o período da pandemia. Já existe uma corrente acreditando que as compras on-line continuam, mais consciência em relação aos preços e o desafio é saber quais comportamentos voltam à normalidade e quais permanecem, já que as pessoas têm se acostumando a ficar e se divertir em casa. Como exemplo, aumentaram muito as vendas de equipamentos, como máquinas para fazer pão e outros que envolvem culinária caseira. Restaurantes também provavelmente não retornarão como eram. Estima-se que na China cerca de 15% dos que fecharam na pandemia não voltarão mais. Tem muita coisa aí para entendermos.
Continuamos no Brasil convivendo com três graves crises, que não diminuem. A da saúde, a da economia e a da política. No cenário econômico brasileiro, de acordo com o relatório Focus do BACEN de 29 de maio de 2020, o IPCA deve fechar 2020 em 1,55%, e em 3,22% no próximo ano. É esperada uma queda de 6,25% no PIB para 2020, com crescimento de 3,50% em 2021. A meta da Selic estimada para o fechamento do ano é de 2,25%, contra 3,38% em 2021. Finalmente, o câmbio deve encerrar 2020 em R$5,40, e 2021 em R$5,08. Ao término deste texto a Bolsa apresentava grande valorização, seguida pelo Real.
Nas notícias do agro, destaca-se a excelente safra, vindo com tudo. A Conab estima, em seu boletim de maio, uma produção de 250,9 milhões de toneladas de grãos, incremento de 3,7% sobre a safra anterior, o equivalente a 8,8 milhões de toneladas. Para a área plantada, o crescimento esperado é de 3,5%, atingindo 65,5 milhões de hectares. A produção de algodão deverá atingir 2,88 milhões de toneladas de pluma, incremento de 3,6%. O fim da colheita da primeira safra de milho confirmou a produção de 25,3 milhões de toneladas, 1,5% a menos que no ciclo passado, enquanto a segunda safra está estimada em 75,9 milhões de toneladas, crescendo 7% em área plantada. Já a soja deve produzir 120,3 milhões de toneladas, com 4,6% de incremento frente a 2018/19.
Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) estima, agora, o Valor Bruto da Produção em R$ 728,6 bilhões, quase 12% maior que 2019. A soja crescerá 13%, chegando a R$ 175 bilhões e o milho pode crescer até 33%, chegando a até R$ 90 bilhões. São praticamente R$ 2 bilhões por dia. Muitos se aproveitaram do câmbio para já adiantar vendas. Quase 32% da safra a ser plantada já foi travada, contra apenas 8% no início do ano passado (MBAgro).
As exportações do agro brasileiro atingiram um novo recorde para abril, de acordo com dados do MAPA, alcançando US$ 10,22 bilhões, valor 25% superior aos US$ 8,18 bilhões registrados no mesmo mês do ano anterior. As participações das exportações do agro representaram 55,8% de tudo que o Brasil vendeu ao exterior, chegando a um patamar recorde. Destaque mensal para o complexo soja que representou 60% das exportações, valor equivalente a US$ 6,10 bilhões. Desse montante, 90% é atribuído à soja em grão (US$ 5,46 milhões) destinada principalmente à China (72,3%). De carnes foi exportado US$ 1,20 bilhão, crescimento de 1,4%, sendo US$ 576,29 milhões de carne bovina (+11,28%), US$ 506,44 milhões de frango (-14,5%) e US$ 163,87 milhões de suína; produtos florestais venderam US$ 911,54 com queda de 21,3%; enquanto que o café exportou US$ 411,14 (+5,7%). As importações do setor caíram 16,7%, de US$ 1,21 bilhão para US$ 1,01 bilhão, deixando o Brasil com excelente saldo de US$ 9,21 bilhões na balança.
Dados preliminares de maio mostram que exportamos 15,5 milhões de toneladas de soja, 5,5 milhões a mais o mesmo mês em 2019. No açúcar foram embarcadas 2,7 milhões de toneladas, 1,2 milhão a mais o período do ano anterior. E no café de 3,3 milhões de sacas vendidas em 2019, chegou-se a 3,6 milhões neste maio. Na balança brasileira mensal, tivemos uma participação para a China de 40,4%, contra 28,6% em maio de 2019. Para a Ásia as vendas neste ano estão quase 17% maiores.
O Plano Safra 2020/21, que entra em vigor em 1° de julho, deve se manter na mesma dimensão do ano passado (cerca de R$ 220 bilhões). As taxas seriam menores, mas não as esperadas pelo setor produtivo (3%).
O MAPA lança o Programa Nacional de Bioinsumos direcionado a tudo o que se relacionar à pesquisa, produção e mais utilização de defensivos, fertilizantes e medicamentos animais de origem biológica no agro. É um programa estratégico para reduzir nossa dependência de importações. São produtos que permitem controle biológico de pragas e doenças e micro-organismos promotores de crescimento, entre outros. Biofábricas serão incentivadas, bem como o crédito para uso desses produtos. Estima-se que este mercado tenha faturado R$ 675 milhões em 2019 (15% a mais que 2018) com cerca de 265 defensivos biológicos registrados.
A Cocamar anunciou investimento de cerca de R$ 10 milhões numa fábrica de fertilizantes foliares e adjuvantes para atender os mais de 15 mil cooperados. Os produtos levarão a marca Viridian. Tal como outras cooperativas, a Cocamar está em franco crescimento e o faturamento esperado para 2020 é de R$ 5,7 bilhões (em 2019 foi de R$ 4,6 bilhões). Caso de sucesso em ações coletivas no agro brasileiro.
Diminuíram bem as preocupações com o início da safra dos EUA. Ao final de maio, o plantio de milho alcançou 93%, contra a média de 89% dos cinco anos anteriores. Das lavouras, 74% se encontram em condições boas e ótimas. No caso da soja, 75% foi plantado, estando 7% acima da média dos cinco últimos anos.
Nas quatro semanas que contemplam as duas últimas de abril e as primeiras duas de maio, o consumo de suco de laranja no varejo americano cresceu 30%, atingindo 38 milhões de galões. Foram vendidos US$ 199 milhões de NFC (contra US$ 143 milhões do mesmo período do ano passado) e US$ 64,2 milhões do FCOJ (contra US$ 48,72 milhões). No acumulado da safra, o crescimento é de 7% (de 251 milhões para 275 milhões de galões) e de US$ 1,76 bilhão para US$ 1,94 bilhão. Excelente notícia para nós.
A Europa, mais uma vez, prepara uma ação ambiental que deve preocupar o Brasil. Vem como “desmatamento importado” e visa atingir importadores de cadeias produtivas que não consigam provar a origem desses produtos, exigindo maiores cuidados das cadeias exportadoras no Brasil.
Os preços dos grãos estavam em relativa estabilidade em maio e o real buscou uma valorização, sendo vendido a R$ 5,23. Portanto, em reais houve ligeira diminuição.
Os cinco fatos do agro para acompanhar agora diariamente (talvez não diariamente, mas a cada hora) em junho são:
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com