No contrapé de Dilma – Editorial O Estado de S.Paulo
Em seu discurso de posse no segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff garantiu: "Temos muitos motivos para preservar e defender a Petrobrás de predadores internos e de seus inimigos externos. Por isso, vamos apurar com rigor tudo de errado que foi feito e fortalecê-la cada vez mais".
Esta é mais uma promessa que a presidente da República não consegue ou não se empenha em cumprir, como demonstra a ação dos procuradores federais responsáveis pela Operação Lava Jato exposta no documento com que justificaram o pedido de prisão do ex-diretor da estatal Nestor Cerveró: "Não há indicativos de que o esquema criminoso foi estancado. Pelo contrário, há notícias de pagamentos de 'propinas' efetuados por empresas para diretores da Petrobrás mesmo em 2014".
Afirma ainda a petição dos procuradores federais que Nestor Cerveró, ex-diretor Internacional da petroleira, integra "a mais relevante organização criminosa incrustada no Estado brasileiro que a história já revelou".
É simplesmente inacreditável como o escândalo da maior empresa estatal brasileira teima, a cada novo dia, a cada novo fato revelado pelas investigações, em avançar na direção exatamente oposta ao que afirmam e prometem a presidente da República, seus áulicos e a diretoria da estatal. Esta, aliás, quase dez meses após o rumoroso início da Operação Lava Jato, permanece impávida a postos, tentando colocar a tranca na porta arrombada.
Em novembro, a presidente da empresa, Graça Foster, anunciou que o Conselho de Administração da Petrobrás havia aprovado unanimemente a criação de uma diretoria de gestão empresarial e compliance. Uma das maiores empresas do mundo, qualquer que seja o segmento da economia, preocupa-se só então em criar aquilo que praticamente todas as grandes corporações internacionais já haviam implantado: uma estrutura interna voltada para a discussão e aplicação de princípios éticos - o respeito à lei, enfim - na gestão dos negócios em que se envolve. Há dias, o diretor de compliance foi escolhido e criou-se um comitê especial que atuará na supervisão das investigações sobre o escândalo que estão sendo realizadas internamente na estatal.
No mais, o que se pode esperar é pelos "resultados que a Petrobrás aponta que apresentará", nas palavras do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, que passou a quinta e a sexta-feira em reuniões no Rio de Janeiro com as diretorias da Eletrobrás e da Empresa de Planejamento Energético (EPE). Um dia antes, Braga havia recebido a presidente da Petrobrás, Graça Foster, em seu gabinete em Brasília.
A afirmação mais importante feita pelo ministro, cujas palavras com toda certeza traduzem o pensamento da presidente da República, foi a de que a Petrobrás é hoje uma empresa completamente diferente daquela que foi envolvida no escândalo objeto de investigação da Operação Lava Jato.
Afirmou o ministro Eduardo Braga em entrevista: "Posso garantir a você que, se alguma coisa positiva aconteceu com isso que nós estamos vendo é que a Petrobrás ficou blindada com relação à indicação política".
Essa admissão implícita de que todo o esquema de corrupção que tomou de assalto a Petrobrás foi uma armação "de fora", operacionalizada por agentes colocados dentro da empresa por "indicação política", traduz o argumento central da presidente Dilma quando defende a manutenção da atual diretoria à frente da estatal.
Esse argumento foi reiterado pelo ministro: "Até hoje, não há uma aprova sequer contra esses diretores que estão aí. Não seria justo, vendo o esforço que a Petrobrás está fazendo com seus técnicos e sua diretoria de recuperação de gestão e eficiência, puni-los sem dar a chance de que apresentem os resultados que a Petrobrás aponta que apresentará".
Isto posto, só falta explicar - principalmente diante da afirmação dos procuradores federais de que, ao que tudo indica, "o esquema criminoso não foi estancado" - quem são os responsáveis "de fora" pelos desmandos na Petrobrás