Joint venture Raízen Geo Biogás investe em biometano

Joint venture Raízen Geo Biogás investe em biometano

Oito meses após protagonizar o maior IPO do país em 2021, a Raízen, quarta maior companhia brasileira em faturamento, volta a mostrar ao mercado o motivo que a levou a buscar as graças dos investidores. Com apoio dos recursos levantados no mercado, começará a construir, com sua parceira Geo Biogás e Tech, uma planta de biometano feito de resíduos da produção de etanol em Piracicaba, no interior paulista. Os investimentos deverão alcançar R $300 milhões.

É o segundo investimento industrial que a Raízen anuncia desde a abertura de capital – o primeiro foi em uma planta de etanol celulósico em Guariba (SP) –, e o primeiro aporte em biometano desde então.

Clientes garantidos

A planta da joint venture Raízen Geo Biogás já sai dos croquis dos engenheiros com clientes garantidos. O primeiro é a norueguesa Yara, uma das maiores produtoras de fertilizantes do mundo, que usará o biometano para produzir hidrogênio e amônia “verdes”, conforme contrato fechado em setembro de 2021.

O segundo cliente é a Volkswagen, que utilizará o produto em suas indústrias no Brasil. A Raízen já havia anunciado uma parceria com a fabricante alemã de automóveis em outubro, que também envolvia a entrega de energia elétrica e o desenvolvimento de novas fórmulas de etanol, mas só fechou o contrato de entrega de biometano recentemente. Com os dois clientes, toda a produção da nova planta de Piracicaba já está vendida.

A unidade será constituída de dois “módulos” de produção de biometano e terá capacidade para 26 milhões de metros cúbicos de gás renovável por ano. A Yara receberá 20 mil metros cúbicos de biometano por dia, enquanto a Volkswagen absorverá 50 mil. Em ambos os casos, o produto é uma das rotas que as empresas encontraram para reduzir a pegada de emissões de gases de efeito estufa de suas indústrias.

A vinhaça que será usada para produzir biometano já é utilizada como adubo orgânico nos canaviais que servem à Usina Costa Pinto, da Raízen. A planta de biometano, porém, não muda essa história. A diferença é que, antes de ser distribuída nas lavouras, a biodigestão da vinhaça reduzirá a quantidade de matéria-prima residual, mas serão preservados os teores de potássio e nitratos que servem como fertilizante para os canaviais.

A escolha da Raízen por Piracicaba para este projeto é simbólica (foi onde a Cosan iniciou sua história no setor sucroalcooleiro), mas é, principalmente, de ordem prática. Para garantir a entrega do biometano aos clientes, era preciso construir uma planta próxima à rede de distribuição de gás - no caso da Comgás.

Com a construção de mais uma unidade produtiva no polo de Piracicaba, Ricardo Mussa, presidente da Raízen, afirma que o local agora é um “parque de bioenergia”, e não mais apenas uma usina de cana. “Tem planta de etanol celulósico, tem cogeração, tem biogás. É como se fosse uma biorrefinaria.

No plano apresentado aos investidores antes do IPO, a Raízen prometeu 39 módulos industriais de biogás até a temporada 2030/31 – prazo que Mussa promete cumprir. A perspectiva é que as primeiras unidades sejam erguidas nas proximidades da rede de distribuição de gás, seja da Comgás ou da GásBrasiliano.

Nas usinas mais distantes da rede, o plano é destinar o gás renovável para substituir o diesel nas frotas próprias de máquinas agrícolas. “Não tem gargalo. A demanda futura pelo biometano tem baixo risco.”

Há ainda a possibilidade de produzir apenas o biogás para a geração de energia elétrica, oferecendo uma terceira alternativa de mercado. Na unidade que será erguida em Piracicaba, parte do biogás terá esse destino, com capacidade de geração de 5 megawatts-hora (MWh).

“Essa flexibilidade de produção é interessante. Estamos entregando o que prometemos, e com rentabilidade maior do que imaginávamos”, diz Mussa.

O executivo também manifestou otimismo com os planos para novas unidades de etanol celulósico, embora, até o momento, apenas uma das 26 novas plantas prometidas aos investidores tenha sido anunciada. Segundo Mussa, a qualificação dos fornecedores — etapa imprescindível para garantir a proteção das patentes industriais detidas pela companhia — está avançando “com boas surpresas”. “Estamos em corrida para surpreender o mercado”, disse.

 

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