O 19º Seminário de Mecanização apresentou incríveis avanços tecnológicos - Ricardo Deotti

O 19º Seminário de Mecanização apresentou incríveis avanços tecnológicos - Ricardo Deotti

Promovido pelo Grupo IDEA (Instituto de Desenvolvimento Agroindustrial), aconteceu nos dias 29 e 30 de março o 19º Seminário de Mecanização e Produção de Cana de Açúcar em Ribeirão Preto (SP), um tradicional evento que reuniu cerca de 700 participantes com representantes de 15 estados brasileiros e 128 unidades sucroenergéticas, além de profissionais de outros países da América Latina (Argentina, Colômbia e Bolívia) e África (Angola).

Durante 2 dias este seleto público conheceu e debateu as mais atualizadas tecnologias e uso de equipamentos hoje à disposição do setor sucroenergético, para adoção em todas as fases de produção canavieira e nos complexos processos produtivos.

Como valioso evento paralelo, os contatos realizados e o essencial networking estabelecido enriqueceram ainda mais a experiência dos presentes, que puderam também visitar a exposição de máquinas e equipamentos realizada na área externa do recinto. A apreciação direta dos equipamentos representou insubstituível oportunidade de aprofundamento no conhecimento do que foi tratado nas palestras apresentadas.

Com excelente avaliação positiva dos presentes, foram 19 palestras e debates temáticos que canalizaram genuíno interesse pelos conteúdos, culminando com a entrega de prêmios aos Campeões Nacionais de Produtividade ao final dos trabalhos. Fazemos em seguida breves comentários sobre algumas das palestras deste importante evento.

Daniel Shiraichi, da TITAN Pneus, fabricante dos pneus agrícolas da Goodyear, apresentou a nova linha com a tecnologia LSW (Low Side Wall), de perfil lateral reduzido para tratores a partir de 180 CV, que geram economia de combustível de até 15% e aumento da produtividade de até 31,5% pela redução da patinação e da velocidade de trabalho. Foram apresentados os números dos testes destes novos pneus em 39 máquinas de 6 usinas e os resultados foram surpreendentes.

João Zangrandi da Duraface e o consultor Luiz Romeu Voss apresentaram 2 inovações para o preparo de solo localizado: os canteirizadores PMS150 e PMS90, que substituem 4 operações por uma só, gerando até 50% de economia nas operações de preparo de solo e os rotoniveladores NS2 recomendados para a operação de nivelamento e quebra lombo.

O engº Luiz Nitsch, da Sigma Consultoria, abordou os reflexos das duas novas normas do CONTRAN, a 618, que obriga ao uso de lona sobre as cargas a partir de 1/6/2017, e a resolução 640, que analisa o transporte de até 64 toneladas líquidas por composição, como já vinha sendo praticado pelas empresas do setor e que agora passam a operar de forma amparada pela legislação.
 
Douglas Rocha, da Odebrecht Agroindustrial, com seus 6 polos industriais e 9 unidades de produção, destacou a necessidade de se dimensionar adequadamente as frentes de corte e a importância de se concentrar investimentos no treinamento e desenvolvimento dos colaboradores. Em apenas 6 anos sua equipe conseguiu aumentar a produção diária de cada máquina de 321 para 671 t/dia, o que lhes permitiu reduzir o número de máquinas de 236 para 181 neste curto intervalo de tempo, atestando os bons resultados das boas práticas de gestão do tempo e otimização da logística operacional, através do controle de tráfego, gestão dos tempos de manobras, controle de perdas, sistematização das áreas e outras práticas.
 
Marco Antônio Gobesso, da VALTRA, apresentou a novíssima colhedora de cana BE1035e, com Motor AGCO Power 9.8L de 350 CV, e as linhas de tratores BH Geração 4 de 146 a 220 CV, todos com sistemas que limitam a emissão de poluentes e simplificam bastante o trabalho dos operadores com projetos simplificadores e ergonômicos.
 
Nilson Righi trouxe as últimas notícias do desenvolvimento do inédito trator movido a gás metano, o chamado biogás, uma das mais inovadoras e promissoras alternativas de combustível de origem renovável e limpa do ponto de vista ambiental. O modelo apresentado foi da marca New Holand, com 136 HP. Como ele demostra, uma única tonelada de cana é capaz de gerar biometano suficiente para abastecer 15 tratores, com 80% de redução na emissão de gases e até 40% de redução nos custos de operação destes motores!

