Falta de água nos rios agrava crise energética europeia

Falta de água nos rios agrava crise energética europeia

Os custos dos fretes dispararam e alimentam ainda mais a inflação na Europa - já que os rios são vias cruciais para o transporte de todo tipo de mercadorias, de grãos a produtos químicos e petróleo e também para a geração de energia elétrica

Temperaturas escaldantes reduziram o nível de água de alguns dos principais rios da Europa, o que põe em risco vias econômicas vitais e pode exacerbar a escassez de energia no continente.

Na Alemanha, o Reno baixou para um nível crítico, que já dificulta o transporte de cargas de carvão e bens industriais, e a previsão é de que um trecho crucial pode se tornar intransitável para a maioria das barcaças até o fim da semana.

Na França, o Ródano e o Garonne estão quentes demais para resfriar reatores nucleares e isso resulta em uma produção menor. Na Europa Oriental, os níveis do Danúbio minguaram e uma importante rota ucraniana de transporte de grãos está comprometida.

Nos últimos anos, cada vez mais os rios da Europa sofrem com períodos de seca - situação que os cientistas dizem que se tornará mais frequente, dado o aquecimento global. Os custos dos fretes dispararam e alimentam ainda mais a inflação - já que os rios são vias essenciais para o transporte de todo tipo de mercadorias, de grãos a produtos químicos e petróleo. E os baixos níveis de água nos reservatórios limitam a geração de energia hidrelétrica, aumentando a pressão sobre a oferta de energia.

“É muito claro que isso piora os problemas de energia da Europa”, disse Fabian Skarboe Rønningen, analista sênior da consultoria Rystad Energy. “Os baixos níveis dos rios e as altas temperaturas da água afetam tanto o carvão alemão como a energia nuclear francesa, duas das maiores fontes de abastecimento da Europa.”

Na Europa Oriental, o transporte de cargas por partes do Danúbio, que deságua no Mar Negro, deixou de ser lucrativo, já que os barcos só podem operar com um terço de sua capacidade.

Na Europa, os rios ligam fábricas e cidades, pois oferecem rotas de transporte eficientes. O volume de carga transportada por hidrovia na Alemanha foi responsável por 7,1% do total do transporte de carga em 2020, segundo a consultoria Capital Economics.

Na quarta-feira, o nível de água do Reno - que nasce nos Alpes suíços e se estende por 1.233 km ao longo do coração industrial da Alemanha até desaguar no Mar do Norte - caiu para 45 cm em um de seus principais pontos de estrangulamento, Kaub, perto de Frankfurt. Isso é cerca de 50 cm abaixo dos níveis normais para esta época do ano. E a expectativa é que o nível caia para 34 cm até o fim desta semana, o que tornará a passagem praticamente impossível para a maioria das barcaças a diesel e estará muito perto do seu recorde de 25 cm, em 2018.

Empresas europeias de energia, químico e outros utilizam o Reno como rota fluvial de transporte e também como fonte de água para produção e resfriamento.

Na semana passada as tarifas de frete desde a foz do Reno, na Holanda, até Basileia, na Suíça, chegaram a € 240,32 (US$ 248), por tonelada, mais do que o dobro dos € 111,92 do mês anterior, segundo Lars van Wageningen, gerente de operações da empresa de pesquisa de mercado de commodities Insights Global. Há um ano, a cotação era de apenas € 11,28.

De acordo com a Capital Economics, os problemas do Reno aumentam a pressão sobre a indústria alemã e tornam mais provável que haja uma recessão na maior economia da Europa neste ano.

No Reino Unido, a nascente do Tâmisa secou por causa da falta de chuva, de acordo com a Rivers Trust, uma organização de especialistas em conservação de rios. A Thames Water Utilities, que atende 15 milhões de pessoas, se prepara para impor mais restrições ao uso de água em Londres e nos seus arredores.

 

Valor Econômico