Produção, consumo e criação de empregos poderão receber mais um bom impulso com a redução da taxa básica de juros a 6,75%, em fevereiro - uma quase promessa do Banco Central (BC), depois da última reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom). Mas a decisão dependerá, mais do que antes, da evolução do quadro econômico e político. Mais do que antes, portanto, o andamento do jogo na Praça dos Três Poderes será visto como um sinalizador para a política de crédito e, portanto, para a expansão ou limitação dos estímulos à atividade econômica. Por enquanto, a disposição exibida pelos dirigentes do BC, membros do Copom, é continuar proporcionando incentivos ao mercado, mas a linguagem, agora, é especialmente cautelosa.
Essa nova linguagem, mais temperada pela prudência, diferencia das anteriores a nota emitida logo depois da última reunião do Copom, no começo da noite de quarta-feira. Sem surpresa, o comitê havia decidido baixar a taxa básica, a Selic, de 7,5% para 7% ao ano. Foi o décimo corte consecutivo, desde outubro do ano passado, a partir do nível de 14,25%.
Mais uma vez, um ambiente favorável foi mencionado para justificar o novo afrouxamento da política. A inflação continua em queda e tende a ficar próxima da meta nos próximos dois anos, a recuperação da economia prossegue sem maiores problemas, o programa de ajustes e reformas está mantido e as condições internacionais são favoráveis.
Neste ponto há um discreto alerta: a atividade global se recupera "sem pressionar em demasia as condições financeiras nas economias avançadas". O presidente do BC, Ilan Goldfajn, tem recentemente insistido numa advertência: ninguém deve apostar num cenário externo benigno por tempo indefinido. Em algum momento, talvez em breve, o mercado financeiro internacional ficará menos propício.
Esta é uma forte razão para se avançar nos ajustes e reformas sem desperdício de tempo. Promover os consertos num prazo tão curto quanto possível é uma questão de segurança. A mensagem é clara e de uma sensatez incontestável. Mas só no Executivo - o presidente e alguns ministros - parece haver gente preocupada com o risco de um atraso no conserto dos fundamentos da economia. A maior parte do Legislativo, incluída a base aliada, parece desconhecer os perigos e sua responsabilidade na adoção das ações necessárias. Quando forçados a enfrentar o assunto, legisladores da chamada base tentam extorquir vantagens para cumprir seu papel.
A cautela reaparece, nos parágrafos finais, bem mais acentuada que em comunicados anteriores. Em primeiro lugar é reafirmada a conveniência de novas medidas de estímulo à economia: "O Copom entende que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural". Em seguida, o texto repete um recado de várias outras notas: o processo de reformas e ajustes contribui para a baixa dos juros estruturais, compatíveis com a estabilidade da inflação. Em outras palavras: ajustes e reformas abrem espaço para a redução segura da taxas básica e de mercado.
Enfim, aparece a promessa de novos estímulos, acompanhada de uma advertência mais firme. Novo corte da Selic, menor que os anteriores, poderá ocorrer na próxima reunião, se o cenário básico evoluir como se espera. Tradução parcial: a nova redução deverá ser de 0,25 ponto. Mas desta vez a visão do comitê será "mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e de seus riscos" que em reuniões anteriores. O cenário inclui o ritmo da atividade econômica, as condições de emprego, as pressões inflacionárias internas e externas, a economia global e, é claro, o andamento e as perspectivas do ajuste e da pauta de reformas.
É fácil apontar o componente mais inseguro, neste momento. É a política de ajustes e reformas. A sobreposição da vantagem particular do político ao interesse geral, vinculada aos ajustes e reformas, ameaça mais que o equilíbrio fiscal de longo prazo. Afetando a política de juros, ameaça também o crescimento e a criação de empregos em 2018.