A semana apresentou um cardápio de notícias indigestas vindas de todo lado, que contribuíram para a piora do já deteriorado cenário macro mundial. A Alemanha – principal economia da Zona do Euro - beirando a recessão com a divulgação de um PIB negativo em 0.1%, a Argentina que resolveu se abraçar nas prévias para as eleições de outubro próximo com o que há de pior em termos de populismo de esquerda, dando um banho de água gelada no mercado financeiro e contaminando o Brasil, empurrando o câmbio para cima de R$ 4,0000. Eventos como esse acendem as luzes vermelhas no painel da gestão de risco. Há de redobrar as atenções.
A guerra comercial entre China e EUA jamais terá vencedores dada a simbiose e entrelaçamento em que as duas economias vivem. Já os perdedores podem ser muitos. O mercado mundial de energia acumula enormes perdas neste mês de agosto. O petróleo tipo Brent despencou mais de 10%, seguido de perto pela gasolina; o WTI caiu 7% e o etanol de milho também derreteu 10%. Momentos conturbados afastam o investidor dos ativos de risco (commodities) e procura portos mais seguros, como o ouro, por exemplo (que subiu 6%). As soft commodities (café, açúcar, suco de laranja, cacau e algodão) todas caíram entre 3.5% e 6.5%.
O lado bom desses espasmos provocados pela turbulência política do continente é que algumas usinas mais antenadas (e com pequeno endividamento em US$) aproveitaram os picos da moeda americana e fizeram NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) travando excelentes taxas em reais para os próximos meses que vão ajudar na composição de seus hedges de açúcar em NY para a safra 2020/2021.
O contrato futuro de açúcar com vencimento outubro/2019 encerrou a semana a 11.63 centavos de dólar por libra-peso pressionado também pela desvalorização do real. Na sexta-feira, dia 9 de agosto, NY encerrou a 11.86 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a R$ 3.9420. Nesta sexta-feira, NY encerrou a 11.63 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a R$ 4.0040. O valor do açúcar nesses dois dias foi, respectivamente, 1,074 e 1,070 reais por tonelada, praticamente inalterado.
Os fundos novamente aumentaram a posição vendida a descoberto e agora estão quase 153,000 lotes vendidos, sem nenhuma preocupação de recompra nesse momento.
O calcanhar de Aquiles para o mercado de açúcar, como por várias vezes comentamos aqui, é o mercado de petróleo. Com ele em queda há um enorme comprometimento da melhora no preço do açúcar, pois pressiona o valor da gasolina e estreita a arbitragem com o etanol, em tese, levando as usinas a produzirem mais açúcar. No entanto, isso não vai ocorrer nesse momento por duas razoes básicas: real desvalorizado implica em preço de importação de gasolina mais alto.
A estrutura de custo que forma o preço da gasolina na bomba para o consumidor tem em sua composição uma grande parte de impostos e margem da refinaria, da distribuidora, etc. Ou seja, uma redução de 10% do preço do barril do petróleo altera em apenas 4% o preço da gasolina para o consumidor. Para que o etanol perdesse competitividade em relação à gasolina seria necessário que o petróleo caísse além de 15% (algo como o Brent a 50-51 dólares por barril)
Nesta semana, o indicador semanal do etanol hidratado combustível Cepea/Esalq fechou em R$ 1.7462 por litro sem impostos, ou seja, o etanol é vendido ao equivalente ao açúcar NY mais um prêmio de 205 pontos. O que muita gente do mercado questiona é por que que o açúcar tem que subir pelo menos 200 pontos para atrair as usinas para produzi-lo e não o oposto, ou seja, o etanol cair 200 pontos para que o açúcar comece a ficar competitivo?
Bem, para isso o hidratado precisaria cair para R$ 1,4450 por litro na usina, sem impostos e, para que ainda assim ele ficasse na paridade com a gasolina, que permita ao consumidor escolher abastecer seu veículo com ele, o petróleo precisaria cair 19% no mercado internacional.