Mercado de açúcar: O lado perverso da desvalorização - Por Arnaldo Luiz Correa

Mercado de açúcar: O lado perverso da desvalorização - Por Arnaldo Luiz Correa

O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana com mais uma nova baixa. Desta vez com o vencimento outubro de 2015 encerrando o pregão de sexta-feira cotado a 10.66 centavos de dólar por libra-peso, elevando a queda acumulada no ano em mais de 27% e fazendo com que o açúcar alcançasse o topo de commodity mais desvalorizada de 2015. O fechamento desta semana é o mais baixo desde dezembro de 2008.
O lado perverso da desvalorização do real é que ela afeta o preço em centavos de dólar por libra-peso negociado em NY de maneira inversamente proporcional. A correlação observada no mês de julho foi de -0.8432, isto é, a cada 1% de valorização do dólar em relação ao real, o preço em NY desvaloriza 0.84%. De certa forma, o valor em reais por tonelada obtido pela usina não sofre grande alteração. O fato lamentável, no entanto, comentado por uma usina do setor em dificuldades financeiras, é que ela teve que fazer um adiantamento de contrato de câmbio há alguns meses quando o dólar estava ao redor de 2.7000 para atender aos compromissos de custeio e apenas agora, que vai embarcar seu açúcar, foi-lhe permitido fixar seu contrato comercial junto a trading vendendo NY praticamente na bacia das almas, pois n&at ilde; o possui limite de crédito para fixar o preço com muita antecedência. Ou seja, um duplo e calamitoso revés.
Mais perversa que essa situação que agrava ainda mais as usinas endividadas e cujo montante da dívida estimada pela Archer pode ultrapassar os R$ 90 bilhões em função do dólar mais forte, é que a desvalorização do real tem um fortíssimo componente político porque não se viu ainda o capital estrangeiro indo embora. O dólar reflete a abissal incompetência do governo petista de Dilma Roussef, uma presidente incapaz de conectar de maneira inteligível uma frase à seguinte, tanto menos o de ditar os rumos de um país com a complexidade do Brasil, que exige dos seus governantes extrema capacidade de planejamento, habilidade política e conhecimento de economia.
A raiz do problema do setor sucroalcooleiro, não podemos jamais esquecer, foi a política de congelamento da gasolina imposta por esse partido abominável desde 2005 que foi solapando aos poucos os alicerces do setor sucroalcooleiro. Com a política econômica adotada por Lula e sua trupe que focava no consumismo desenfreado e crédito farto fazia sentido para o ex-presidente que se financiassem automóveis em até 84 meses, e – ato contínuo - que a gasolina fosse barata. A tal simpatia que alguns formadores de opinião achavam que Lula nutria pelo açúcar e álcool (a ponto de homenageá-lo) só se evidenciaria se adicionássemos gelo e limão.
A conta das patacoadas de Lula e Dilma veio mais tarde com o enorme prejuízo da Petrobrás (sem contar com os roubos da quadrilha do partido cujos núcleo agora se reúne de macacão laranja) e com a desconstrução do setor. Hoje, a gasolina no Brasil ainda está abaixo do preço no mercado internacional em cerca de 5%. O setor não imagina que é ele quem paga parte dessa conta.
Em 2013 escrevi um artigo com o título “A Venezuelização da Petrobrás”. Na ocasião, antes de surgir o escândalo de corrupção em que o PT está enterrado até o pescoço, comentei que: “para elevar a produção, a Petrobras precisa de dinheiro, precisa de caixa sobrando, coisa que a estatal não conseguiu em função do sangramento provocado pela importação de gasolina por um preço acima do que recebe. A insegurança do mercado financeiro em relação à gestão da estatal do petróleo vai implicar numa provável queda do rating e no aumento da taxa de risco e juros a ser oferecido a partir de então”. Parece que foi escrito hoje.
Nunca se viu no passado recente uma crise política dessa magnitude, principalmente num governo que está apenas no oitavo mês do seu segundo mandato e com apenas 7% de apoio de algum alienado ou alienígena. Talvez a crise seja menor do que a percepção de todos. Também não se viu uma crise no setor como agora. Nem mesmo o assombro de ver os preços do açúcar no mercado de NY negociando abaixo de 5 centavos de dólar por libra-peso, em 1999, chegam perto do que vemos hoje. Naquela época o endividamento das usinas não chegava a 30% do faturamento anual das empresas (aquelas que estavam muito mal). Não se via usina quebrar ou parar de moer. Hoje, a coisa está para lá de periclitante. Qual futuro nos espera?
Alguns bancos reduziram a previsão de preços para o petróleo para o próximo ano. Patricia Hemsworth, especialista do mercado de energia, acredita que o petróleo (WTI) pode bater 40 dólares por barril. É um sinal de que o etanol também possa vir a ter um teto. 
A Archer divulgou no início da semana sua 3ª. Estimativa da Produção de Cana no Centro-Sul para a Safra 2015/2016. Mantivemos o volume de cana a ser moída da estimativa anterior (581 milhões de toneladas), mas com sensível mudança da quantidade de ATR por tonelada em função do menor rendimento e da impossibilidade de alcançarmos a ATR média que prevíamos para a safra toda. Também fizemos mudança no mix reduzindo a disponibilidade de açúcar e aumentando a produção de etanol, bem em linha com o atual momento. Em vista disso, reduzimos nossa produção de açúcar para 29.796 toneladas (da anterior 32.642) e aumentamos a produção de etanol para 27.488 metros cúbicos (da anterior 26.613).
A volatilidade das opções está aumentando. Uma operação que straddle 12.00 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento março de 2016 está negociando a 180 pontos. Para quem tiver coragem de vender o straddle, isso significa que se o mercado expirar em meados de fevereiro/2016 abaixo de 12 centavos de dólar por libra-peso, você comprado o equivalente a 10.20 centavos de dólar por libra-peso. Se expirar acima de 12 centavos de dólar por libra-peso, você está vendido o equivalente a 13.80 centavos de dólar por libra-peso.