Lista de cotados para Agricultura inclui ex-ministras e derrotados

Lista de cotados para Agricultura inclui ex-ministras e derrotados

Os nomes cotados para assumir o Ministério da Agricultura, a partir de 2023, são muitos, tanto do lado do presidente Jair Bolsonaro (PL) quanto do lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A lista com parlamentares ruralistas "aptos" a assumir o cargo é grande e, em comum, prevalece em ambas as campanhas a avaliação de cautela para aguardar o resultado das urnas para compor ministério e de incerteza quanto ao postulante, segundo fontes ouvidas pelo Broadcast Político.

"Sentar e dialogar" com o setor produtivo após a eleição também é apontada por interlocutores das duas candidaturas. A reportagem ouviu pelo menos 10 interlocutores, próximos a Lula e a Bolsonaro, e representantes do setor produtivo.

Em caso de reeleição de Bolsonaro, a indicação natural seria a ex-ministra e senadora eleita Tereza Cristina (PP-MT). Contudo, Tereza tem sinalizado que gostaria de ocupar seu cargo no Congresso e é cogitada também para o comando do Senado. "Tereza dificilmente vai voltar, mas é um nome unânime no setor", disse o presidente de uma entidade do agro. "Ela tem portas abertas se quiser voltar, tanto pelo setor, quanto pelo presidente, assim como pela frente. Talvez seja o único nome absoluto", afirmou um parlamentar ruralista.

O atual titular da pasta o ex-deputado federal ruralista e produtor rural, ministro Marcos Montes, também é citado nos bastidores, embora em menor frequência. "Ele foi braço direito da Tereza Cristina, entende bem o funcionamento do Congresso e ainda terá tempo para mostrar todo seu trabalho", comenta um dirigente do setor sojicultor. Ele lembra que o presidente Bolsonaro tem dito que os atuais ministros continuarão nos cargos.

Há a possibilidade também de o presidente Jair Bolsonaro pedir novamente, como fez em 2018, indicação formal de nome à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a bancada ruralista. Nesta hipótese, volta a ecoar, conforme dois deputados ruralistas, a indicação do deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS). Nome da FPA em 2018, Moreira se queimou à época ao alardear que seria ministro e foi preterido por Bolsonaro.

O próprio Moreira, que apoia Bolsonaro, refuta qualquer indicação precipitada. "Essa é uma decisão exclusiva do presidente da República. Queremos primeiro ganhar a eleição e discutir isso depois como estratégia. Se chamada para opinar, a frente até pode sugerir algum nome, mas só se chamada. Além de que, Tereza é candidata natural ao cargo por absoluta competência", disse ele ao Broadcast Político.

A ala mais bolsonarista e mais próxima do presidente Bolsonaro defende a indicação do senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS). Heinze, que disputou o governo do Rio Grande do Sul, possui mandato até 2027 e é visto como fiel escudeiro do presidente, permanecendo ao seu lado inclusive nos momentos mais polêmicos e o tendo defendido na CPI da Covid. "Heinze lidera o processo por ser alguém da FPA, caso mantido o esquema de indicação da bancada, por ser produtor rural e de um partido do Centrão, que facilitaria articulação", apontou um ex-deputado ruralista que atua na iniciativa privada do setor produtivo.

Outra parcela de aliados fiéis do presidente sugere o nome do secretário especial de Assuntos Fundiários e ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Nabhan Garcia. Garcia, contudo, é visto com restrições pelo setor. "Não precisamos de alguém para tumultuar no governo. Ele não se encaixa nem no perfil de 'se não for ajudar, pelo menos não atrapalhar'", criticou um pecuarista e liderança ruralista. Em 2018, Garcia era o nome preferencial de Bolsonaro, mas não passou pela "aprovação" do setor.

Lula
Do lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os nomes mais citados são os dos senadores Carlos Fávaro (PSD-MT), Kátia Abreu (PP-TO) e Simone Tebet (MDB-MS). Entre eles, Fávaro tem a "vantagem" de apoiar Lula desde janeiro, quando ainda era uma das poucas vozes do agro ao lado do ex-presidente e a boa interlocução com o setor produtivo, já que presidiu a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), e com a bancada ruralista.

"Não se menciona ninguém nominalmente ainda, mas (Aloizio) Mercadante, coordenador do programa de governo de PT, já deu sinais e teceu comentários a favor de Fávaro", relatou um interlocutor ligado ao comando da campanha petista. Fávaro é escalado oficialmente como o coordenador de assuntos agro da campanha petista e junto, com o deputado federal Neri Geller (PP-MT) e com o empresário de sementes de soja Carlos Augustin, compõe o núcleo duro de articulação da campanha petista com o agronegócio. "Ele deixou de concorrer ao governo do Estado a pedido do PT. Fez uma renúncia importante", aponta.

