Mercado reage bem à liquidação dos fundos - Por Arnaldo Luiz Corrêa
Os fundos não liquidaram suas massivas posições compradas no mercado futuro de açúcar em NY no volume que se esperava e, de certa forma, até que o mercado se segurou bem encostando muito próximo da média de 100 dias (pelo nosso cálculo ela é de 20.71 centavos de dólar por libra-peso) e não desabando. A variação na semana, no entanto, foi negativa, com o vencimento março de 2017 encerrando cotado a 21.73 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 43 pontos em relação ao fechamento da semana anterior. Os quatro vencimentos seguintes oscilaram praticamente de modo linear com o março, ou seja, quedas entre 38 e 43 pontos.
Do lado positivo, fundamentalmente falando, a demanda chinesa por açúcar melhorou bastante abrindo perspectivas de importação por parte daquele país. As conversas acerca de uma safra de cana menor para o ano que vem no Centro-Sul apontam para números inferiores a 590 milhões de toneladas. Não acredito que o mercado tenha levado esse dado em consideração até o momento.
Do lado negativo, o fechamento do primeiro mês de negociação do contrato futuro de açúcar em NY, convertido em reais por tonelada, no final de outubro apontava uma queda de mais de R$ 100 por tonelada em relação ao final do mês anterior. O petróleo também despencou no mercado mundial como reflexo da ameaça da Arábia Saudita de aumentar sua produção.
A semana que vem pode vir carregada de surpresas em função do que sair das eleições presidenciais americanas. Não dá para arriscar um palpite depois da experiência que vimos com o Brexit. Qual o efeito que a eleição do candidato republicano pode ter no mercado é uma das grandes incógnitas do momento. Uns acham que a eleição de Trump é ruim para o dólar e beneficia as commodities, outros acham que o efeito é neutro.
Os fundos liquidaram aproximadamente 45.000-50.000 lotes e o mercado, como dissemos acima, reagiu bem. É importante observar que essa redução pode ser vista como construtiva pelo mercado pois foi absorvida pelos comerciais.
Como fazemos todo o início do mês acionamos nosso modelo de preços para apurar a previsão do nível médio de preços de NY para o mês de novembro (preço médio é a média aritmética dos fechamentos do primeiro mês de vencimento). No mês passado, nosso modelo indicava que o preço médio de outubro ficaria em 22,89 centavos de dólar por libra-peso (enviado apenas para os clientes da Archer). Bem, a média apurada efetiva para outubro acabou sendo de 22,92 um erro de apenas 0.13%. Para este mês de novembro, o modelo estima um preço médio de 22,72 centavos de dólar por libra-peso. Nossos clientes receberam também as previsões até fevereiro/2017. Lembre-se que nos últimos dezesseis anos, o preço mais alto da safra ocorreu invariavelmente nos meses de janeiro e fevereiro. Não esqueça que os modelos FALHAM.
Algumas coisas podem fazer com que o mercado de açúcar continue subindo em centavos de dólar por libra-peso, muito embora acreditamos que o nível máximo que veremos (num estresse combinado com pânico) seja o de 25 centavos de dólar por libra-peso entre janeiro e fevereiro, nas condições atuais, ou seja, dentro do quadro de expectativa que se tem de real, safra de cana, petróleo, etecetera.
Mudanças substanciais nesses fatores podem mudar esse nível. Por outro lado, custa-nos ver uma melhora nos preços máximos que vimos em reais por tonelada: primeiro, pela expectativa de redução de juros no Brasil; segundo, pela certeza de que os juros americanos subirão em breve; terceiro, pela combinação que esses dois fatores trazem na negociação de dólar futuro via NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira); quarto, com a possibilidade de aprovação no congresso de medidas que visam a redução de despesas e com a melhora da economia para 2017, é razoável pensar no aumento do fluxo do dólar pressionando o real.
O preço máximo que vimos o açúcar negociar no spot foi há um mês a R$ 1,762 por tonelada FOB. Caso o dólar se desvalorize até 3,1000 no início de 2017, o março/2017 vai precisar negociar a exatos 300 pontos acima do nível de fechamento desta sexta-feira para liquidar o mesmo valor máximo visto em reais. Por outro lado, se o mercado ficar no nível atual, o real precisaria se desvalorizar em 8.5% para que o valor em reais repetisse o feito de um mês atrás.
É por isso que temos insistido tantas vezes que as usinas cujo endividamento em dólar é pequeno, deviam e devem aproveitar os preços altos em reais por tonelada, não apenas para a safra 2017/2018, mas também para a 2018/2019, esta última eventualmente combinada com a compra de uma call (opção de compra) fora do dinheiro no nível de preço de exercício aproximado à conversão do NDF obtido pelo dólar efetivamente estimado pelo mercado lá adiante.
O mundo carece de líderes. Inacreditável que os Estados Unidos chegassem nessa situação de ter que escolher entre o ruim e o menos pior.
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting