Vivemos um tempo em que as inovações são corriqueiras. Constantemente, somos informados de novas tecnologias, de usos alternativos às existentes, de aplicativos e sistemas informatizados mais modernos e seguros. Também temos acesso a produtos de consumo com pequenas melhorias, com mais recursos do que os existentes e outros totalmente diferentes. A velocidade da mudança ultrapassa nossa capacidade de nos mantermos atualizados.
Alguns autores denominam esta fase de “Revolução 4.0” ou “Quarta Revolução Industrial”, sendo caraterizada pela “ultra aceleração” na geração e difusão de novas tecnologias.
Esse processo evolutivo começou com a adoção da divisão do trabalho nas oficinas de artesanato, surgindo, assim, a manufatura. A gênese da “Evolução Industrial” foi com a adoção da máquina a vapor como força motriz, substituindo a tração animal, nas minas e fábricas têxteis da Inglaterra. Este processo continuou com a energia elétrica (térmica e hidro), motores a combustão, energia nuclear, chegando aos modernos motores elétricos, células de combustível, painéis solares e turbinas eólicas. Por outro lado, a incorporação de novas tecnologias permitiu controles de processo cada vez mais precisos e automatizados.
Assim, pode-se dividir o processo em 3 fases (Revoluções). A primeira foi a introdução da água e do vapor para movimentar as máquinas; na segunda, passou-se a usar energia elétrica, motores a combustão interna e a divisão do trabalho em unidades de produção cada vez maiores; na terceira, utilizou-se a tecnologia da automação da produção para controlar o funcionamento das fábricas.
A quarta fase (4.0) é baseada na utilização da internet das coisas, inteligência artificial, biotecnologia, entre outras inovações, que estão modificando o nosso dia a dia e a rotina dos negócios ao redor do mundo. Tudo está conectado via internet, máquinas pessoas, sensores, etc.
Há alguns anos, empresas multinacionais e alguns governos reconheceram o potencial “disruptivo” destas tecnologias e incorporaram o assunto nas suas agendas estratégicas. A Academia não ficou alheia a este movimento dos Estados e das Empresas. As pesquisas acadêmicas nas áreas de software, engenharia, inteligência artificial, educação e tecnologia da informação estão crescendo em vários países, com destaque para a Alemanha, Estados Unidos, China, Austrália e Coréia do Sul.
Deve-se destacar que estes esforços estão mudando a relação entre os agentes econômicos, com a adoção de parcerias no desenvolvimento de tecnologias, registro conjunto de patentes e colaboração para financiar startups que desenvolvam novas tecnologias.
Visando ter um panorama dos desafios e oportunidades das organizações nesta nova fase da economia mundial, a Deloitte realizou uma pesquisa que ressaltou que as empresas estão preocupadas com os impactos social e ambiental das novas tecnologias, via melhoramento de produtos e da satisfação dos clientes. Outro desafio é no campo estratégico, em que as empresas relatam que têm certa dificuldade em selecionar caminhos e tecnologias, o que leva à adoção daquelas que não impactam de forma significativa a produção e a estrutura organizacional no curto prazo.
O estudo também mostra as mudanças na capacitação dos colaboradores das empresas, indicando como estas estão privilegiando o treinamento e a capacitação ao invés de buscar novos talentos no mercado. A preocupação é preparar as pessoas para analisarem os bancos de dados disponíveis, de modo a gerir melhor o negócio, reduzindo ineficiências e melhorando o retorno das empresas.
E quanto ao Brasil?
A “ Revolução 4.0 “ ganhou destaque no Brasil nos últimos três anos, quando as empresas multinacionais anunciaram investimentos nesta área e as universidades e o Estado passaram a discutir os desafios dos setores produtivos na adoção de novas tecnologias. O termo startups se destacou na mídia nos últimos dois anos.
A pesquisa da Deloitte anteriormente citada mostra que os empresários brasileiros destacam como principais desafios para o avanço da “Revolução 4.0” a falta de profissionais preparados para o uso das tecnologias e o desconhecimento sobre todas as competências necessárias para a força de trabalho nesta nova era. Assim, o ponto de atenção mais relevante é a preparação das pessoas para atuarem neste novo ambiente produtivo e competitivo. Este desafio envolve as universidades, empresas, centros de tecnologia, escola técnicas e centros de formação como Senai, Sesi, Senar, entre outros.
Mas a área de maior destaque, ao meu ver, é a do agronegócio. A agricultura 4.0 está na vanguarda do processo no Brasil. A agricultura de precisão foi a primeira onda e a utilização de equipamentos georreferenciados. Nos últimos tempos, cresceu a oferta de sensoriamento remoto, internet das coisas, drones, softwares, etc.
A agricultura brasileira tem, em alguns segmentos, nível tecnológico semelhante aos de outros grandes produtores, como Estados Unidos e Europa, o que facilita a adoção da tecnologia desenvolvida no exterior e a adaptação da mesma ao contexto nacional, a denominada “tropicalização”.
O Brasil precisa melhorar a sua posição na pesquisa e na difusão destas tecnologias, na análise de impacto do uso na produtividade e na eficiência da agricultura e da pecuária. Além disto, precisamos discutir como reduzir o custo de aquisição e de implantação das novas técnicas no campo, ampliando a taxa de adoção pelos agricultores.
Só com capacitação de pessoas a adoção de tecnologia gerará resultados positivos e vamos colher os frutos da “Revolução 4.0” no Brasil e, especificamente, no agronegócio, tornando-o mais sustentável e eficiente.
*Carlos Eduardo de Freitas Vian é professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea.