Ir além da conjuntura – Por Arnaldo Jardim

Ir além da conjuntura – Por Arnaldo Jardim

Não é novidade que o Brasil passa por uma grave crise econômica e política. Isto exige irmos além de soluções imediatas, é necessário repensar o País.
Alguns olham para a crise econômica e observam a taxa da inflação crescente, o recuo da produção nacional e o aumento do desemprego, causando sofrimento às famílias e podendo até levar o País a uma convulsão social.
Porém, além desta constatação emergencial, devemos atentar para a situação da indústria, que está perdendo, ano após ano, sua participação na formação do Produto Interno Bruto. Isto reflete diretamente na diminuição da qualidade de nossa pauta de exportações, quando as commodities primárias ocupam um espaço maior em relação aos produtos processados, consequência do processo de desindustrialização.
O governo federal teimosamente insiste que a crise atual é fruto de uma conjuntura externa, e se omite em promover reformas estruturais. Ampliando direitos de uma forma crescente, sem acumular as riquezas necessárias para tanto, sem políticas consistentes de inovação, vamos desabando a nossa produtividade.
O setor energético administrado com intenções eleitoreiras, deixou de ser uma possibilidade estratégica (Economia Verde) para se tornar um cruel fator de encarecimento dos custos de produção.
No caso da energia, o realinhamento de preços foi postergado ao máximo, de tal forma que a sinalização equivocada, via preços artificialmente baixos, fez com que a população consumisse e os estoques físicos dos reservatórios de nossas hidrelétricas se esvaíram, o que contribuiu para agravar a crise hídrica.
A contenção dos preços de combustíveis onerou de forma irresponsável a Petrobrás, aumentando expressivamente seu endividamento, comprometendo sua programação de investimentos e arrastou para o abismo o nosso Etanol.
Estas medidas populistas que agravaram a crise econômica, somadas a negligência do governo permitiram que as premissas da estabilidade econômica fossem corroídas.
É premente a necessidade de reformulação do projeto econômico e indispensável a pluralidade política neste debate e na construção do consenso necessário.
Essa crise econômica se desdobrou na instância política e num claro questionamento que hoje emerge das ruas. Tema nas manifestações populares dos dias 11 de junho e em 16 de agosto, o impeachment ou não da presidente Dilma e as novidades da lava jato. Porém, assim como na economia, as razões pelo qual devemos levantar a voz são mais complexas e precisam também de respostas estruturais.
A crise é agravada pela falta de liderança política da Presidência da República, pelo vazio de Poder existente. Isso ficou nítido na (des)articulação política junto ao Congresso, alianças sem nenhum fundamento, obtida a troco de benefícios localizados para se ter uma frágil maioria parlamentar.
A reforma política foi apequenada e nenhuma modificação para valer foi adotada.
Esta conjuntura política vem se instalando desde o primeiro mandato da Presidente Dilma e encontra fundamento na baixa vocação para o diálogo, seja com as próprias forças políticas que compõem a base do governo, seja com setores da sociedade civil organizada.
A manutenção do poder a qualquer preço, está comprometendo as instituições republicanas. Por isso além da conjuntura necessitamos de uma redefinição estrutural do sistema político.
De uma forma ampla, precisamos refundar a forma de governar, em que as composições políticas não sejam motivadas exclusivamente pelo ponto de vista da manutenção de uma governabilidade artificial, mas esteja fundamentada em um programa de reformas estruturantes para o País.
Para reverter esta situação de incertezas do cenário macroeconômico que ameaça as conquistas sociais, o País necessitará de políticas públicas estáveis e duradouras e, ainda, da construção de grandes consensos que impliquem não no mascaramento das divergências, mas que sejam capazes de se tornar ponto de aglutinação na formatação de um projeto de longo prazo. É assim que nós podemos ir adiante e pensar em um futuro melhor para o Brasil.
Arnaldo Jardim - Deputado Federal licenciado e atual secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de S. Paulo