Setor comenta que são necessárias políticas públicas para incentivar a produção e uso do biocombustível
O Ministério do Meio Ambiente usará parte dos recursos advindos de financiamentos à agenda climática para construir usinas de biogás e biometano. Isso porque, a produção dos biocombustíveis está diretamente ligada à utilização de resíduos que, quando não destinados devidamente, contribuem para a emissão de gases de efeito estufa, como é o caso dos dejetos animais.
Em entrevista à Globo Rural, o ministro Joaquim Leite não deu detalhes sobre qual o montante a ser investido nas usinas, mas afirmou que o anúncio das construções deve acontecer ainda esse ano, com foco principal na região Norte.
“Os financiamentos de clima estão sendo direcionados para isso, para desenvolver usinas de biogás e biometano, por exemplo, no meio da floresta, em casos em que exista o resíduo para geração de energia. Já começaram os estudos, estamos vendo quais locais teriam o volume necessários de resíduo para instalar essas usinas", disse.
Biometano no mercado
Seja pela alternativa aos altos preços dos combustíveis, pela urgência climática ou pela oportunidade de transformar um passivo ambiental em energia, o fato é que o biometano tem ganhado novos interessados, haja vista a busca pelo tema no decorrer da Agrishow, realizada na última semana em Ribeirão Preto (SP).
Na ocasião, a empresa de máquinas New Holland anunciou o lançamento comercial no Brasil do trator movido pelo biocombustível. Ainda sem saber estimar a quantidade de vendas em território nacional, a expectativa é de comercializar cerca de 400 destas máquinas no mundo até o final deste ano. O preço do modelo é 40% a mais em comparação com a máquina convencional.
Segundo Eduardo Luís, diretor de negócios da empresa para América Latina, de 5% a 7% da produção global de tratores deve se voltar aos modelos movidos a biometano, mas ainda há um trabalho cultural de construir a mentalidade do produtor em investir em biocombustíveis. Para isso, ele diz ser fundamental criar mecanismos que incentivem a produção do gás, como facilitar o acesso a crédito e linhas de financiamento para a infraestrutura de usinas nas propriedades.
Quem também defende mais políticas públicas para o avanço da agenda do biocombustível é Deise Dellanora, diretora de Food Solutions da Yara Fertilizantes. Para ela, o biometano é uma oportunidade de transição enérgica rápida e acessível, mas nada adianta produzi-lo sem reduzir o custo logístico para que o gás chegue ao seu destino.
“Fertilizante verde é demanda mundial e os produtores mostram interesse em descarbonizar a cadeia e ter um ativo financeiro pensando no mercado de carbono”, afirma.
Produção em Piracicaba
Como parte da estratégia de descarbonização da empresa, Deise conta que a Yara passará a produzir fertilizante verde através do uso de biometano a partir de 2023. Isso será feito em parceria com a Raízen, a qual utilizará resíduos da cana-de-açúcar para fabricação de biogás, que purificado se torna biometano. “Do ponto de vista agrícola, fala-se que [o biometano] é o pré-sal caipira”, ela comenta.
Ambas já haviam anunciado em 2021 que a cliente Yara adquirirá 20 mil metros cúbicos diários de biometano produzidos pela Raízen Geo Biogás S.A., joint venture com a Geo Energética. Na última terça-feira (26/4), a corporação anunciou a construção da nova planta de biogás em Piracicaba (SP), que dará concretude ao que foi assinado no ano passado.
Piracicaba não foi escolhida por acaso para abrigar a usina. Deise explica que há uma rota de transmissão do biometano produzido no município paulista até a indústria da Yara em Cubatão, também em São Paulo.
"Para você facilitar logística e custo, você tem que acompanhar o grid [rede de transmissão] do gás, esta região permite que a gente entre no grid do gás natural e vá até Cubatão, que é a nossa unidade", conta. "Então a gente juntou a matéria-prima em abundância, que é o resíduo da cana, com o grid e a facilidade logística de injetar esse biometano e chegar até Cubatão", resume.
Esta é uma prova de que a solução do biometano passa por olhar a cadeia de forma regional. "Em São Paulo há cana-de-açúcar em abundância, mas em outros lugares tem diferentes matérias-primas. Isso necessita um grid específico e a logística é muito complicada. Tem que ser um pacote de solução aplicado localmente considerando as variáveis locais", indica Deise, da Yara.
A totalidade de produção e comercialização da unidade já está completamente comprometida com contratos de longo prazo assinados com a Yara e a Volkswagen do Brasil. O investimento aproximado na planta foi de R$ 300 milhões com capacidade de produção de 26 milhões de metros cúbicos de biometano por ano.
“Com o anúncio da segunda planta consolidamos a nossa plataforma que permite produzir biogás e biometano o ano inteiro a partir do reaproveitamento de resíduos como vinhaça e torta de filtro. Este projeto demonstra mais uma vez que é possível acelerar o enorme potencial do Brasil na geração de energia limpa renovável e eficiente.” destaca o CEO da Geo Biogás Tech e presidente do Conselho da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), Alessandro Gardeman.
GLOBO RURAL