O mercado de açúcar em NY teve uma sexta-feira preocupante fechando em queda acentuada de 65 pontos (4.55% de baixa) em relação ao pregão do dia anterior, cravando 13.75 centavos de dólar por libra-peso. Na semana, o desempenho foi menos pior, caindo 28 pontos, ou 6.17 dólares por tonelada.
Quem está envolvido no dia-a-dia do mercado físico de açúcar tem dificuldade de entender essas oscilações bruscas que temos visto a todo momento. Os tais sistemas de algoritmos que acionam compras e vendas antes que possamos piscar os olhos pouco sabem o que é um pé de cana e nós aqui do outro lado tentamos colocar o racional para explicar esses movimentos erráticos. Ora atribuímos a alta ao aumento da gasolina para logo depois justificar a baixa porque a safra da Tailândia vai muito bem, obrigado. Esqueça. É total perda de tempo tentarmos encaixar nosso racionalismo às flutuações do mercado que são comandadas por modelos matemáticos sofisticados. Às vezes eles trabalham em favor dos produtores e então achamos tudo maravilhoso.
É por essas e outras que o mercado futuro por várias vezes se descola do mercado físico. Para o bem ou para o mal. O final do ano passado é um exemplo vivo dessa dicotomia. A cotação do açúcar na Bolsa de NY atingiu quase 24 centavos de dólar por libra-peso enquanto que as negociações no mercado físico não mostravam essa mesma robustez. Claro que não faltavam explicações “racionais” que justificassem a alta. Deu no que deu.
Quando estamos no meio dessa irracionalidade é importante olhar o comportamento do spread para tentar buscar uma luz. Ele – regra geral – retrata a movimentação ou a expectativa de movimentação do físico, no curto prazo, por parte dos participantes daquele mercado. Não é infrequente assistirmos aos spreads abrindo, portanto, demonstrando a fraqueza do mercado físico, para logo em seguida refletir na queda dos preços no mercado futuro. O oposto também ocorre: antes de uma subida no mercado futuro espelhada nas expectativas das movimentações no mercado físico, o spread estreita. Resumindo, os spreads são excelente indicador para antecipação da trajetória que o preço vai tomar. E então?
A semana fechou com o spread negociando a 61 pontos contra 66 da sexta-feira anterior, após ter negociado a 55. Ajuste dos livros das tradings, antecipação de possível movimentação de alta, melhora nos diferenciais negociados no físico ou pura especulação são alguns dos fatores. No entanto, se por um lado temos os fundos rolando suas posições vendidas em outubro para o vencimento seguinte (março) é evidente que esse movimento favorece o estreitamento do spread (os fundos recompram o outubro e vendem o março), por outro temos um volume de fixação por parte das usinas do Centro-Sul ainda a ser feito contra o vencimento outubro (que expira este mês).
É exatamente a imensa quantidade de lotes a serem fixados (que englobam aqueles lotes recomprados para tomar lucro quando o mercado estava a 16 centavos de dólar por libra-peso, lembram-se?), que impedem o mercado de se consolidar nos 14.00-15.00 centavos de dólar por libra-peso. Isto é, a vulnerabilidade dos fundos, que estão 117,500 lotes vendidos, está sendo abrandada pelo volume pendente de fixações por parte das usinas (quanto seria?). Assim, o mercado tem mais peso na queda. O fator “pânico” também ajuda. O comportamento do mercado na sexta teve esse gosto.
Todavia, pense sobre aquele dia em que você sai de casa e olha para o céu meio nublado e decide não levar o guarda-chuva porque não parece que vai chover. Aí você começa a notar que, de repente, as nuvens vão se compactando e ficando mais escuras e pesadas anunciando uma tempestade daquelas. E você, na rua, sem guarda-chuva. O mercado de açúcar está bem com essa cara.
Apesar de os spreads estarem estreitando, de o Centro-Sul estar cumprindo o que prometeu produzindo mais etanol, da Petrobras continuar firmemente ajustando os preços de acordo com o mercado internacional e de os fundos estarem pesadamente vendidos, o mercado não se levanta. As nuvens estão pesadas, mas pode ser apenas uma chuvarada de verão.
Um respiro para os altistas: o economista José Roberto Mendonça de Barros acredita no enfraquecimento do dólar em relação a outras moedas e isso pode fortalecer as commodities. O petróleo, depois que a Petrobras introduziu a política de formação de preços acompanhando o mercado internacional, virou importante componente na formação de preço do açúcar.