Não se apaixone pelo mercado – Por Arnaldo Luiz Corrêa
Considerando o fraco desempenho das commodities no mercado internacional na última semana, o açúcar até que foi surpreendentemente bem demais. O que poderia ter sido um banho de água fria para os altistas – a combinação de um real mais forte em relação ao dólar e do petróleo negociando abaixo de 42 dólares por barril – não derrubou a commodity. Com o preço descendente da gasolina no mercado internacional trabalhando na média de US$ 1.04 por litro, a gasolina no Brasil contendo a mistura de 27% de anidro e mantendo a competitividade do hidratado de 65-70%, praticamente coloca um teto no preço do hidratado em torno de R$ 2.2750 por litro na bomba. O preço hoje está acima disso, mas ainda em linha com a gasolina na bomba. O temor que alguns traders tem é que venhamos a perder a competitividade do etanol, o que faria sobrar o produto na entrada da próxima safra que promete ter uma produção de cana maior em função de um clima bastante favorável para a gramínea.
O outro lado da moeda, no entanto, como disse um respeitado executivo do mercado, é que o prejuízo recém divulgado da Petrobrás, de R$ 3.76 bilhões, resultado da cleptocracia petista instalada no país, deve fazer com que a empresa busque sanar o caixa via aumento no preço da gasolina. Isso seria saudável para a empresa e – por tabela – colocaria a paridade novamente no nível atrativo para o consumidor.
Embora não tenhamos visto preços tão remuneradores para o açúcar em tantos anos, uma breve consulta aos preços negociados no mercado físico é suficiente para concluirmos que os ventos que sopram no mercado futuro não passam de leve brisa no mercado físico, que ainda apresenta descontos para embarque imediato. Enquanto não houver mudança substancial no basis (o prêmio ou desconto) não se tem como validar que o mercado é altista com todas as letras.
A volatilidade mostra bem o nível de preocupação dos operadores de mercado em relação à trajetória dos preços. As oscilações estão mais fortes e o nível de risco aumentou. Em apenas um mês a volatilidade implícita do vencimento março/2016 pulou de 28.2% para 33.2%, os dois meses de vencimento seguintes também experimentaram aumentos de 4.6% e 4.0%. A volatilidade alta sugere venda de opções para abocanhar esses prêmios robustos.
Não se deve perder a oportunidade de fixar os preços para o açúcar. No mínimo há de se fazer um seguro usando puts e fixando o dólar. Nota-se no mercado um aumento considerável de fixações nas semanas recentes (ainda não refletidos pelo modelo de fixação da Archer Consulting): uns fixam vendendo o mercado futuro e travando de vez o preço; outros preferem adicionar à fixação de venda a compra de um call spread (compra de uma call ao preço de exercício próximo do mercado e venda de uma call a um preço de exercício superior) e outros preferem simplesmente fazer uma fence (que é a compra de uma put num nível abaixo do mercado de hoje financiada pela venda de uma call acima do mercado de hoje).
Diga-se de passagem, que a segunda e terceira estratégia tem rigorosamente o mesmo resultado prático já que a venda de futuros combinada com a compra de um call spread faz com que a primeira ponta da operação (venda de futuros e a compra da call) resulte na compra de uma put sintética. Junta-se à call vendida e temos uma fence.
Temos que observar atentamente aos movimentos no mercado físico de açúcar. Preocupa-me que o ano que vem o volume de cana será muito bom e o início da 2016/2017 poderá ser antecipado pelas usinas para aproveitarem os preços e, caso haja perda da paridade do etanol com a gasolina, mais cana pode ser desviada para a produção de açúcar, derrubando os preços.
Diferentemente de alguns analistas internacionais, não vejo que a alta no preço do açúcar em NY tenha sido alimentada pelo preço do etanol no mercado interno. Isso foi consequência e não causa. Acredito que os fundamentos mais construtivos para o ano que vem (aumento de déficit mundial, estagnação da produção de cana no Brasil) impulsionaram os fundos a aumentarem suas apostas na alta do açúcar. Fixações de preço historicamente altas para esse período diminuíram a disponibilidade de vendedor para os primeiros meses da próxima safra. O mercado se inverteu pelo movimento das tradings que sentiram a probabilidade de uma melhora nos fundamentos acontecer e se anteciparam e, concomitantemente, os fundos que adoram ficar comprados num mercado invertido.
Teremos visto já a alta para este trimestre? É cedo para responder, embora o modelo que usamos prevê que novembro e dezembro terão preços médios inferiores ao de outubro. Pessoalmente, não acredito. Creio que os fundamentos do mercado se fortalecem ao longo deste último bimestre e os preços podem alcançar novos patamares.
Marcos de Sá Moreira Masagão, da Future Analysis Consultoria (www.futureanalysis.com.br) acredita que o açúcar em NY precisa romper os 15.20 centavos de dólar por libra-peso para adquirir mais potência e continuar a subir. Tentou isso na sexta-feira, mas chegando lá deve ter faltando ar e acabou encerrando a semana com o vencimento março a 15.04 centavos de dólar por libra-peso. Pode ser que o mercado esteja com a língua de fora após uma subida tão íngreme. O março fechou com alta semanal de 58 pontos (12.79 dólares por tonelada) enquanto os demais meses oscilaram positivamente entre 4 e 12 dólares por tonelada.
Menor venda de veículos, consumo mais arrefecido, economia mundial sem entusiasmo pode frear o ímpeto altista. Os fundos já possuem uma posição bastante significativa e acredito que só adicionariam mais compras se algum evento fundamentalista o justificasse. O resultado final é, portanto, não se apaixonar pela posição e não perder oportunidades. Ninguém quebra com lucro no bolso.
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting