Internet ‘liga’ máquinas agrícolas em Mato Grosso

Internet ‘liga’ máquinas agrícolas em Mato Grosso

Em Água Boa (MT), projeto de conectividade ajuda a melhorar resultados no campo

Subir na caminhonete, dirigir 23 quilômetros, pegar o pen drive no trator, dirigir mais 23 quilômetros de volta até a sede da fazenda e, enfim, descarregar os dados sobre a operação de plantio ou colheita que ocorreu ao longo do dia. Essa era a rotina de Felipe Zmijevski, gerente da Agropecuária Jerusalém, em Água Boa, no Vale do Araguaia, em Mato Grosso, até 2021, quando a região recebeu suas duas primeiras antenas de telefonia — uma delas dentro da propriedade.

“A gente vem há anos trabalhando com o mapa de colheita para fazer análise de dados, mas sempre teve a parte de levantar o dado e o percurso de retirar, processar e analisar. E esse processo geralmente era feito nas operações mais importantes”, recorda Felipe.

A partir da conectividade e do monitoramento em tempo real de todas as operações, as reuniões de planejamento, que eram mensais, passaram a ser diárias, o que deu mais agilidade à tomada de decisões. Como resultado, a colheita agora leva três dias a menos do que demorava antes, o consumo de combustível diminuiu 25% e a produção ficou 18% maior.

O engenheiro agrônomo não deixa de reconhecer o papel do clima favorável no resultado da última safra, quando a fazenda colheu 12,9 mil toneladas, mas ressalta o ganho de eficiência que se conseguiu com o monitoramento em tempo real do desempenho das máquinas. Assim como Zmijevski, a concessionária em que ele comprou os equipamentos também tem acesso aos dados de operação da máquina, podendo prestar assistência técnica imediata.

“A gente teve um problema com a temperatura de uma das máquinas. Era um radiador entupido, uma coisa operacional simples, que a limpeza já resolveu”, recorda o gerente da Jerusalém. A solução imediata de pequenos problemas operacionais e o uso pleno de toda a tecnologia dos implementos garantiu um aumento de 4,2% no tempo médio de operação.

Gregory Riordan, diretor de tecnologias digitais para a América Latina da CNH Industrial, a fabricante dos tratores usados pela Agropecuária Jerusalém, a oferta de sinal de internet de qualidade é estratégica para a companhia, que tem como objetivo ter 100% de suas máquinas agrícolas com conectividade até 2025. “Imaginar um mundo sem conectividade no campo não é um mundo para o qual as nossas máquinas foram projetadas”, resume.

Fazenda Conectada
Partiu da fabricante de máquinas agrícolas a proposta para a instalação da antena como parte de um projeto batizado de “Fazenda Conectada”, desenvolvido em parceira com a TIM. A empresa de telefonia ficou responsável pela instalação de duas antenas na região, uma na fazenda e outra na cidade.

“Nós escolhemos uma fazenda e uma região que já entregava alta produtividade. Não fazia sentido nós montarmos uma fazenda conectada em uma região de baixa produtividade e aumentarmos o rendimento dela para alegar que tudo isso ocorreu graças à conectividade”, afirma Eduardo Penha, diretor de marketing e comunicação da Case IH — outra das marcas da CNH Industrial — para a América Latina.

Segundo ele, o projeto teve como objetivo mensurar os impactos da conectividade na operação agrícola para mostrar ao produtor os ganhos financeiros que a tecnologia é capaz de oferecer.

Segundo o estudo de viabilidade econômica feito por uma consultoria contratada pelo projeto, em um cenário de ganho de produtividade de uma saca por hectare, o investimento na instalação da antena, manutenção e sistema de telemetria, de R$ 1,4 milhão, se pagaria em até 3,17 anos. A Agropecuária Jerusalém conseguiu um aumento de produtividade de 3,15 sacas por hectare, o que permitiria pagar o investimento em menos de duas safras.

As empresas parceiras do projeto bancaram o investimento. Cada antena cobre até 30 mil hectares. Do ponto de vista comercial, a proposta é que, motivados pelo retorno financeiro gerado pela conectividade, os produtores arquem com esses custos — a TIM já uma cobertura de cerca de 14 milhões de hectares, mas ainda não tinha mensurado os ganhos efetivos de rendimento no campo.

“Agora a gente tem dados que podem mostrar justamente quanto da conectividade pode fazer diferença para produtividade e para a sustentabilidade”, argumenta o diretor de Desenvolvimento de Mercado IoT & 5G da TIM, Alexandre Dal Forno.

O jornalista viajou a convite da CNH Industrial

 

Globo Rural