Mercado ainda precisa de consolidação - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Mercado ainda precisa de consolidação - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Duas coisas surpreendentes na semana que se encerrou: o desempenho forte do mercado de açúcar, que teve o vencimento março de 2019 fechando na sexta-feira a 12.60 centavos de dólar por libra-peso e a posição dos fundos que, do contrário que se esperava, adicionaram mais contratos à já enorme posição vendida a descoberto.

Os vencimentos março/2019 até março/2020 que cobrem o período de fixação correspondente à safra 2019/2020 do Centro-Sul subiram em média 30 dólares por tonelada na semana. Há menos de dez dias o mercado negociava abaixo de 10 centavos de dólar por libra-peso, no primeiro mês de vencimento, e com toda essa movimentação de alta, os fundos ainda aumentaram a posição vendida em 11,000 lotes.

Muita água vai correr debaixo da ponte ainda, mas quem nos acompanha é testemunha que dissemos aqui por várias vezes que os preços iriam começar a se recuperar no último trimestre do ano, só não poderíamos imaginar que a recuperação viesse já no início de outubro. Mas, ainda é cedo para a consolidação. A principal razão é que ainda estamos moendo cana e o número de safra ainda não fechou, evidentemente.

No entanto, várias coisas conspiram a favor de uma melhora significativa do mercado. São elas:

  • A produção de cana no Centro-Sul caminha para um volume menor do que 550 milhões de toneladas;
  • Nove entre dez usinas com quem temos falado não acreditam que no próximo ano teremos mais cana.
  • Embora prematura, a previsão gira em torno de 540 milhões de toneladas de cana para a 2019/2020;
  • O petróleo parece querer ficar acima de 80 dólares por barril, isso dá sustentação ao etanol hidratado, via paridade e, consequentemente....
  • Aumenta a perspectiva de que a próxima safra será ainda mais alcooleira;
  • Como o Brasil vai exportar menos em 2019/2020 (veja a estimativa de fixação logo abaixo) a pressão de venda pode ser bem menor;
  • Os preços do etanol na entressafra podem atingir valores acima de R$ 2.4500 por litro e para que o mercado internacional de açúcar seja atrativo suficientemente para que as usinas reflitam sobre produzir mais açúcar para a próxima safra, NY vai precisar buscar no final deste ano, pelo menos 13.50 centavos de dólar por libra-peso;
  • A eleição de um presidente com viés liberal reafirma que a Petrobras deverá continuar com a política de formação de preços dos combustíveis seguindo o mercado internacional;
  • A posição dos fundos, muito embora eles não estejam nem um pouco apressados em liquidá-la pode eventualmente ser explosiva se algum fator exógeno afetar o açúcar e acionar a recompra das posições;
  • A Índia pode demorar em exportar o açúcar subsidiado e o mercado ficar aflito, se a diminuição da disponibilidade do Brasil for levada a sério;
  • Um eventual crescimento da economia brasileira para o próximo ano vai combinar um consumo há muito represado da indústria alimentícia, um aumento significativo na venda de veículos leves (este ano devemos fechar com 15% acima de 2017) que vão nos mostrar que não há cana suficiente para atender o mercado interno de açúcar industrial e para o consumo de de combustíveis.

A estimativa de fixação das usinas, com base em 31 de agosto de 2018, aponta que 2,824 milhões de toneladas de açúcar da safra 2019/20 já estavam fixadas até aquela data. Se assumirmos que o Brasil deve exportar 21 milhões de toneladas de açúcar no ano que vem, então 13,45% da safra já estaria fixada. O valor médio das fixações está em 13.27 centavos de dólar por libra-peso sem prêmio de polarização, equivalentes a 49,96 centavos de real por libra-peso. O valor médio de fixação da safra é de R$ 1.147,59 por tonelada equivalente FOB Santos, neste caso já incluso o prêmio de pol.

O Brasil vai às urnas deste domingo para escolher seu próximo presidente. Nunca o pais esteve tão dividido e tão polarizado. Os nervos estão à flor da pele e o que se vê são amigos desfazendo amizades nas redes sociais, a intolerância entre familiares que se opõem entre si e uma chuva de ofensas e impropérios que beiram a barbárie. É a herança que nos deixou a organização criminosa que atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores. O que era para ser uma eleição em que o melhor entre os melhores é escolhido, tornou-se um plebiscito em que o eleitor vai ter que escolher se quer que a quadrilha que roubou o país nos últimos dezesseis anos continue no poder roubando tranquilamente, ou não. Difícil ficar otimista com esse estado de coisas.