Mercado acorda para a realidade e sobe vigorosamente - Por Arnaldo Luiz Corrêa
Quem ficou surpreso com o desempenho do mercado futuro de açúcar em NY no fechamento das cortinas na sessão desta sexta-feira, é porque não percebeu os sinais que há muito o mercado tem emitido ao longo dos últimos meses e que, agora, se concretizam debaixo dos nossos narizes. O mercado reagiu muito violentamente num menor espaço de tempo. O nome disso é pânico. O volume negociado na sexta foi de 335,000 contratos. Lembra quando falamos a semana passada sobre o volume fraco de negociação nos meses de julho e agosto? Setembro está com volume médio diário de 220,000 lotes, ou 160% a mais que a média dos dois meses anteriores? Acha isso coincidência?
Sabe quanto estava o mercado de açúcar em NY há um ano? 11.47 centavos de dólar por libra-peso. Um aumento de 90% em doze meses.
Quando divulgamos nossa previsão da produção de cana para a safra 2016/2017 no Centro-Sul, em janeiro deste ano, ela mostrava 618,5 milhões de toneladas de cana enquanto a média das previsões que circulavam no mercado estava entre 622 e 644 milhões de toneladas. O mercado parece perceber apenas agora que o Brasil vai produzir bem menos cana do que se pensava. O rendimento caiu vertiginosamente nas últimas duas semanas e o mercado tomou o papel de um trem destrambelhado, sem freios, levando consigo todos aqueles que estavam vendidos a descoberto, ou esperando uma realização de lucros para se cobrir, ou rezando para que os fundos despejassem no mercado a enorme posição comprada que possuem.
Até as pedras sabem que as usinas estavam praticamente fixadas na totalidade do volume da safra 2016/2017, talvez com algum volume ainda pendente a ser fixado contra o vencimento março de 2017 e iniciando, embora percentualmente ainda baixo, as fixações em reais para o ano 2017/2018.
Vamos aguardar para ver quais as consequências que esse estouro da boiada ocorrido na sexta-feira, em que o contrato futuro de açúcar em NY com vencimento outubro/2016 encerrou o pregão a 21.78 centavos de dólar por libra-peso, após bater 22.20 centavos de dólar por libra-peso, engordando quase 180 pontos na semana (39.50 dólares por tonelada), trará para o mercado futuro nos próximos dias. NY atingiu o maior nível de preço desde agosto de 2012. E também a ultima vez que o mercado teve uma variação diária de 6%, foi em abril deste ano. E em fevereiro tivemos uma variação maior do que os 130 pontos vistos nesta sexta.
Primeiramente, as tradings, bem como os provedores de operações estruturadas de balcão vão enfrentar uma gigantesca chamada de margem na segunda-feira estimada em US$ 300 milhões. Os humores desse lado do negócio não estão dos melhores. Chamada de margem é dinheiro retirado da veia e torna as tradings mais seletivas e restritivas na abertura de janela de fixação para a safra 2017/2018. Em segundo lugar, mas não menos importante, é o sinal de alerta que sucede do fato de que com menos produção de açúcar do que se esperava, algumas usinas podem ter dificuldade de cumprir integralmente seus compromissos de entrega de açúcar, muitos dos quais já estão fixados. E aí a trading coça a cabeça se além da chamada de margem que sangra seu caixa, pode também correr o risco de enfrentar um default por falta de produto. Em terceiro lugar, a volatilidade das opções subiu fortemente (de 2% a 4%), indicando possivelmente, compra de calls (opções de compra) para fazer frente aos futuros vendidos e a diminuição do impacto nas chamadas de margem. O negócio está punk!
Simulando o fechamento do mercado de açúcar de NY na sexta com um eventual NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira), o vencimento maio/2017 apresenta R$ 1,738 por tonelada FOB. Um preço que nem nos sonhos mais róseos poderia habitar o imaginário do mais otimista dos usineiros. Fazer o que, hein? Acredito que o mercado em centavos de dólar por libra-peso vai continuar subindo até o patamar de 24 centavos de dólar por libra-peso (falamos isso aqui muitas e muitas vezes), mas quando se trata de reais por tonelada acredito que a conversa é outra. É um preço excelente e continuando a diferença de retornos entre o açúcar e o etanol (este com 700 pontos de desconto em relação ao açúcar NY), é evidente que o ano que vem veremos as usinas testarem no limite sua capacidade de fabricação de açúcar. Não perca o foco e não se deixe levar pelo pânico mesmo que você saiba que o maior comprador individual de açúcar brasileiro desembarca aqui na semana que vem.
Como faz falta no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil um nome com a envergadura do professor Roberto Rodrigues, agrônomo, profundo conhecedor dos problemas da agricultura brasileira e, principalmente, do setor sucroalcooleiro. Orador de primeira grandeza, interlocutor atento, respeitoso e respeitado por todos os segmentos do agronegócio. Cavalheiro e homem raro nos dias atuais. Enquanto não temos um político com essa competência, vamos engolindo o ministro Blairo Maggi que teve o desplante de dizer que subsídios no setor sucroalcooleiro atraíram incompetentes. Disse o ilustre ministro que “para se ter eficiência com o etanol, há de se produzir muita cana de açúcar, 100, 120 toneladas por hectare, essas empresas [referindo-se às usinas] perderam produtividade e ao invés de 100 toneladas, produzem 60”. O ministro não disse aonde é que está esse subsidio do qual faz menção. Se existe ou existiu, ninguém sabe ninguém viu. O que se sabe – e muito bem sabido, haja vista a divida que as usinas carregam – é que a tal incompetência a que ele se refere deve ter suas raízes profundas nos treze anos de governo petista (que ele apoiou por doze anos, diga-se de passagem) que afundaram o setor sucroalcooleiro, principalmente com os subsídios sim, mas à gasolina, acarretando perdas (pelos nossos cálculos) de 100 bilhões de reais apenas nos anos administrados pela incompetente presidente deposta Dilma Rousseff. Quem fala demais acaba dando bom dia a cavalo. Tenha dó, ministro.