Falta de conhecimento na atividade sucroenergética influenciou o fechamento de usinas - Por Canaonline

Falta de conhecimento na atividade sucroenergética influenciou o fechamento de usinas - Por Canaonline

O Brasil chegou a ter mais de 430 unidades sucroenergéticas em atividade, mas, desde 2008, 79 unidades entraram em recuperação judicial (RJ) e 83 tiveram suas operações paralisadas. Vários são os motivos para esta crise, um deles foi a entrada de investidores sem expertise no setor sucroenergético.

De acordo com Dib Nunes Jr, presidente do Grupo IDEA, uma das principais consultorias do setor, grande parte dos novos players que acessou este mercado na década passada, não obteve o sucesso esperado, por não conhecer a cultura do setor ou por desconhecimento da complexidade da produção canavieira. “Agora esses investidores tentam se livrar do negócio, colocando o patrimônio adquirido à venda. Querem recuperar o que investiram, mas certamente contabilizarão pesadas perdas ao sair”, observa Dib.
 
Mas a falta de conhecimento sobre a agroindústria canavieira não se restringiu aos investidores, pior, também pesou sobre empresas contratadas para realizar a operação de due diligence - um conjunto de atos investigativos que devem ser realizados antes de uma operação empresarial.
 
O engenheiro agrônomo Ricardo C. Deotti, integrante da equipe de profissionais do IDEA destaca: “muitos casos começaram com due diligences imprecisas e malfeitas, que não levantaram corretamente os problemas e riscos além de apurar índices de produtividades e rendimentos que apontaram para faturamento muito acima do seu potencial.

Com os seis anos de crise de preços do setor, a situação se agravou e não atingiram os níveis de faturamento desejados. Algumas empresas recorreram a chamadas de capital, outras simplesmente já passaram o bastão para credores ou fecharam as portas”, diz Dib Nunes, especialista na condução de due diligence – ao longo dos últimos anos, o IDEA realizou 38 avaliações desta natureza, sendo oito apenas no segundo semestre de 2016.
 
Este especialista explica que os principais pontos de riscos encontrados estão ligados a contratos mal elaborados, contratos com elevada concentração de vencimentos e valores acima do mercado, dependência de fornecedores de cana e de terras, canaviais de baixa produtividade, regiões com problemas ambientais, solos de menor fertilidade, relevo improprio para a mecanização, frota velha ou reduzida com elevado índice de terceirização, resultados operacionais ruins nas operações de colheita e transporte, logística extremamente comprometida com longas distancias das áreas de produção, estradas ruins e acesso difícil às propriedades produtivas.
 
Segundo estes engenheiros do IDEA, é importante também numa due diligence, avaliar o nível técnico do quadro de gestores em posição estratégica e seu comprometimento com as metas da empresa. Além disso, deve-se apurar os custos de produção das principais etapas do sistema produtivo de cana e compara-los a fontes críveis. A avaliação da eficiência dos serviços de apoio necessários às operações de campo, a possibilidade de expansão da lavoura e a imagem que a empresa tem junto a produtores, proprietários de terras e prestadores de serviços da região são também muito importantes.
 
“Há regiões onde a concorrência com outras empresas agrícolas e outros negócios são extremamente impactantes a ponto de deixa-las sem condições de recuperação de produtividade ou de redução de custos”. Embora o nível de credibilidade seja também medido pela análise financeira e pelo cumprimento de compromissos assumidos com instituições financeiras e fornecedores, o prestígio que a empresa acumulou na região, pode ter um enorme peso na sua sobrevivência e seu sucesso.
 
O levantamento do CAPEX (despesa de capital) necessário para os próximos anos para recuperação ou crescimento da empresa é também fundamental para que o investidor fique sabendo qual deve ser o capital a ser aplicado. As avaliações dos ativos biológicos darão a ideia do capital armazenado no campo, do seu potencial para produção de açúcar, etanol e energia elétrica e quanto a empresa precisara´ investir para garantir o faturamento futuro e o pay back pretendido no negócio.

“Os potenciais investidores correm riscos muito grandes quando a due diligence não é realizada por empresas experientes capacitadas para analisar todos estes fatores que certamente poderão comprometer ou alavancar o negócio sucroenergético”, alerta Dib.