Dário Wilian Sodré, da D2G Consultoria Empresarial, discorreu sobre a importância de se investir nas manutenções proativas, baseadas no monitoramento online das condições das máquinas por telemetria e desenvolveu os conceitos de CBM (manutenção baseada nas condições operacionais), SRS (manutenção linearizada das colhedoras) e de RAMPS (Resource Allocation Multi Project Schedule) . Destacou que 57% dos custos de reparos e manutenção das usinas (CRM) estão nas operações de corte, transbordo e transporte (CTT), sendo 22,6% só nas colhedoras.
 
O Eng. José Wagner Braidotti Junior, da Braidotti Engenharia e Consultoria Ltda., traçou um panorama das principais tendências mundiais da Engenharia de Manutenção, destacando a estratégia de gestão dos ativos orientada pelo valor econômico agregado (GAV) e a função de gatekeeper.

O Eng. Renato Santos de Morais, da AGCO/Massey Ferguson focou o trabalho desenvolvido nos motores de seus tratores visando o atendimento às resoluções do Proconve MAR-I (TIER3), mostrando que conseguiram reduzir em quase 70% as emissões de seus equipamentos através de tecnologias como a EGR, que promove a recirculação de uma porção de gás de escape de motores de volta para os cilindros e a SCR, um fantastico meio de conversão de óxidos nitrosos em nitrogênio (N2) e água com a ajuda de um catalisador.

O Eng. Gustavo Villa Gomes, da USINA AÇUCAREIRA GUAÍRA, uma das usinas premiadas dvido a suas elevadas produtividades, falou sobre o plantio mecanizado com qualidade e mostrou o interessante trabalho que desenvolve na empresa baseado no conceito de se fazer bem feito o essencial à produtividade através de práticas simples como a rotação de culturas (colhe 62 sacas de soja por hectare!), aplicação de gesso, silício, torta de filtro e especial atenção à qualidade das mudas, sempre de primeiro corte e idade entre 10 e 12 meses. Com uma nova tecnologia de plantio mecanizado nas suas plantadoras DMB, reduziu em duas toneladas por hectare o uso de mudas no plantio. Em 10% de suas áreas de plantio já utiliza as mudas pré-brotadas (MPB).
 
Roberto Biasotto, da CASE IH, destacou que, se o potencial de produção das colhedoras atuais é de 150 a 180 t/horas efetivas, tem-se obtido apenas entre 30 a 80t/h, o que atesta a necessidade de se investir pesado no incremento deste rendimento. Neste sentido, a marca apresenta muitas novidades, tais como a Função Manobra, que automatiza este processo com o acionamento de um único comando, o uso de câmeras operacionais em pontos estratégicos que facilitam o monitoramento das principais funções pelo operador, a variação da velocidade do elevador de acordo com a carga de cana e outros 24 itens de produtividade.
 
O Eng. Marcelo Lopes, da John Deere, chamou atenção para o elevado e desejado nível de digitalização dos equipamentos. Se os modelos JD 3520 tinham 2 centros digitais de controle (ECUs) em 2010, os atuais modelos JD 570 já utilizam 10 ECUs, o que aumenta sua produtividade, a qualidade do material colhido, o monitoramento dos processos e o conforto dos operadores. Exemplos desta evolução são a adoção dos sinais STF nas funções de conectividade e telemetria, o GF Explorer fazendo o rastreamento avançado das máquinas, os monitores de colheita em tempo real JD Link, o Guide Fleet na gestão de frotas e outros relevantes itens tecnológicos.
 
O palestrante Eng. Luiz Carlos Dalben, da Agrícola Rio Claro, grande fornecedor da região de Lençóis Paulista, mostrou ao público algumas das tecnologias que ele adota para manter os altos níveis de produtividade de sua propriedade, condição de redução de custos que, segundo ele, são como unhas, devendo ser cortados sistemática, frequente e rotineiramente. Particularmente os custos de mão-de-obra, que representam 31% de seus custos totais de produção. Citou como algumas das mais recentes tecnologias adotadas em sua propriedade os drones para acompanhamento do canavial, GPS no piloto automático e Weed Seeker para o controle de plantas daninhas.
 
