Navegar em céu limpo - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Navegar em céu limpo - Por Arnaldo Luiz Corrêa

O contrato futuro de açúcar com vencimento para outubro/21 encerrou a sexta-feira a 19.67 centavos de dólar por libra-peso, quase dois dólares por tonelada acima do fechamento da semana passada. Curiosamente, os contratos com vencimentos mais longos apreciaram mais do que aqueles com vencimento mais curto.

Os dois vencimentos que compõem os contratos remanescentes da safra 21/22 (outubro e março do próximo ano) apreciaram menos de dois dólares por tonelada, já os meses da safra 22/23 na média apreciaram sete dólares por tonelada e da safra 23/24 apreciaram doze dólares por tonelada. Temos dito aqui que as cotações da 23/24 possuíam um potencial de valorização de 250/300 pontos. Aos poucos vai se confirmando nossa previsão.

Os valores médios em reais por tonelada aumentaram significativamente devido ao mercado agressivo das NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) que tem pago um cupom de 5.25% ao ano para vencimentos de 90 dias, 6.25% para vencimentos de 180 dias e 6.76% para vencimentos de 360 dias. Isso implica em mais reais por dólar ao longo da curva, distorcendo os preços em centavos de dólar por libra-peso. Pelo mesmo total em reais por tonelada que a usina vende hoje no mercado à vista, quanto maior for o prazo de vencimento menor é o valor em centavos de dólar por libra-peso que equilibra a equação. Esse é um fator importante para explicar uma parte da forte inversão da curva.

Os fundos reduziram a posição comprada em 5,800 lotes somando na terça-feira, segundo o COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, 250,800 lotes.

Por inúmeras vezes temos opinado aqui acerca da importância que as empresas do setor deveriam dar às estruturas de proteção dos chamados riscos de cauda. Imagine uma distribuição em curva de sino (equação da curva normal de Gauss), em que as extremidades dessa curva, chamadas de cauda, representam eventos de baixa probabilidade. Quando eles ocorrem, no entanto, olhamos para trás com arrependimento por não ter feito nada para se proteger ou para ter participado do movimento.

Um leitor assíduo do comentário semanal mandou detalhes de uma operação que fizera no dia 10 de dezembro de 2020, ou seja, há pouco mais de 8 meses. Convencido do que ouvia no mercado acerca da possibilidade futura de reações no preço do açúcar em NY e, simpatizante de estruturas que ganham corpo quando a oscilação é violenta, ele comprou naquele dia 50 calls (opções de compra) de preço de exercício de 19.50 centavos de dólar por libra-peso com vencimento para março/22, cujo futuro negociava naquele instante a 13.73 centavos de dólar por libra-peso, 30% abaixo do preço de exercício que ele escolheu. Ele pagou pelas opções 11 pontos, gastando um total de US$ 6,160. Nesta semana ele liquidou a posição vendendo por 220 pontos, lucrando pouco mais de US$ 117,000. Sorte ou disciplina?

Uma usina que tivesse feito a mesma operação gastando US$ 100,000 teria lucrado aproximadamente R$ 10 milhões. A questão que invariavelmente vem à baila é convencer a si ou a alta direção da empresa que comprar uma proteção a 19.50 centavos de dólar por libra-peso quando o mercado negocia 13.73 centavos de dólar por libra-peso pode ser uma boa estratégia.

O que é preciso se conscientizar quando embarcar num projeto como esse é que se trata da compra de um seguro para um evento improvável e não um investimento. Ninguém sai da agência de seguros de automóveis achando que fez um investimento após comprar uma apólice. Muito menos o faz com o intuito de espatifar o carro no primeiro poste.

Optar por estruturas como essa é para aqueles que tem certeza que vão perder muito pouco se nenhum evento extraordinário ocorrer, mas que caso ocorra estarão numa posição privilegiada em relação aos seus pares. Navegar em céu limpo é o que todo piloto quer.

Um risco no horizonte próximo são as eleições do ano que vem e o efeito que aventuras antirrepublicanas protagonizadas pelo inquilino do planalto podem trazer à formação de preço das commodities, no nosso caso açúcar e gasolina-etanol. Qual efeito de uma disparada no dólar pode trazer ao seu passivo? Vale à pena pensar sobre o problema para evitar dissabores.

A quinta estimativa de fixação de preços do açúcar destinado à exportação das usinas correspondente à safra 2022/23 mostra uma desaceleração (movimento iniciado no mês anterior) no volume refletindo a preocupação acerca do tamanho da próxima safra de cana a ser colhida em 2022. As usinas estão mais cautelosas.

Nosso modelo apurou que, com base nos dados no fechamento de 31 de julho de 2021, 7,001 milhões de toneladas de açúcar já estão fixadas para a safra 22/23, volume equivale a um percentual de 27.50%.

O valor médio de fixação na safra 22/23 é de 14.78 centavos de dólar por libra-peso, sem prêmio de polarização, equivalentes a R$ 1,860 por tonelada FOB Santos, ou R$ 0,81 por libra-peso, ambas incluindo o prêmio de polarização. Esse valor corresponde a um hidratado de R$ 3,2400 o litro sem impostos, na usina.

 

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