resumo e reflexões do agro de novembro
Começamos nosso resumo com as últimas projeções do Boletim Focus: inflação de 2018 agora em ligeira redução para confortáveis 3,94% e a do ano que vem em 4,12%. O PIB deste ano chegaria a 1,39% e o do ano que vem crescimento de 2,50%. Para a taxa de câmbio, o valor neste dezembro seria de R$/US$ 3,70 e R$/US$ 3,78 em 2019 e finalmente a taxa Selic para estes dois anos seria de 6,50% e 7,75%, respectivamente. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC -FGV), teve a segunda alta consecutiva, chegando ao melhor número desde julho de 2014. No geral melhoramos os indicadores em relação ao mês passado, provavelmente com o anúncio inicial da equipe do próximo Governo, bastante técnica e pró-mercados.
Poucas alterações na segunda estimativa da safra 2018/19 (CONAB). Para os grãos espera-se algo entre 233,7 a 238,3 milhões de toneladas (2,5 a 4,5% a mais), numa área plantada entre 61,9 e 63,1 milhões de hectares (0,3% a 2,2% maior). Em soja podemos colher entre 116,8 milhões e 119,3 milhões de toneladas, plantadas em cerca de 36 milhões de hectares. No milho a Conab estima que produziremos algo no intervalo entre 90 a 91 milhões de toneladas, plantados em 16,7 milhões de hectares. No limite superior da CONAB podemos bater o recorde histórico de produção de grãos, torcer para o clima ajudar e teremos mais esta boa notícia num ano de retomada do Brasil. Para estimular, a contratação de crédito rural nesta safra está 103% acima da safra anterior (dados até 08/11).
Segundo o MAPA, espera-se para 2019 o valor bruto da produção pecuária de R$ 200,4 bilhões, quase 8% a mais que os R$ 186,3 bilhões esperados para 2018. Frango deve crescer 16,4% (R$ 61,6 bilhões), o leite 10,4% (R$ 35,6 bilhões), bovinos 3,3% (R$ 79 bilhões) e suínos 1% (chegando a R$ 14,2 bilhões). Os ovos devem cair 5,6%, chegando a R$ 10 bilhões. Já para a agricultura se espera uma queda de 1,9%, ficando em R$ 384,2 bilhões. Com isto o VBP do agro deve ficar 1,1% maior, de R$ 584,7 bilhões. O impressionante é que este faturamento total da produção está 40% acima do valor de 2009.
Fechadas as exportações do agro em outubro, estas cresceram 5,7% em relação ao mesmo mês de 2017 e chegaram a US$ 8,48 bilhões, deixando um saldo de US$ 7,3 bilhões. Fortes aumentos na cadeia da soja (quase 80% a mais, cerca de US$ 2,62 bilhões), com incríveis 5,35 milhões de toneladas (115% a mais) exportadas nos grãos, que trouxeram renda 125% maior (US$ 2,11 bilhões). As carnes caíram 5%, mesmo com o recorde de vendas mensais de carne bovina (136.000 toneladas). Produtos florestais outra vez surpreenderam, com crescimento de 10,2%. Entre janeiro a outubro chegamos a US$ 85,14 bilhões no total exportado e um saldo de US$ 73,42 bilhões. Como ainda faltam dois meses, a menos que ocorra algum desastre, as exportações devem passar dos US$ 100 bilhões pela primeira vez na história do Brasil. Precisamos buscar US$ 14,86 bilhões somando os dois meses que faltam.
Foram 30 dias sem boas novidades nos preços das principais commodities exportadas pelo Brasil. O índice da FAO (preços mundiais das commodities em dólar) mostrou queda de 0,9% em outubro e está 7,4% menor que na mesma época do ano passado. A queda neste mês foi puxada por carnes, óleos e lácteos. O índice vem caindo desde maio. No caso dos cereais, subiu 2,2% e os preços estão 9% acima do ano passado, valores em dólar, da média de todos os cereais.
Mas as margens para nossos produtores de cereais devem ser piores na safra 2018/19. Em momento importante de compras de insumos, o câmbio esteve acima de 4 reais e os fez mais caros. Se o câmbio permanecer nos valores de 3,70 durante a safra, quem também não vendeu nada dos produtos ao câmbio de 4,20 (lembrando que aqui nesta coluna mensal recomendei fortemente a venda quando a soja se aproximou de R$ 83) terá um descasamento. A consultoria Céleres estima margens 27% menores. Segundo o Rabobank gastos com fertilizantes foram de 15 a 35% maiores e com defensivos, cerca de 20%.
