Fim do acordo entre Rússia e Ucrânia pode mexer com mercado de grãos e fertilizantes

Fim do acordo entre Rússia e Ucrânia pode mexer com mercado de grãos e fertilizantes

Com o fim do acordo entre Rússia e Ucrânia, o trigo deve voltar a ser negociado acima de US$ 7 por bushel na bolsa de Chicago, avisa Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. Os preços já estão nesse patamar no pregão noturno — a sessão regular começa às 10h30 de Brasília. Já o milho tem altas mais comedidas, “andando de lado”, acima de US$ 5 por bushel.

No curto prazo, o fim do acordo que permitia que navios deixassem os portos do Mar Negro em segurança deve ter um peso maior no mercado de trigo.

A Rússia é a maior exportadora de trigo do mundo, com embarques previstos de 47,5 milhões de toneladas previstas em 2022/23. O país supera sozinho os embarques de toda a União Europeia, segundo maior exportador, com 38,5 milhões de toneladas. Já a Ucrânia figura em sexto lugar, exportando 10,5 milhões de toneladas de trigo.

Luiz Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica, afirma que a Rússia pode ter anunciado sua saída do acordo nesta segunda-feira para pressionar o Ocidente a acatar suas exigências. Segundo ele, os russos têm mais a perder do que a ganhar com esse movimento, já que precisam exportar trigo para gerar divisas.

“Eles vêm dizendo isso há semanas. Vamos ver se eles dirão isso amanhã, quando de fato acaba o acordo. Usarão isso até o último minuto para tentar se livrar das sanções. Mas são eles quem vão ficar fora do sistema financeiro internacional e com ainda mais dificuldade para exportar”, afirma.

Milho
“No milho, já está mais ou menos precificado, porque o mercado sabia que a renovação era pouco provável. E neste momento os ucranianos não têm muito milho para exportar”, afirma o Ênio Fernandes.

Fernandes explica que, geralmente, os embarques de milho da Ucrânia ocorrem entre outubro e janeiro, e quando as exportações americanas e brasileiras ficam menos competitivas. “Eles têm a vantagem de estar mais perto de portos asiáticos, o que favorece a logística”, diz.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estimou, na semana passada, que a Ucrânia seria o quarto maior exportador de milho da safra global 2023/24, com 19,5 milhões de toneladas de milho.

Ainda sobre o mercado de milho, o analista da Terra Agronegócios afirma que o ponto de atenção é a safra americana. Segundo eles, modelos meteorológicos indicam uma redução das chuvas e um aumento das temperaturas nos próximos 14 dias.

Ele lembra que a soja e o milho dos EUA estão em fase bastante delicadas e a chuva é essencial. “Se isso reduzir a produtividade americana, a dependência dos grãos ucranianos, e a falta deles, será sentida mais à frente”, afirma.

Outro efeito colateral do fim do acordo é uma reversão na tendência de acomodação dos preços globais dos fertilizantes.

 

Globo Rural