O agro indiano e a potencial demanda alimentar - Por Amélio Dall’Agnol

O agro indiano e a potencial demanda alimentar - Por Amélio Dall’Agnol

A ONU estima que a Índia terá 1,52 bilhões de habitantes em 2100 e o país precisará produzir mais alimentos para alimentar tamanho contingente ou importar. O Brasil já exporta carne de frango para a Índia, mas tem condições de exportar muito mais, não fosse a pressão dos produtores locais contra as importações

Segundo estimativas do Banco Mundial, a Índia conta com uma população de 1,35 bilhão de pessoas (2018), sendo pouco inferior à da China (1,39 bilhão), mas sinalizando com a possibilidade de ultrapassá-la até 2030, dado o atual ritmo de crescimento da sua população. A ONU estima que a Índia terá 1,52 bilhão de habitantes em 2100; 167 milhões a mais do que a população atual. O país precisará produzir mais alimentos para alimentar tamanho contingente ou importar.

O setor agrícola indiano gera apenas 16,5% do PIB nacional, embora concentre mais de 50% da força de trabalho do país, atuando em propriedades minúsculas (tamanho médio de 1,2 hectares), onde produzem principalmente trigo, arroz, chá, algodão, juta, cana de açúcar e pulses (grão de bico, ervilha, lentilha…). A predominância é de pequenas propriedades, mas também existem grandes plantações de chá, tabaco e algodão, produtos direcionados para a exportação: herança dos colonizadores ingleses.

Apesar da predominância da pequena agricultura familiar, a Índia é um grande produtor de alimentos, ficando atrás, apenas, da China, Estados Unidos e Brasil, pela ordem de grandeza. Mas, dada a sua enorme população, consome quase tudo o que produz, pouco sobrando para a exportação, em contraste com o Brasil, que produz muito e consome pouco, dado que sua população é seis vezes menor que a da Índia.

Dado o pequeno tamanho das propriedades rurais, a mecanização é pouca, a agroindustrialização é incipiente (processa menos de 10% do que produz) e a produção é comercializada nos mercados tradicionais, com pouca agregação de valor. A oferta é instável e, como consequência, há grande volatilidade nos preços. O atual governo (Narendra Modi) está empenhado em alterar essa realidade, modificando a política de subsídios (ineficiente), de controle de preços, de estoques públicos e de direitos de propriedade.

Dado o potencial de consumo alimentar de uma nação de 1,35 bilhões de pessoas e em crescimento, estima-se que dificilmente a Índia terá condições de atender – com produção própria – a demanda crescente por alimentos originados do aumento da população e, principalmente, do enriquecimento dessa gente, dado o ritmo de crescimento da economia do país dos últimos anos (cerca de 7% ao ano). Com mais dinheiro no bolso, os cidadãos indianos consumirão mais e por mais tempo, visto que com a melhoria das condições de vida, aumentará a sobrevida dos indianos.

É notório o crescimento da demanda por produtos agrícolas por parte da Índia; não apenas de alimentos, mas também de fibras e biocombustíveis. Parte desse crescimento virá do aumento da sua produtividade, com as medidas de modernização sendo implementadas pelo governo do país; com destaque para a mecanização e a agroindustrialização.

A Índia tem desejo de consolidar a proposta de adicionar 10% de etanol na gasolina e poderia fazê-lo produzindo o próprio etanol, pois é um grande produtor de cana de açúcar. Mas precisa dessa matéria prima para fins alimentares, então terá que importar. Boa oportunidade para o Brasil que foca este mercado com muito interesse, pois tem usinas ociosas e etanol sobrando.

Além do etanol, outra grande demanda futura da Índia estará na disponibilidade de proteínas animais para consumo de uma boa parcela da população que, por estar enriquecendo, está aderindo a uma dieta menos vegetariana. O Brasil já exporta carne de frango para a Índia, mas tem condições de exportar muito mais, não fosse a pressão dos produtores locais contra as importações.

 *Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

 

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