Uma disputa internacional pela abertura maior do mercado brasileiro para o etanol de milho norte-americano acentua os problemas enfrentados neste ano pelos produtores de etanol e açúcar do país.
Com a pandemia e o isolamento social, o mercado interno do etanol hidratado já reduziu em cerca de 20% no primeiro semestre deste ano ante o ano passado. Os produtores, que têm condições, estão destinando a maior parte do caldo da cana para produção de açúcar, a fim de equilibrar as finanças.
Mas, às vésperas das eleições de novembro, Donald Trump ameaça uma retaliação comercial contra o Brasil, caso não reduza as tarifas de importação para entrada do etanol americano no mercado nacional. Ele quer jogar para o país o ônus de sua guerra comercial com a China, que suspendeu as importações do produto, gerando excedentes. Além de não conseguir implementar um programa mais robusto de mandatos de biocombustíveis com volumes mínimos nos combustíveis fósseis, fazendo vista grossa para as petroleiras.
Por outro lado, o Brasil já havia aumentado a cota de importação de etanol pelo país de 600 milhões para 750 milhões de litros anuais sem tarifa de importação, no início de setembro de 2019, com a incidência de uma tarifa de 20% sobre o excedente.
O fim da tarifa, objetivo dos norte-americanos, porém, coloca em maior risco a mais antiga área de produção sucroenergética do país, o Nordeste. É nessa região que entra grande parte do etanol estrangeiro, justamente durante o período da sua safra de cana-de-açúcar. Além de que todo o setor brasileiro, com mais de 360 usinas e geração em torno de 2 milhões de empregos diretos e indiretos, enfrenta dificuldades com a crise do coronavírus e a diminuição da demanda por etanol.
Para se chegar a um acordo, o governo brasileiro tenta há alguns anos discutir com os americanos uma contrapartida de ampliação da sua cota de açúcar para o produto nacional e redução da tarifação sobre o adoçante.
Os EUA impõem uma cota ao açúcar brasileiro, sem tarifa, de apenas 152 mil toneladas anuais, e o restante exportado recebe uma taxa de 140% sobre o valor do produto. Essa quantidade de 152 mil toneladas representa cerca de 1,3% de todo o mercado do país norte-americano de açúcar.
Segundo as projeções, a produção de açúcar brasileiro na safra 2020/2021 deverá alcançar um volume recorde de 39,3 milhões de toneladas ante 29,7 milhões no ciclo anterior. Esse aumento da produção vem sobretudo do Centro-Sul, que sairá de uma produção de 26,8 milhões de toneladas de açúcar na safra passada para cerca de 35,6 milhões de toneladas neste ano.
Pode estar no açúcar uma solução para esse mais novo embate de Donald Trump no comércio internacional, que desta vez atinge o Brasil e um dos seus mais importantes produtos de origem renovável da agroindústria nacional.
Mário Campos é Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais- SIAMIG