O mercado futuro de açúcar em NY fechou a sexta-feira com uma enorme queda de quase 4%, cravando 12.47 centavos de dólar por libra-peso no contrato com vencimento para março/2019. Em situações de pânico, similares a esta que presenciamos na sexta, todo mundo corre de um lado para o outro querendo saber o que aconteceu que justifique tamanho banho de sangue, mas a realidade é que ninguém sabe o porquê e, assim, histórias são adaptadas para tentar dar lógica àquilo que não tem lógica nenhuma.
Uma explicação pode ser o volume de contratos em aberto em NY, que cresceu espetacularmente nos últimos dias, acrescentando mais de 35,000 lotes em cinco pregões. Tudo leva a crer, segundo essa corrente, que os fundos não-indexados adicionaram novas vendas às suas posições. Não se sabe quanto os fundos estão vendidos no total porque o CFTC não está divulgando a posição dos comitentes (COT) devido à paralização dos serviços públicos americanos.
Outros acreditam que os fundos na verdade estavam zerados e liquidaram as compras que haviam feito recentemente, vendendo de volta ao mercado. E o aumento na posição em aberto deveu-se à novas compras (por parte dos fundos, que na sexta devolveram) e novas vendas (comerciais). Vamos ter que aguardar para saber quem está certo quando o COT for divulgado (Sabe-se lá quando). Nunca vi tamanha diferença entre duas opiniões acerca da posição do mercado.
Por outro lado, um executivo do mercado acredita que algumas usinas tinham esperança de que o contrato futuro com vencimento março pudesse quebrar e negociar acima dos 13.00 centavos de dólar por libra-peso possibilitando às usinas o hedge das suas posições contra aquele mês de vencimento que ainda pendiam de fixação. Como a permanência acima dos 13 centavos foi breve, a queda das cotações no pregão de sexta foi acelerada pela fixação das usinas “a qualquer preço”.
As notícias locais indicam que a safra de cana no Centro-Sul pode ser bem menor do que as 572 milhões de toneladas que se comenta. Sabe-se que algumas usinas em deterioradíssima situação financeira deixarão de moer este ano. A falta de chuva nas regiões canavieiras até meados da semana passada preocupava a área agrícola de várias usinas. O nível pluviométrico de algumas cidades como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Uberaba, Uberlândia e seus respectivos dificilmente alcançava 25% do volume ocorrido no ano passado nesse mesmo período.
Menor índice de chuvas na Índia foi destaque nas conversas dos traders. A Associação de Usinas de Açúcar da Índia (ISMA) reduziu sua previsão de safra para 30.3 milhões de toneladas de açúcar número muito próximo dos 30.8 divulgados pela Archer Consulting para seus clientes em outubro de ano passado.
Não houve mudança nos fundamentos na semana que passou, mas os fundos guiados por algoritmos e modelos matemáticos pouco se importam com isso, desde que do outro lado da mesa estejam traders arrancando os cabelos tentando entender que diabos está acontecendo com o mercado e ajudando a levar as cotações de NY para onde eles querem.