De meados de julho para cá, os fundos não-indexados (especulativos) passaram de uma posição de 71,500 contratos comprados no açúcar em NY para 179,250 contratos, segundo o número publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities. No mesmo período, o mercado de açúcar oscilou de 11.27 para 13.28 centavos de dólar por libra-peso.
Grosso modo, os fundos adicionaram desde então 107,750 lotes à sua posição comprada ao mesmo tempo que o mercado variou 201 pontos (44 dólares por tonelada). Isso quer dizer que para movimentar 10 pontos em NY (0.10 centavos de dólar por libra-peso) os fundos precisaram comprar o equivalente a representa 272.000 toneladas. Um esforço hercúleo.
As usinas continuam aproveitando os bons preços em reais por tonelada e aceleram as fixações tanto da safra 21/22 como também da safra 22/23, dependendo naturalmente do fluxo de caixa e linha de credito disponíveis para a consecução dessa estratégia. A correlação do câmbio com o contrato de açúcar em NY tem estado em 0.75-0.80 nos últimos vinte dias, um indício de que a desvalorização da moeda brasileira afeta a cotação de NY de maneira contundente.
Os fracos números do PMI (Purchasing Managers Index) da Europa, índice que coleta informações precisas acerca da saúde da economia europeia, vieram abaixo do esperado pelo mercado. Temos mencionado aqui nesse espaço que agosto e setembro são os meses que vão proporcionar dados com maior acurácia na análise do rombo do consumo mundial. E os dados, quando chegam, apenas comprovam nosso temor.
Com isso, as commodities sentiram o baque na sexta-feira e operaram em território negativo. No acumulado do mês, no entanto, a maioria andou de lado, sem grandes destaques. O açúcar sofreu uma queda na semana de 4.00 a 9.50 dólares por tonelada repetindo o mesmo modelo das semanas anteriores, ou seja, quanto mais longe o vencimento maior a queda em centavos de dólar por libra-peso. Isso ocorre devido à curva do dólar via NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, que eleva as cotações em reais por tonelada ao longo do tempo atraindo mais vendedores.
O vencimento outubro/2020 fechou a 12.83 centavos de dólar por libra-peso (queda de 6.60 dólares por tonelada na semana), mas o real se desvalorizou 3.64% em relação à semana passada, encerrando a R$ 5,6193. Com isso, o valor médio do açúcar na semana subiu 26 reais por tonelada para a safra 20/21, 31 reais por tonelada para a safra 21/22 e apenas 5 reais por tonelada para a safra seguinte.
Enquanto os fundos tiverem fôlego para continuar empurrando o mercado para cima vamos continuar a ver esse fluxo positivo para as usinas, que vão continuar a aproveitar. Um leitor da coluna alertou que a posição recorde comprada pelos fundos ocorreu no final de setembro de 2016 quando o volume de contratos alcançou 346,000 lotes que representava na época 40% da posição em aberto ao mesmo tempo que os preços em NY estavam ao redor de 22 centavos de dólar por libra-peso e o valor corrigido (pelo IGPM) era equivalente a R$ 2,222 por tonelada.
Para alcançar hipoteticamente o mesmo valor, considerando a cotação do dólar pelo fechamento de sexta-feira informado acima, NY precisaria subir 435 pontos. Outro exercício que podemos fazer é supor que os fundos objetivassem ter uma posição comprada que valesse os mesmos 40% da posição em aberto. Hoje, a posição em aberto em NY é de 1,030,000 contratos aproximadamente, ou seja, para chegar a 40% dela, os fundos precisariam comprar mais 232,750 lotes. Um volume bem expressivo.
Se optarmos apenas para o recorde nominal, veríamos uma compra adicional de 166,750 contratos. Numa regra de três simples, projetando que os fundos empregariam o mesmo esforço que tiveram recentemente, isso resultaria teoricamente em NY subindo para 21.50 centavos de dólar por libra-peso na primeira hipótese e 19.00 na segunda. Pura conjectura.
O cenário econômico interno, por enquanto, parece ignorar o risco de ruptura e aprofundamento da crise política que deverá nos atingir no próximo ano uma vez que Jair Bolsonaro está em plena campanha mesmo sem ter assumido a presidência. Para ser reeleito e proteger os filhos, o presidente vai atender a todas as demandas do Centrão e essa conta virá para toda a sociedade. Difícil ser otimista.
As exportações brasileiras de açúcar acumuladas no ano (janeiro até julho) somam 14.6 milhões de toneladas, 55% acima do mesmo período do ano passado. A safra 20/21 (abril até julho) totaliza 10.33 milhões de toneladas de açúcar contra 6.1 milhões de toneladas no mesmo período do ano anterior. Em doze meses, o total de exportação de 23.2 milhões de toneladas de açúcar é superior em 21.7% o mesmo período do último ano. As exportações de etanol quase 2.2 bilhões de litros nos últimos doze meses representam um acréscimo de 21% do período anterior. Será que vamos quebrar o recorde de exportação de 29,775,000 num período de doze meses corridos?
Correm fortes rumores no mercado de que uma grande empresa conseguiu negociar de maneira satisfatória seu enorme endividamento junto ao setor financeiro e obteve substancial redução (haircut) dos débitos ao redor de 50%. Com isso, cumprindo os trâmites exigidos pelo potencial comprador (outra grande empresa do setor), ela está apenas aguardando o bater do martelo.