Por que o imaginário popular associa sempre trabalho escravo à cana-de-açúcar, mesmo que a realidade atual desse setor seja tão diferente e há muitos anos? Não podemos negar o passado, quando uma das primeiras atividades econômicas do país foi sustentada pelo trabalho escravo. Em nada esse terrível sistema colonial reflete o que ocorre hoje no setor sucroenergético, e, se não procurarmos conhecê-los e verificar seus extraordinários avanços trabalhistas, ambientais, tecnológicos e econômicos, vamos incorrer sempre numa imagem distorcida, obsoleta e descompasso com a atualidade.
Pode se dizer que o setor sucroenergético foi um dos que mais avançaram no emprego de tecnologias limpa no campo, com o compromisso da regularidade nas relações de trabalho. Minas Gerais é um exemplo claro dessa grande evolução, como primeiro Estado a eliminar a queima da cana e o corte manual a partir de 2014, com o emprego de grandes colhedoras automatizadas. Além de drones, que percorrem as plantações para coletar dados que ajudam na gestão da lavoura. Já vai muito longe o tempo em que se queimava a cana, e o trabalhador utilizava como ferramenta o podão para o corte manual da lavoura.
Com 10% de toda a produção de cana nacional, o setor sucroenergético no Estado ocupa o terceiro lugar no ranking do país e emprega diretamente quase 50 mil colaboradores. As empresas implantaram projetos de requalificação e capitação junto ao Sistema S, para que os trabalhadores acompanhassem as grandes mudanças tecnológicas ocorridas no segmento, além de disponibilizar programas educacionais para elevar o nível de escolaridade.
Soma-se a isso o investimento em tecnologias limpas nas indústrias, com processos automatizados, destinação correta dos resíduos gerados, otimização do uso da água, entre outros. Além disso, foi feita a parceria, no ano passado, com o governo do Estado para investimentos de mais de R$ 500 milhões nos próximos 12 anos para melhorias na infraestrutura das regiões produtoras, conferindo mais segurança e eficiência no transporte de cana.
Essa imagem distorcida e muitas vezes cultivadas em relação ao setor da cana-de-açúcar contribui para a desinformação e causa um distanciamento ainda maior entre a cidade e a realidade no campo. Por isso, é preciso se atentar para os avanços do agronegócio brasileiro e, no caso do setor sucroenergético, reconhecer seu valor na produção de energias limpas, como o etanol e a bioeletricidade, e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e a saúde pública.
Mário Campos é Filho Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG - SIAMIG