No ano, Real acumula queda de 13% e açúcar 10% - Arnaldo Luiz Corrêa

No ano, Real acumula queda de 13% e açúcar 10% - Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY fechou a semana em queda pressionado pelo real mais fraco. Observe o nível negociado dos spreads julho/outubro e outubro/março. Eles fecharam respectivamente a 57 e 102 pontos de desconto. Isso embute um custo de carregamento absurdamente alto de aproximadamente 18%. A pressão vendedora – provável fixação de usinas aproveitando o real mais fraco – acaba distorcendo a realidade. Do lado do consumidor industrial, a pergunta que cada um deveria fazer é: “por que alguém vai pagar 18% ao ano mais caro para um açúcar em outubro comparado ao julho, ou em março de 2016 em relação ao outubro, se o custo financeiro e de armazenagem para minha empresa é muito mais barato do que isso?”. Esses são um dos mistérios do mundo das commodities.
 
Por conta da desvalorização do real em relação à moeda americana nas últimas semanas, a dívida do setor agora ultrapassa os R$ 81 bilhões. E se antes ela representava 110% do faturamento estimado das usinas para a safra 2015/2016 (sem contar a receita com cogeração), hoje já está em quase 114%.
 
A desvalorização da moeda brasileira apenas reflete a crise de confiança que emana do atual governo. Pairam pesadas suspeitas no mercado financeiro de que o Ministro Levy não deve durar muito tempo no cargo pois, homem cortês e inteligente que é, não consegue compactuar com as grosserias e impropérios tão comumente exalados da boca de sua chefe. Como Dilma tem enorme deficiência em expressar o que pensa (se é que pensa) prefere se rodear de pessoas com o nível de inteligência compatível com o seu para que possa tripudiar ao seu feitio guerrilheiro e ditatorial. Nessas horas, Mantega faz falta. E o dólar sobe por conta dessa percepção.
 
A curva de preços do açúcar negociado em NY praticamente se deslocou inteira em paralelo, ou seja, os preços despencaram quase que na mesma proporção desde o vencimento mais curto até o último vencimento da curva. É como se o mercado apostasse que o recrudescimento do cenário econômico vai durar bastante tempo. Do final de dezembro para cá, os preços do contrato futuro de açúcar em NY caíram entre 112 e 162 pontos (entre 24 e 36 dólares por tonelada), com maior pressão (até mesmo para aproveitar as fixações em reais mais altas) para o início de safra. Enquanto o real amarga 13% de baixa no ano, o açúcar crava 10% de desvalorização.
 
No final do ano, o vencimento maio/2015 negociou a 14.92 centavos de dólar por libra-peso com a moeda americana valendo 2.6546. Nesta sexta, o dólar fechou a 3.0540 que equivaleria a NY pelo preço do último pregão do ano de 2014 a 12.97. Como o contrato para vencimento maio/2015 encerrou a sexta-feira a 13.44 centavos de dólar por libra-peso, de fato os preços estão 47 pontos melhor do que aqueles praticados no final de dezembro. A desvalorização impactou parcialmente a queda de preços, a diferença (positiva) é a percepção dos fundamentos mais construtivos, citados aqui na semana passada.
 
A curva de preços em NY convertidas em reais com operações estruturadas com os chamados NDFs – contrato a termo de dólar sem troca de moeda – mostra um preço médio trazido a valor presente de R$ 972.53 FOB Santos para a safra 2015/2016 e R$ 1045.50 para a safra 2016/2017. Isso afasta, pelo menos por enquanto, uma eventual melhora dos preços em NY em centavos de dólar por libra-peso.
 
É bom que se compreenda que preços baixos em NY não significam que as usinas perdem dinheiro. O que deve se observar atentamente é a relação em reais por tonelada. É sempre ela – na maioria dos casos – que determina suportes e resistências fortes no mercado em condições normais. Se o real se valorizar, NY também se valoriza; se o dólar continuar subindo, NY vai continuar caindo. Simples assim. As usinas mais bem capitalizadas e com gestão eficiente olham esses números. As que possuem um enorme passivo em dólares não podem concordar comigo. É o que me disse um executivo do setor no comentário da semana passada:” O problema é que muita usina que ainda não fixou NY, está devendo em dólares e não vai se beneficiar de uma eventual desvalorização do real”. Verdade.
 
Os números de safra estão mais dispersos do que nunca, tornando ainda mais difícil o processo de tomada de decisão. Uma das previsões divulgadas na semana passada estimou a safra 2015/2016 em surpreendentes 620 milhões de toneladas de cana apenas para o Centro-Sul. Um número dessa magnitude despejaria um adicional catastrófico de 2.6 milhões de toneladas de açúcar à média das previsões que circulam por aí.
 
O custo de produção de açúcar, pelo modelo da Archer Consulting é de R$ 39.3542 por saca posto usina. Esse valor equivale a 13.25 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos.
A ANP (Agência Nacional do Petróleo) divulgou o volume de consumo para o mês de janeiro/2015. O consumo de gasolina C (que contém anidro) foi de 3.86 bilhões de litros enquanto o etanol hidratado alcançou 1.25 bilhão de litros. Em bases anuais, o consumo cresceu 7.81% alcançando um total de 57.8 bilhões de litros, dos quais 33.5 bilhões de litros de gasolina A (sem aditivo), 13.1 bilhões de litros de hidratado e 11.2 bilhões de litros de anidro. A participação do etanol alcançou 42.1% o maior percentual desde dezembro de 2011. Se esse padrão de consumo se mantiver ao longo da próxima safra, vamos precisar de mais 22.7 milhões de toneladas de cana apenas para atender a essa demanda. É só lembrar que nos últimos doze meses o consumo de combustível cresceu em valores absolutos, 4.2 bilhões de litros.
 

Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting