Para o bem ou para o mal - Por Arnaldo Luiz Correa

Para o bem ou para o mal - Por Arnaldo Luiz Correa

A semana foi devastadora para o mercado futuro de açúcar. O vencimento março de 2017, na bolsa de NY, encerrou a sexta com uma queda de quase 100 pontos em relação à semana anterior. A pressão também ocorreu nos meses de vencimento que refletem a safra 2017/2018 no Centro-Sul: o maio/2017 caiu 69 pontos enquanto o março/2018 caiu apenas 7 pontos. A safra seguinte fechou com cotações mais altas. A pressão, como se vê, concentra-se nos vencimentos mais curtos.
Quem está no mercado de commodities há muitos anos, como este escriba, já não se espanta tanto com as oscilações assustadoras dos mercados, quase sempre deixando os participantes boquiabertos com a magnitude da volatilidade. Para o bem ou para o mal, diga-se de passagem. Quando em abril, no comentário semanal intitulado “Dois Mundos Diferentes”, dissemos que dado o quadro fundamentalista do açúcar, era razoável pensar que o março chegasse a 18 centavos de dólar por libra-peso no último trimestre do ano”, muitos leitores duvidaram dessa possibilidade, pois entendiam que os preços do açúcar estavam remuneradores. Nessa ocasião, NY negociava a 15.26 centavos de dólar por libra-peso e o déficit mundial de açúcar já estava na pauta.
As oscilações de preços em mercados líquidos como é o caso do açúcar exageram sempre. O movimento de manada protagonizado pelos fundos cria valores artificialmente altos ou baixos dependendo de como estão posicionados naquele mercado ou da velocidade com que liquidam essas posições. Por diversas vezes alertamos aqui a dicotomia existente entre o preço negociado no mercado futuro alimentado pelos fundos que compravam freneticamente contatos de açúcar e o preço negociado num mercado físico lânguido, refletido nos descontos incompatíveis com a visão propiciada pelos futuros. E abundaram aqui as recomendações para que as usinas fixassem preços do açúcar na exportação aos extraordinários níveis em reais por tonelada que estavam sendo negociados no mercado (acima de R$ 1,500 por tonelada).
Essa exuberância parece ter chegado ao fim. O açúcar precisará de notícias fundamentalistas alvissareiras se quiser ver revertido o humor baixista que tomou forma depois de uma desvalorização de 600 pontos desde o início de outubro.
 
Nesse momento que o mercado negociou a máxima de 23.90 centavos de dólar por libra-peso, no comentário daquela semana “Melhor Prevenir”, alertamos para o fato de que o “nosso raciocínio se contamina [com a ilusão de preços em constante alta] e desenvolve uma rígida convicção interior de que os preços subirão indefinidamente apesar das evidências contrárias que cercam o ambiente. É quase uma patologia essa obsessão por preços continuamente altos”. Citamos como exemplo o que acontecera em duas ocasiões anteriores: “a primeira em janeiro de 2010 quando o ágio chegou acima de 105% evaporando dois meses depois; a segunda, em fevereiro de 2011 quando o ágio chegou acima de 90% evaporando três meses depois. Ou seja, os ágios evaporam. Nessa época, ouvi gente dizer que só fixaria preços se batesse R$ 2,000 por tonelada.
 
São extremos como esse que “calibram” o mercado. Uns dizendo que só fixariam vendas se o preço batesse R$ 2,000 por tonelada, outros – no caso um grande comprador – que em maio passado acreditava que compraria açúcar a 11 centavos de dólar por libra-peso. Que lição podemos tomar para não mais repetir esses deslizes que provocam imensas perdas para as usinas que não fixaram preços (tendo condições de fazê-lo)? Que lição aprendemos por não fixar em NY a parte correspondente à cana de terceiros por causa do bendito Consecana que – nessas situações especificas – prejudica igualmente a usina e o fornecedor de cana?
O que pode mudar o humor agora? Alguns pontos importantes que ainda não estão na percepção geral dos participantes do mercado: uma eventual quebra de safra nos níveis de 540-545 milhões de toneladas de cana (uma possibilidade ainda pequena demais), o petróleo a 75 dólares por barril (o analista Samuel Levy vê essa possibilidade caso os preços ultrapassem uma resistência de 62.50 dólares por barril, mas ainda está muito longe); o real se valorizando em relação ao dólar (com o quadro político atual, está difícil acreditar em dólar abaixo dos R$ 3,2000); afrouxamento regulatório dos derivativos (Dodd-Frank) no governo Trump, aumentando o fluxo de dinheiro para os ativos de risco (será?). Enfim, vale mais a pena não perder o foco nos valores em reais por tonelada que se pretende fazer. A compra de uma put (opção de venda) e venda de uma call (opção de compra) não deveria ser descartada.
Para os consumidores industriais, vale também ficar de olho nas oportunidades de compra tomando, se for o caso, a posição inversa, ou seja, a venda de uma put (opção de venda) e a compra de uma call (opção de compra).
 
Falando nisso, o volume de calls negociado na quinta-feira foi extraordinário: 45,000 calls contra 17,000 puts, ou seja, o mercado está mostrando que essas vendas pesaram um pouco, como sempre exagerou na queda, e busca oportunidades de ganhos caso ele volte a subir. Além disso, 5,000 call spreads de 18.00/21.00 também foram negociados, um forte argumento (e trade) de quem aposta que o mercado deve ficar nesse intervalo de preços