As chuvas frequentes também podem trazer maior necessidade de controles e investimentos em defensivos. A menos que tenhamos valorização de preços, o que aparentemente não ocorrerá caso as safras se comportem bem, virá um período de mais aperto, apesar dos preços em reais ainda permitirem margens aos bons produtores. No fechamento desta coluna a soja estava R$ 70 a saca (fevereiro de 2019 a R$ 67), o milho a R$ 23/sc e arroba do boi a R$ 134.
Surpreendeu o último relatório do USDA, que derrubou a expectativa de compras de soja pela China em 9 milhões de toneladas na safra 2018/19, vindo de 94 para 85 m.t.. Os argumentos são a guerra comercial com os EUA, casos de peste suína africana que podem diminuir a demanda de soja para rações e política de vendas de estoques de grãos. Temos que prestar muita atenção na evolução da peste suína africana na China, pelo baixo padrão sanitário e dificuldade de combate, podendo ter impactos positivos para as carnes brasileiras se sua produção for reduzida e negativo para a soja num primeiro momento. Os prêmios da soja em Paranaguá estiveram agora em novembro em US$ 2,20 a mais que o valor do bushel negociado na bolsa de Chicago, mas os de entrega em março, caem para apenas US$ 0,90.
Temos agora que prestar atenção nas conversas entre EUA e China para ver o que acontece no mercado de grãos e do agro. Por enquanto, imprevisível saber como serão as tensões comerciais. Se pudesse recomendar ao novo Governo do Brasil, devemos ser muito diplomáticos e tentar ser o “amigo de todos”. O Brasil precisa vender desde o boi em pé até a carne bovina orgânica embalada para todos os compradores que desejarem nossos produtos, e na forma como desejarem.
Entre os estudos relevantes divulgados no mês que pude acompanhar, vale destacar 3. O primeiro fala sobre o mercado de terras, feito no Agrianual da FNP, onde espera-se mais negócios e aquecimento para 2019 com expectativa de aprovação de reformas e melhoria do ambiente de negócios, além da possibilidade de aquisição de terras por estrangeiros.
O segundo, feito pelo Boston Consulting Group (BCG) aborda as consequências do tabelamento de fretes: aumento de preços e perda de competitividade, compra de frotas próprias com aumento da ociosidade, além das especificidades dos fretes, que uma tabela tem dificuldades de contemplar, tais como: presença do frete de retorno, condições das rodovias, tempos gastos para carregamento/descarregamento, produtividade, e as diferenciações por qualidade/idade do caminhão. A BCG conclui que o tabelamento é muito mais negativo que positivo, por ser complexo, trazer distorções e maior ociosidade de ativos. Todos estes fatores antecipei em artigo, além disto e embalado neste estudo, números da CNA e da EPL mostram que caso projetos de infraestrutura fossem realizados pelo Governo o Brasil poderia ter uma economia anual da ordem de R$ 33 bilhões por ano nas atividades de transporte (segundo o Movimento Pró-Logística, uma tonelada de soja de Sorriso até a China custa US$ 111, enquanto que de áreas concorrentes dos EUA é de US$ 56).
Finalmente, no terceiro estudo, algo para pensarmos... uma ameaça de longo prazo ao agro brasileiro é sua distância em relação aos grandes compradores aliado à venda de produtos com grandes volumes aos preços de commodities. É a conclusão de um estudo feito pela Coppe/UFRJ ao Instituto Clima e Sociedade (ICS). Preocupa a posição de maior proximidade de nossos concorrentes dos mercados compradores, pois as emissões para o transporte desde o Brasil em alguns casos chega a ser 3 vezes maior, além do custo do combustível e frete. Este é um ponto de médio prazo a ser estudado com o aumento da pressão feita na e pela Organização Marítima Internacional (IMO) visando reduzir emissões via eficiência energética, uso de biocombustíveis ou mesmo tributação. Já há uma meta para reduzir 50% das emissões de CO2 até 2050 em navios. A mensagem aqui é a de prestar atenção nestes movimentos e seguir buscando vender produtos com menor volume e maior valor, onde o peso do frete seja mais diluído.
Concluo com um sentimento de satisfação com os novos rumos do Brasil. O Presidente Bolsonaro vem indicando quadros de perfil técnico e sinto nas pessoas uma sensação maior de civismo e vontade de fazer a diferença. Isto é uma grande mudança em relação à sensação anterior de não ver futuro ao Brasil. Este otimismo pode ajudar na aceleração da economia, do consumo criando mais oportunidades e aumentando a sensação de bem estar. Bom dezembro a todos, momento de fazer os balanços, os planos e fechar as atividades, além das deliciosas celebrações.
Marcos Fava Neves é Professor Titular das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo. Especialista em planejamento estratégico do agronegócio (favaneves@gmail.com).