Onde buscar médias de produtividade agrícola com três dígitos – Por Dib Nunes Jr.
O setor canavieiro mesmo após seis anos de intensa crise de preços que o fragilizou, buscou neste período alternativas para melhorar os seus resultados.
Quando o setor mergulhou na crise, muitas saídas foram tentadas. Inicialmente ações administrativas buscaram enxugar a área de maiores gastos, o vilão da história, a área agrícola das empresas que chegam a consumir cerca de 70% dos recursos disponíveis numa agroindústria produtora de etanol e açúcar.
Para qualquer novo gestor que chega ao setor, principalmente aqueles que vem de outros setores da economia, a área agrícola se torna o primeiro alvo dos ataques, sejam cortes de orçamento, reengenharia de processos, terceirização da produção e de serviços, implantação de programas de qualidade total, choques de gestão, auditorias frequentes, gestão por KPIs etc. etc. Tudo isto foi tentado e os custos só foram subindo. Poucos se deram conta que para reduzir custos é necessário melhorar a produtividade.
Não tardou a começarem a perceber que “o buraco era mais em baixo” como se diz na gíria popular, os grandes problemas estavam na transição pela qual o setor passou e ainda passa devido a profundas alterações em seus processos produtivos, principalmente devido às novas práticas de mecanização do plantio e colheita.
De nada adianta jogar toda a culpa no mercado nestes anos muito ruins de preços ou nas desastrosas intervenções de um governo cego, incompetente e voltado para a ideologia comunista, pois temos nossa parcela de responsabilidade na crise toda.
É como uma espiral descendente, os preços ficam congelados que reduz a margem das empresas, que por sua vez buscam formas de produzir mais barato a qualquer custo e assim começam a cortar na carne, primeiro pelas áreas que geram informação e conhecimento para evolução da produtividade, que nos últimos anos fizeram avançar novas tecnologias e processos mais eficazes. A meta agora é plantar pouco, é verdade, por que não há dinheiro e colher o máximo de cana possível, de qualquer jeito, com ou sem umidade, por que as máquinas têm que render ao máximo e as industrias tem que moer para baixar os custos. Por conta desta grave situação é que a mecanização da colheita se tornou a grande responsável pela depauperação dos canaviais, quando mal operadas, compactam, arrancam soqueiras, aumentam as perdas e levam uma quantidade absurda de impurezas às fabricas, comprometendo os processos de produção de açúcar e etanol.
A verdade é que quando um setor entra nesta espiral descendente, outros problemas se somam, uns como consequência de abandono pela qualidade de serviços, outros pelo corte de atividades essenciais como a proteção fitossanitária dos canaviais, cultivo de variedades ultrapassadas, cortes sem critério na adubação, falta de treinamento de operadores etc.
Quando a água desce sem controle ladeira à baixo, o resultado é erosão. Sim erosão ou corrosão, como quiserem, há perdas irremediáveis no processo, muitas vezes causadas de modo inconsciente e também inconsequente quando não são percebidas ou não são auditadas. As empresas agrícolas perdem muito ao não cuidar da qualidade dos processos produtivos, movidos principalmente por dificuldades financeiras que alimentam o dia a dia de cada um. Assim cria-se uma mentalidade e procedimentos em que a ordem é moer cana para fazer produto e vender rápido para manter a empresa rodando. Afinal não pode faltar dinheiro para pagar a folha e nem para comprar óleo diesel, então, vende-se o almoço para comprar o jantar.
Com isso os problemas foram se agravando, hoje temos novas pragas, novas espécies de plantas daninhas extremamente agressivas, canaviais com mais de seis cortes em franco declínio, áreas extremamente falhadas onde se aduba, aplica herbicida e se paga o aluguel da terra, mas não tem cana, é só desperdício. Novas doenças surgiram em variedades importantes que ainda estão em cultivo produzindo metade do que produziam antes e as empresas que reduziram o seu ritmo de reforma por falta de caixa, não tem condições de fazer a sua substituição, entre muitos outros pontos de perdas.
Por falar em perdas, atualmente sabe-se que no mínimo 10% da cana que entregue nas usinas na verdade é impureza vegetal. Isto custa caro pois onera todo o sistema produtivo desde o transporte até o processamento industrial. As perdas de cana na lavoura dobraram, sendo que índices de 3,5% são aceitos como normais. A antecipação de corte e o manejo equivocado de colheita desperdiça cerca de 8% do teor de sacarose. Com tudo isto, com todos estes procedimentos equivocados o setor afundou em problemas, pois com a crise gerada pelo governo, a situação ficou ainda pior.
Como em períodos de crise todos saem em busca de saídas extremas, o setor buscou alternativas tecnológicas para sair do buraco e foi por conta disto que surgiram alternativas para baixar custos e melhorar a produtividade, como o espaçamento duplo, o preparo profundo do solo, o plantio mecanizado, a aceleração das máquinas na colheita mecanizada chegando a trabalhar com 7 a 8 km por hora, pisoteio em qualquer ponto da lavoura, como se a cana não fosse um ser vivo e pudesse aguentar pesos de cerca de 20 toneladas sobre suas raízes. Isto sem falar na negligência na manutenção dos elementos cortantes e da redução da velocidade dos extratores que fazem a limpeza da cana. Tudo em nome da redução de custos, afinal na crise vale tudo. Em geral não se faz qualquer tipo de análise de perdas e não se mudam procedimentos operacionais porque não há dinheiro para renovação da frota velha e dispendiosa além de ter colhedoras em disponibilidade para que as mesmas possam trabalhar dentro das especificações do fabricante que desenvolveu equipamentos para um tipo de trabalho menos agressivo. O treinamento intensivo deu lugar ao eventual e os prêmios por produção na colheita continuam a preponderar sem premiar pela qualidade da matéria prima.
Como superar tudo isto?
Primeiro passo é realizar um amplo diagnóstico de pontos de perdas para depois priorizar os mais importantes e adotar medidas mitigatórias, que passam obrigatoriamente pela mudança de procedimentos e alguns investimentos primordiais.
Programas de recuperação como o “Mais Cana” e o “Mais Sacarose” do grupo IDEA tem apresentado alternativas para realizar estas mudanças tão necessárias para recuperação da produtividade e reduzir custos de produção. O mais interessante disto tudo é que as empresas sabem onde estão seus principais furos, querem melhorar, mas demonstram uma enorme inércia para realizar as mudanças. O principal motivo é mesmo o financeiro. Ainda que as empresas tenham grandes dificuldades, muitos avanços podem ser conseguidos a custos muito baixos, pois são apenas mudanças de procedimentos.
Podemos fazer a nossa parte e atingir produtividades acima de 100 t/ha, mas primeiro de tudo temos que acreditar que os ganhos que necessitamos podem estar nas nossas perdas.
Dib Nunes Jr. – Engenheiro Agrônomo – Diretor do Grupo IDEA