O Eng. Antenor Frasson Jr., diretor de vendas da DAF Caminhões, uma empresa holandesa de longa tradição na fabricação de equipamentos pesados, apresentou uma nova linha de caminhões em testes no país a ser lançada oficialmente em outubro na FENATRAN, em São Paulo, quando pretende já ter acumulado 750 mil quilômetros percorridos nestes testes. Trouxe para exposição ao público o modelo pesado XF105 de 510 CV para uso rodoviário fabricado em Ponta Grossa (PR), despertando grande interesse dos visitantes.
 
O Eng. Emerson Marcelo Crepaldi, da Solinftec, que já controla 3,8 milhões de hectares com seus sistemas de gestão, falou de sua proposta de adoção de filas únicas de transbordos, com efetiva redução do tempo ocioso dos motores em 58%. Anunciou que o sistema Solinftec já oferece suporte a estações meteorológicas automáticas que geram mapas temáticos de grande valia na gestão das operações agrícolas e está homologando os check point’s de controle de rota, que otimizam a logística de transporte e aumentam o apoio oferecido aos motoristas para aumento dos seus rendimentos.
 
O Ângelo Domingos Banchi, da Assiste, trouxe muitas informações que despertaram amplo interesse por sua atualidade e precisão. Deu grande ênfase ao que chamou de Engenharia de Peças, estratégia que vem desenvolvendo depois que constatou que apenas 321 peças, entre as mais de 20 mil que compõem uma colhedora de cana, concentram 81% dos custos de manutenção destas máquinas, devendo merecer, portanto, particular atenção na gestão de seu uso e estocagem. Trouxe também muitos indicadores atualizados do desempenho dos mais de 30 mil equipamentos controlados por seus sistemas operados por mais de 200 clientes.
 
O João Carlos Rocha, da Agroabdo, relatou ganhos de até 30% no rendimento operacional das colhedoras e de 10 a 30% a menos na quilometragem percorrida pelos transbordos obtidos com o sistema LOC (Logística Otimizada de Colheita), de sua autoria, que utiliza ferramentas de Pesquisa Operacional para determinar a alocação ótima de pátios e equipamentos orientando a estratégia mais eficaz para reduzir os custos do CTT.
 
O pesquisador do IAC André Cesar Vitti discorreu sobre os prós e contras do preparo profundo dos solos, ecoando a expectativa geral de que estas práticas resultem em  aumento da disponibilidade de água para as plantas, em prevenção do impedimento físico, químico e biológico à expansão dos sistemas radiculares, à prevenção da erosão, à adição de matéria orgânica em profundidade, fatores estes que, unidos, irão melhorar a eficiência da adubação, vigor da cultura e, consequentemente, a produtividade e longevidade dos canaviais.
 
O pesquisador Guilherme Martineli Sanches, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) falou dos mais recentes avanços nas tecnologias de agricultura de precisão e suas aplicações práticas na cultura da cana. Discorreu sobre interessantes aplicações na amostragem de solos, na aplicação de adubos a taxas variadas, à identificação de ambientes de produção direcionados à produção de cana-de-açúcar, ao Modelo CTBE de Aplicação de Nitrogênio a Taxas Variadas, que chegou a uma equação cujos fatores permitem definir a melhor taxa de aplicação de nitrogênio que atenda às reais necessidades da cultura de acordo com sua variabilidade espacial e nutricional.
 
Fora estas 19 interessantes palestras, o evento ainda contou com um proveitoso debate sobre colheita mecânica centrado em perguntas encaminhadas pelos participantes a serem respondidas e discutidas pelos representantes das 3 grandes fabricantes nacionais de colhedoras, a CASE, a VALTRA e a JOHN DEERE, mediado pelo Humberto Carrara, da Usina São João de Araras (SP).
 
Finalmente, fechando com chave de ouro o evento, houve a entrega solene dos prêmios do concurso organizado pelo Grupo IDEA em parceria com o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira que destacou, entre 200 participantes do Centro-Sul brasileiro, as unidades que alcançaram os maiores índices de produtividade na safra 2016/17. Em cada estado foram identificadas as campeãs, exceto no Mato Grosso onde, por conta de adversidades climáticas, não se conseguiu obter os índices mínimos competitivos. Neste certame sagrou-se campeã nacional a Usina Coruripe, de Iturama (MG), que alcançou índice 231 por conta de ter conseguido produzir 13,9 t/ha de açúcar contra uma média de 11,8 t/ha das demais competidoras.
 
Iniciativas como estas engrandecem e mantém atualizado este segmento de importância crucial para a retomada e manutenção do crescimento econômico brasileiro. Estão de parabéns, portanto, seus organizadores.