Comentamos na semana passada acerca da fragilidade da alta ocorrida em NY naquela semana e da importância, para a formação de preços, que o petróleo passaria a ter no contexto, nesse momento em que as usinas fazem contas da rentabilidade de seus produtos. Qualquer redução no preço da gasolina internamente causa impacto imediato no preço do etanol para o consumidor e altera o mix de produção no Centro-Sul em favor do açúcar. A presumível ampliação da disponibilidade de açúcar pressiona o preço da commodity na Bolsa, acelera as usinas com mais delicada saúde financeira a fechar contratos comerciais do excedente de produção a descontos mais leoninos com as tradings e coloca no mesmo balaio de gatos empresas com perfis distintos. Os modelos de preço mostraram mais uma vez que modelos falham. Servem como mais um indicador no cockpit, mas nenhum avião deixa de cair por sua causa. O modelo que divulgamos aos clientes no início deste mês mostrava que NY em junho ficaria entre 14.42 e 16.97 centavos de dólar por libra-peso, com preço médio de 15.70 centavos de dólar por libra-peso. O preço médio até o momento é abaixo de 14 centavos de dólar por libra-peso e NY precisaria negociar nos dias remanescentes a 150 pontos de alta para alcançar esse valor. Difícil. O uso de modelos para previsão de preços faz parte dos mercados. O próprio modelo de Black & Scholes, criado em 1973 para apurar o valor justo de uma opção tem inúmeras assunções restritivas, entre elas, por exemplo, assumir que a volatilidade é constante e que os mercados não sofrem gaps de preço. Como sabemos, ambas assunções são improváveis, mas ainda assim não existe modelo mais utilizado do que o Black & Scholes. O que nenhum modelo consegue prever é que a Petrobras, por exemplo, vai introduzir duas reduções consecutivas do preço da gasolina, praticamente eliminando, dado o frágil quadro fundamentalista atual, qualquer reação nos preços do açúcar. Existem algumas boas coisas a serem aproveitadas pelas usinas do momento pelo qual o setor está passando. A primeira delas é que hoje temos aquilo que ansiávamos no passado, ou seja, preço dos combustíveis seguindo o mercado internacional. Nunca é demais salientar que no passado, os governos petistas congelaram o preço da gasolina com o intuito de fomentar a venda de veículos e controlar a inflação. Ou seja, o setor não aproveitou uma gota dos preços altos do petróleo em 2006/2007 com o barril chegando a 138 dólares por barril. O setor ficou chupando o dedo e pagando a conta da farra dos veículos financiados em até 84 meses enquanto seu endividamento subia na proporção inversa dos preços artificiais. Se mantiver a política de transparência na formação de preços, Pedro Parente, que hoje é o “vilão” para muitos formadores de opinião, embora eu discorde disso, pode se tornar herói quando o preço do petróleo subir por quaisquer razões de mercado e a estatal brasileira do petróleo promover, ato contínuo, a adequação de preços no mercado interno. É capaz até de ser convidado como principal orador em algum evento de peso do setor. Assim é a vida. A segunda das coisas boas é que muitas usinas de pequeno e médio porte aprenderam que a disciplina na gestão de risco compensa. Tem sido gratificante observar a condução profissional que várias usinas adotaram quando fixaram agressivamente seus contratos de exportação de açúcar quando o preço da commodity em NY alcançou altíssimos níveis remuneradores equivalentes em reais por tonelada. Como lição, o que muita gente aprendeu é que não se recompra hedge na esperança vã de que ao embolsar o lucro da operação, haverá outra oportunidade de hedgear novamente num mercado ascendente e todos viverão felizes para sempre. Foi amarga a decisão tomada por algumas usinas em recomprar seus hedges de venda. Algumas o fizeram por necessidade imperiosa de liquidar débitos anteriores, mas outras recompraram apenas “achando” que depois iriam revender novamente e assim, melhorar seu resultado de venda. Pois é, para algumas isso representou ver o mercado despencar mais de 60 dólares por tonelada, sem poder reagir. Na minha visão, independentemente de mudanças do superávit mundial, que varia ao sabor das cotações na bolsa americana, o Centro-Sul não vai moer a quantidade de cana que estimava, nem produzir o volume de açúcar que esperava. Vamos observar. |