O carbono e a agricultura brasileira - Por Amélio Dall’Agnol e Arnold Barbosa de Oliveira

O carbono e a agricultura brasileira - Por Amélio Dall’Agnol e Arnold Barbosa de Oliveira

O Plano ABC+ é uma recente reformulação do Plano ABC, para vigorar até 2030, com a proposta de seguir apoiando as atividades agrícolas de baixa emissão de carbono. Entre as atividades apoiadas estão o sistema plantio direto (SPD), a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), a recuperação de pastagens degradadas, a fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), o estabelecimento de florestas plantadas, e o tratamento de dejetos animais, entre outros.

O carbono é um elemento essencial para os seres vivos. Faz parte da estrutura das moléculas orgânicas e é encontrado nos seres vivos, na atmosfera, nos ambientes aquáticos, no solo e nas rochas. Na atmosfera, ele se apresenta, principalmente, na forma de gás carbônico (CO2), e secundariamente na forma de metano. Por ocorrer em maior quantidade, o CO2 é o mais importante gás causador do efeito estufa (GEE), que pode prejudicar a vida no planeta quando produzido em excesso, mas é responsável por garantir que a Terra permaneça aquecida o suficiente para permitir que haja vida nela. Sem o efeito estufa moderado, o planeta enfrentaria temperaturas muito baixas e muitos seres vivos não sobreviveriam. Além disso, o ciclo do carbono se confunde com o ciclo da vida no planeta, porque o carbono do CO2 que está na atmosfera é permanentemente incorporado às plantas e, através delas, aos outros seres vivos.

A maior parte do peso seco (massa) de um vegetal adulto é constituída do carbono proveniente do CO2 capturado da atmosfera. O CO2 é lançado na atmosfera pela respiração e decomposição dos seres vivos, queima de combustíveis fósseis, incêndios florestais e erupções vulcânicas. Da atmosfera esse gás é capturado pelas plantas, algas e algumas espécies de microrganismos, que o transformam em tecidos orgânicos por meio da fotossíntese, reação química que absorve o CO2 e libera o O2, utilizando a energia solar, além da quimiossíntese a partir de outras fontes de energia não luminosa.

Na Grécia Antiga, as pessoas acreditavam que as plantas obtinham seu alimento a partir do solo. Mas cientistas ao longo dos séculos provaram que, embora as plantas obtenham nutrientes do solo, estes constituem parte muito pequena da biomassa de um vegetal adulto.

No século XVII, o médico belga Jan Baptist Van Helmont chegou à uma importante conclusão. Após cultivar uma planta de salgueiro em um vaso de cerâmica com solo, observou que, ao final de cinco anos, a planta aumentou em muitas vezes o peso inicial, mas a quantidade de solo no vaso permanecia praticamente a mesma. Essa constatação o levou a intuir que o tecido do vegetal não havia se formado à custa do solo do vaso, mas do carbono sequestrado do ar atmosférico.

Atualmente vivemos um dilema no Planeta: apesar de o CO2 ser essencial para o desenvolvimento dos vegetais, a sociedade está exagerando na sua produção. Esse exagero tem ocorrido principalmente com a queima de carvão mineral, gás natural, diesel, gasolina, madeira, e decomposição de restos vegetais provocada por mudança no uso da terra. Esses processos respondem pela maior parte dos GEEs, que a maioria dos cientistas acredita serem responsáveis pelo aquecimento excessivo da atmosfera terrestre. Assim sendo, há riscos de transformar a atmosfera numa espécie de estufa gigante e inviabilizar a vida em muitas regiões da Terra, além de promover o degelo das calotas polares e causar inundações diluvianas.

A capacidade de reter o calor atmosférico é muito diferente entre os GEEs. O CH4 e o N2O, por exemplo, são, respectivamente, 28 e 298 vezes mais potentes na capacidade de reter a radiação solar e causar o efeito estufa, do que o CO2. Felizmente eles ocorrem em quantidades muito menores, mas podem ter suas emissões aumentadas se não forem tomadas medidas adequadas de manejo do solo, adubações, resíduos orgânicos no ambiente, dentre outras.

Apesar de muito criticada pelo desmatamento, a agricultura do Brasil não merece tantas críticas que recebe dos países desenvolvidos, pois o país tem conduzido políticas públicas muito favoráveis ao estabelecimento de uma agricultura sustentável. Exemplos disso são os Planos ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e a sua segunda fase, o Plano ABC+. O Plano ABC, em dez anos de vigência (2011-2020), promoveu a adoção de práticas sustentáveis em 52 milhões de hectares no país. O Plano ABC+ (2020-2030) traz as bases conceituais e os objetivos estratégicos para a promoção da agricultura de baixa emissão de carbono para a próxima década. Além desses esforços evidentes, as lideranças ruralistas sabem que o equilíbrio hídrico exercido pela floresta amazônica mantém as regiões agrícolas consolidadas, úmidas e agricultáveis devido à maior estabilidade do regime hídrico.

Infelizmente, as práticas rurais, mineradoras e extrativistas antiecológicas de uma minoria abrem brechas para o ataque – interno e externo – contra o agro brasileiro, além de colocar em risco as regiões agrícolas consolidadas do país, por falta de chuva. Lamentável! Modernos e competentes agricultores brasileiros que investem em tecnologias sustentáveis e levam o país a disputar a liderança mundial do agronegócio são confundidos com os criminosos que praticam o desmatamento ilegal da Amazônia e outras regiões, dos quais são as maiores vítimas. Nada é tão inovador, na agenda global do clima, quanto os Planos ABC e ABC+. Eles traçam a rota do futuro agroambiental do país e dão uma lição de sustentabilidade ao resto do mundo.

O Plano ABC+ é uma recente reformulação do Plano ABC, para viger até 2030, com a proposta de seguir apoiando as atividades agrícolas de baixa emissão de carbono. Entre as atividades apoiadas estão o sistema plantio direto (SPD), a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), a recuperação de pastagens degradadas, a fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), o estabelecimento de florestas plantadas, e o tratamento de dejetos animais, entre outros.

Estas ações permitiram e, ainda permitem, aumentar a produtividade em todos os tipos de exploração agropecuária, produzindo mais, nos espaços que já cultivamos e dispensando a demanda de novas áreas para produção. Além disso, e ainda se abre oportunidade ao Brasil de faturar mais com a comercialização de créditos de carbono, do que dividendos com a produção agrícola. Já há analistas que se referem ao carbono imobilizado, como a terceira safra anual do agronegócio nacional.

O Brasil tem condições de assumir a liderança mundial nessa nova economia de créditos de carbono (títulos verdes ou green bonds), estimados em aproximadamente 1 trilhão de dólares e creditar-se para ficar com boa parte desse montante. A Embrapa Soja lançou no dia 16 de abril de 2021, o programa Soja Baixo Carbono (SBC), para disponibilizar protocolos e parâmetros científicos de certificação de soja produzida com baixa emissão de carbono. O ativo deverá ser agregado ao principal produto agrícola nacional, entre outras iniciativas com o mesmo objetivo.

Mais informações sobre o programa SBC estão disponíveis no link: https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/60935788/programa-soja-baixo-carbono-pretende-valorizar-a-sustentabilidade-na-producao-de-soja-no-brasil

*Amélio Dall’Agnol e Arnold Barbosa de Oliveira, pesquisadores da Embrapa Soja

 

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