Para Kátia Abreu e Simone Tebet, pesa a favor o fato de que possuem mandato somente até 2023, diferentemente de Fávaro, mas pesa contra o fato de aderirem à campanha petista somente no segundo turno. "Simone mostrou qualidade. Ela seria uma excelente ministra, com trânsito entre os Poderes, perfil de Executivo e conhecimento do setor, mas parece preferir outra pasta como Educação ou Justiça", diz uma fonte do setor produtivo que colaborou com plano de governo agro da senadora na sua candidatura à Presidência.

Kátia Abreu, que foi ministra da Agricultura do governo Dilma, também é um nome bem recebido pelos empresários, mas visto com cautela pelos parlamentares ruralistas. "Há algumas posições muito radicais e ela não foi eleita. É muito difícil dar ministério para quem não foi eleito", apontou uma fonte. Questionada pelo Broadcast Político sobre um eventual convite para assumir novamente o ministério, Kátia se disse inclinada à iniciativa privada, mas disposta a ajudar o País de onde estiver. "Não há menor expectativa e nenhum convite nessa direção. Não existe nenhuma condicionante (de apoio) para isso. Hoje, estou muito entusiasmada para seguir um novo rumo de retorno à iniciativa privada. Como cidadã, estou pronta para colaborar de onde estiver", afirmou.

Inicialmente, Geller, que também é ex-ministro da Agricultura, liderava as especulações para assumir o ministério em caso de vitória de Lula. Entretanto, o parlamentar teve o mandato cassado e inegibilidade de oito anos decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que o impede de assumir cargos públicos. Caso consiga reverter a decisão junto ao Supremo Tribunal Federal, ele deve ser cogitado para assumir a secretaria de Política Agrícola do ministério, responsável pelo Plano Safra, ou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), comandando a retomada da política de estoques reguladores prometida por Lula.

O candidato a vice de Lula, ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB) é cogitado para o posto - nome bem recebido pelo setor produtivo. Aliados do ex-presidente, contudo, avaliam que nomeá-lo para chefiar pasta do Executivo poderia trazer obstáculos na relação entre Lula e Alckmin. O primeiro motivo impeditivo é a quantidade de parlamentares não eleitos que precisariam ser acomodados no eventual governo.

"Lula vai precisar incluir no seu governo os senadores Jean Paul (PT-RN), Simone Tebet (MDB-MS), Kátia Abreu (PP-TO) que não se elegeram e perdem o mandato em 2023 e possivelmente até a Fernando Haddad (PT-SP). Não há espaço para dar cargo a quem já possui espaço no governo", disse um parlamentar ligado à candidatura petista. O segundo seria que como vice, em caso de insatisfação de Lula ou de atritos com o setor, seria mais difícil retirá-lo do cargo. "Ninguém tira vice de cargo em Executivo, caso ele não queira. É praticamente vitalício até o fim do mandato", acrescentou o senador.

Outro nome citado, em menor frequência, mas visto com bons olhos tanto pelo campanha petista quanto pelo setor produtivo é o do ex-ministro Blairo Maggi. Maggi não se manifestou publicamente em apoio a Lula durante as eleições, mas vem atuando discretamente nos bastidores em prol ao ex-presidente. "Ele sabe das intenções. A questão é se ele sairia da iniciativa privada e voltaria ao governo", disse um empresário próximo à família Maggi. Ele lembrou que Maggi foi ministro durante o governo Temer, ou seja, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Aliado de Lula, Augustin também fala em cautela na composição de governo. "Primeiro, é preciso vencer a eleição e depois avaliar a governabilidade e interlocução com o setor", disse.

FPA
Há também articulação nos bastidores para escolher o próximo líder da bancada ruralista. Até o fim de janeiro, a FPA segue sob o comando do deputado federal Sérgio Souza (MDB-PR). Para o novo mandato, o nome mais cotado é do deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), aliado fiel do governo, caso o presidente Bolsonaro seja eleito.

Parlamentares mais ligados a Lula e ao Centrão trabalham com nomes mais neutros para liderar a bancada, como o do deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), em caso de eleição de Lula. A interlocução com a FPA é vista como estratégica, independente de governo, já que a frente congrega 280 parlamentares e é uma das mais influentes do Congresso.

 

Broadcast Agro