Fundamentos mostram a cara – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Fundamentos mostram a cara – Por Arnaldo Luiz Corrêa

A agenda de negócios da semana foi bastante movimentada devido aos diversos eventos ocorridos em São Paulo por ocasião da Semana do Açúcar e do Jantar de Gala promovido pelo Sugar Club. O mundo sucroalcooleiro estava na cidade e não houve um só minuto de trégua para as férteis discussões de ideias e perspectivas futuras seja durante a Conferência da Datagro ou nos outros eventos que inundaram a semana. O sentimento geral pareceu mais construtivo. Houve sempre muito cuidado por parte dos interlocutores em não parecerem desmedidamente altistas, mesmo porque o cenário politico fiscal do Brasil desencoraja essa atitude em função da volatilidade da moeda brasileira que chegou a negociar a espantosos 4,2500. O sentimento de um cenário construtivo leva em consideração que açúcar e etanol estarão muito sensíveis a arbitragem nos meses que se seguem.
A explosão do dólar acelerou a fixação de preços do açúcar de exportação em reais para a safra 2016/2017 e também para a 2017/2018. Embora operações estruturadas como essas demandem crédito e gestão de risco competente, mais e mais usinas estão aproveitando a oportunidade e travando a rentabilidade das vendas de açúcar para os próximos anos. Para os bancos seria uma oportunidade de trazer para si as empresas do setor (que são suas clientes) com problemas de caixa, garantindo a elas uma melhor rentabilidade na venda de seus açúcares e assegurando que as mesmas tenham condições de pagar seus débitos. Melhor do que pisar no tubo de oxigênio ou cortar o crédito de vez, a estruturação de operações em reais por tonelada pode funcionar para os bancos como um seguro de que o credor não vai deixar de cumprir suas obrigações, pois tem uma vantajosa venda fixada em reais nas mãos dos bancos.
O contrato futuro de açúcar na bolsa de NY encerrou o pregão de sexta-feira mostrando uma valorização substancial do vencimento outubro/2015 (que expira na próxima semana), que subiu 78 pontos na semana (17 dólares por tonelada), cotado a 11.74 centavos de dólar por libra-peso. A correlação inversa que o açúcar em NY tinha com o dólar desapareceu. Os fundamentos começam a falar mais alto a partir de agora.
O enorme volume de fixações de preço de açúcar de exportação no contexto de um dólar mais forte começa a delinear uma safra mais açucareira para 2016/2017. O spread março/maio 2016, no entanto, começa a estreitar, tendo passado de 10-15 pontos de desconto para 10 pontos de prêmio do março em relação ao maio. O mercado parece acreditar que pode haver atraso no início da próxima safra do Centro-Sul, ou que o longo período de entressafra após a expiração do contrato outubro/2015 na próxima semana, inibe os vendidos de continuarem mantendo suas posições e preferiram rolá-la para maio/2016 para evitar surpresas. Por enquanto, apenas conjecturas, mas parece que já vimos a mínima desse mercado de açúcar.
Acende uma luz amarela o fato de o acumulado de cana moída no Centro-Sul até a primeira quinzena de setembro ser inferior aos dois últimos anos. 403.8 milhões de toneladas foram moídas contra 412.6 milhões na 2014/2015 e 408.5 milhões na 2013/2014. Será que vamos atingir os 590 milhões de toneladas que muitos preveem? Nosso número continua sendo de 581.2 milhões de toneladas muito embora o desempenho atual da moagem aos olhos do que ocorreu no passado podem reduzir também nossa estimativa.
Apenas para lembrar alguns pontos que foram exaustivamente comentados e analisados nesse espaço: dissemos que a compra do spread outubro/2015 março/2016 aos escorchantes 28-35% ao ano sob os quais eles estavam sendo negociados, era como tirar biscoito da boca de uma criança. O spread encerrou a sexta-feira cotado a 67 pontos, enquanto no inicio de junho ele negociava a 133 pontos, ou seja, houve uma apreciação de mais de 14 dólares por tonelada no período! Também insistimos que o valor FOB do açúcar em reais por tonelada deveria sempre que ser observado e mencionamos que nos três últimos anos a média havia sido de R$ 880 por tonelada e, portanto, não se justificava fixar preços abaixo desse nível. Por último, dissemos que em outubro começaríamos a ver uma recuperação de preços em NY. Vamos ver se acertaremos mais uma.
Não temos bola de cristal, mas nossas análises são consistentes e em linha com os fundamentos do mercado. Nós não vendemos estruturas nem somos afiliados a nenhuma corretora ou banco, nem recebemos comissão de nenhuma espécie por quaisquer estruturas ou recomendações que por ventura façamos. Somos independentes e, por essa razão, nossas opiniões independem dos nossos interlocutores. Não fabricamos histórias ao sabor dos leitores.
O Jantar de Gala do Açúcar promovido pelo Sugar Club na semana que passou foi um dos melhores das últimas décadas. O momento político em que o Brasil vive, consternando seus cidadãos de bem pela inacreditável magnitude de roubalheira, corrupção e descasos patrocinados por um partido que nunca teve um projeto de governo, mas sim “um projeto criminoso de poder”, usando as palavras do Ministro do STF, Celso de Mello, foi o combustível para um discurso duro e memorável do Presidente do Sugar Club, Paulo Roberto Garcia, na abertura do Jantar de Gala. Paulo chamou de “obstinados” os “homens da indústria sucroalcooleira que insistem em não desistir do Brasil, mesmo diante da falência dos princípios éticos e morais que deveriam reger a vida de nossa nação”. Faço minha as suas palavras.