O mercado futuro de açúcar em NY fechou nesta sexta-feira cotado a 16.11 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento maio/21, uma queda de 6 dólares por tonelada no acumulado da semana. Com a apreciação do real frente à moeda americana na semana (fechou a R$ 5,5521), as fixações de açúcar em NY para a safra 22/23, se ocorreram, perderam em média R$ 20.
Nos últimos doze meses (de março/2020 a fevereiro/2021) o Brasil exportou 31.6 milhões de toneladas de açúcar, um acréscimo de 69.2% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso significa que o mercado internacional nesse período recebeu quase 13 milhões de toneladas de açúcar brasileiro a mais do que no ano anterior. Já o preço médio obtido foi 1.3% inferior ao do ano passado.
O real desvalorizado ao longo do ano de 2020 abriu uma janela de oportunidades para o etanol, cuja exportação acumula 2.75 bilhões de litros nos últimos doze meses, um acréscimo de 42.4% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, o preço médio no período, em dólares por metro cúbico, foi quase 15% abaixo do ano anterior.
O que pode sustentar o mercado futuro de açúcar em NY acima dos 16 centavos de dólar por libra-peso (ou além) terá que vir de fora. Algum fator exógeno que nesse momento nos escapa à visão. Pode vir do mercado de gasolina que vai entrar na temporada de viagens no hemisfério norte e que, devido aos problemas climáticos no Texas, obrigando ao fechamento de refinarias, ainda reflete nos estoques disponíveis e nos preços.
Não acreditamos que as soft commodities venham a fazer parte de um eventual novo ciclo de alta das commodities, do qual muito tem se falado. Para se proteger contra um possível recrudescimento da inflação (em função do dinheiro injetado no mercado para ajudar as famílias) os fundos normalmente optam pelos contratos futuros de energia, de metais e de grãos. Até mesmo porque possuem um valor nocional maior e demandaria uma quantidade maior de lotes para atender ao propósito. Obviamente que estou simplificando a questão, mas optar pelos grãos, por exemplo, amplia o alcance em diversos subsetores (alimentação humana, animal, biodiesel, etc).
Nos últimos 20 anos, em apenas 4 ocasiões a média mensal do fechamento diário das cotações observadas em março, foram superiores àquela obtida no mês de fevereiro. A média mensal dos fechamentos diários de fevereiro foi de 16.97 centavos de dólar por libra-peso. Até agora, março acumula 16.22 centavos de dólar por libra-peso.
Desfazendo o mito que NY tem acompanhado a desvalorização do real, ou seja, o açúcar cai quando o dólar se valoriza e sobe quando o real se valoriza, uma péssima notícia: isso não tem ocorrido. A correlação dos últimos 20 dias de pregão mostra -0,45; a dos últimos 50 dias mostra 0,20 e a dos últimos 100 dias, 0.16. Ou seja, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Correr para fixar um açúcar em reais por tonelada porque o real se desvalorizou e consequentemente (você acha) que NY vai cair, não há evidencias. Mas, porque será que isso ocorre?
Sistemas de negociação por computador, inteligência artificial, robôs, negociadores de alta frequência, todos agindo segundo seus modelos estocásticos e a gente, aqui do outro lado, tentando encaixar uma narrativa que faça sentido e nos conforte, dando-nos segurança de que sabemos exatamente o que estamos fazendo e porque o mercado está agindo desta ou daquela forma.
Quando dissemos aqui, no último comentário, que não há a menor esperança para dias melhores no Brasil, não poderíamos imaginar que as coisas aqui pudessem ainda piorar em ritmo geométrico. A absolvição de um calhorda dos crimes praticados faz-nos pensar da famosa frase do humorista Millôr Fernandes, já falecido, que dizia: “O Brasil é o único país onde os ratos conseguem botar a culpa no queijo.”
Não importa onde esteja a sua preferência eleitoral, o fato é que para a sua empresa é muito importante, repito, MUITO IMPORTANTE, colocar a área de risco para rodar os cenários possíveis, espremendo e estressando os números e verificar onde estão as vulnerabilidades e procurar mitigá-las. Não é apenas do real que estamos falando, mas seu efeito nos preços do açúcar, etanol, diesel, energia elétrica, endividamento, e demais itens que fazem parte da matriz de riscos da sua empresa.
A eleição presidencial de 2022 não vai ser um processo determinístico, mas estocástico. Tudo pode acontecer. Duvida? Há quatro anos, ou seja, 19 meses antes das eleições de 2018, Lula estava na frente com 30.5%, Marina com 12.1% e Jair Bolsonaro com 11%.
Quem acompanha há tempos nossos comentários lembra das fortes críticas que fizemos ao Lula e à Dilma quando esses ocupavam o Planalto. Na época, chegamos a receber e-mails de vários leitores pedindo para “bater mais leve”, isso antes do “petrolão”. Depois que se provou quem esses dois indivíduos eram aí muita gente passou a ler os comentários começando “pelo último parágrafo” para ler a bordoada da semana. Agora o fenômeno se repete. A única diferença, para mim, é que eu não votei naqueles dois. E votei nesse que está aí para livrar-nos do mal, amém. Democracia é isso, “o pior dos regimes, mas não tem nenhum melhor do que ele”, parafraseando o grande estadista (qualidade rara hoje em dia) Churchill. Desde que a cordialidade seja mantida continuamos a responder às críticas.